Henrique VII de Inglaterra

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Henrique VII Tudor (28 de Janeiro, 1457 - 21 de Abril, 1509) foi o primeiro Rei de Inglaterra da casa de Tudor, reinando entre 1485 e 1509. A sua subida ao poder e o seu casamento com Isabel de York colocaram um fim na Guerra das Rosas e consequente instabilidade política.Morreu em 21 de abril de 1509 no seu palácio de Richmond, no Surrey; foi sepultado na capela denominada «de Henrique VII» da abadia de Westminster.

[editar] Primeiros anos

Nasceu no castelo de Pembroke, no País de Gales, talvez em 26 de julho de 1455, talvez em 28 de janeiro de 1457. Foi filho póstumo de Edmundo Tudor, Conde de Richmond, de quem herdou o título, e de Margarida Beaufort, trineta de Eduardo III de Inglaterra por via de seu filho João de Gant ou João de Ghent, João de Gand, segundo o idioma adotado - trata-se da cidade de Gand, em francês, ou Ghent, em flamengo, na atual Bélgica.

[editar] Apreciação

Chamado Henrique de Richmond ou Henrique Tudor, foi Conde ou Earl Richmond. O pai era galês da linha real galesa. A herança que importava no século XVI era a da mãe, descendente de Eduardo III por seu terceiro filho, João de Gand ou John of Gaunt, e sua amante Catarina Swynford. Os filhos nascidos antes do casamento de ambos foram legitimados, mas impedidos de sucessão.

Não foi educado como rei nem pensando em um tal destino, e antes da morte de seus primos não ousaria pedir o trono. Somente aos 27 anos percebeu que poderia ser rei e ganhou a coroa na batalha. Pela mãe, era como candidato ao trono, na confusão política da Guerra das Duas Rosas. Por isso mesmo cresceu no exílio na Bretanha, a salvo da Casa de York que o via como ameaça. Durante o reinado do popular Eduardo IV, a facção de Lancaster à qual Henrique pertencia pouco pode fazer para reaver o trono. A restauração de seu meio-tio Henrique VI foi curta. Em maio de 1471, foi capturado, depois da batalha de Barnet, e não demorou muito a ser morto.

Parecia o momento ideal para Henrique Tudor pedir o trono. A linha masculina da dinastia lancastriana fora extinta. Os Beaufort tinham direito razoável, embora não indisputável, a serem os representantes da família no trono. E na linha Beaufort, Margarida, mãe de Henrique, era a única herdeira. Mas uma mulher pedir o trono era uma situação desconhecida desde o século XII. Descartando-a, ignorando a recusa feita por Henrique IV da elegibiidade dos Beaufort ao trono, o herdeiro óbvio era Henrique. Seu tio Jasper Tudor o sabia, e estava consciente do perigo que seria manter o adolescente de 14 anos na Inglaterra, de modo que o levou para a Bretanha em 1471, depois da batalha de Twekesbury, para frustrar as tentativas yorkistas de o matar.

O golpe que levou seu irmão o Duque de Gloucester ao trono como Ricardo III, fez renascer o conflito. Em 1483, o irmão do rei yorkista Eduardo IV usurpou o trono do menino Eduardo V, seu sobrinho, e se tornou rei como Ricardo III. Jasper Tudor obteve o apoio da Bretanha para seus planos de invasão (era um ducado independente da coroa francesa). Um levante inglês teria lugar, coincidindo com o desembarque de tropa bretã. Os céus jogaram contra: termpestades no canal dividiram os navios, separando aquele em que viajava Henrique Tudor. Tempo adverso na Inglaterra enfraqueceu as forças do desembarque. Henrique voltou relutante para a Bretanha.

Ricardo III, sabendo ter um rival prestes a montar outra invasão, persuadiu o governo bretão a entregar-lhe o refugiado. Henrique soube do plano a tempo de poder fugir, escapando para a França. Como passara a ser apoiado pelos lancastrianos e alguns yorkistas descontentes, convenceu o rei da França a patrocinar outra invasão, e em 7 de agosto de 1485, desembarcou em seu Gales natal e marchou para o leste, reunindo homens sob sua bandeira. Havia recrutado tropas, especialmente em Gales, de onde a sua família provinha e onde podia esperar apoio. O assunto foi decidido no campo de batalha, em Bosworth Field, no Leicestershire, em 22 de agosto. Henrique e seus homens se defrontaram com as tropas de Ricardo III e Henrique obteve a coroa. De líder da oposição a Ricardo III e candidato ao trono pela casa de Lancaster se tornara rei.

Em 1º de agosto de 1485 desembarcou em Milford Haven; morto Ricardo III em Bosworth Field, vitorioso seu exército, Henrique foi proclamado Rei no próprio campo de batalha, em 22 de agosto de 1485 e o Parlamento concordou com sua pretensão. A Batalha de Bosworth Field pôs fim à Guerra das Rosas. Declarando-se rei no próprio dia da batalha, tecnicamente podia acusar e condenar todos os que lutaram contra ele por traição. Curiosamente, Henrique VII não exerceu este direito na plenitude e deixou viver alguns opositores.

[editar] Reinado

Não fora treinado desde criança como estadista, militar ou diplomata, o que torna seu reinado mais notável. Foi coroado em 30 de outubro de 1485 na abadia de Westminster: era rei da Inglaterra e senhor da Irlanda, o primeiro Tudor, o início de um período de unidade nacional, seguindo-se às lutas do século XV. Teve uma política de restaurar paz e prosperidade. O fato de se ter tornado rei parece milagre pois seu direito à coroa era tènue. Para curar as feridas entre a nobreza de Inglaterra, prometeu ainda casar com Isabel de York, a herdeira da família inimiga, o que aconteceu em 1486. Henrique VII não era no entanto um rei permissivo e grande parte do sucesso do seu reinado, relativamente pacífico, deve-se ao facto de ter mantido os seus nobres sob apertada vigilância.

Henrique pode ter pensado que se tornara rei, e convocou o Parlamento como soberano. Fez-se coroar na abadia de Westminster uma semana antes da data em que o Parlamento se reuniu, em 7 de novembro de 1485. Não deixava assim ao Parlamento possibilidade de dizer que era rei por consentimento, por terem concordado com seu direito de conquista ou descendência. Tudo que se pediu aos membros foi aprovar um breve estatuto que « ordenava, estabelecia e promulgava» que a coroa "seja, fique e permaneça na mais real pessoa de nosso novo senhor soberano, o senhor Henrique VII e nos herdeiros de seu corpo". O que não deixava seu título aberto a questionamento legal e foi ainda mais solidificado por seu casamento com a primogênita de Eduardo IV, Elizabeth ou Isabel de York.

Com a coroa segura, dedicou-se à reconstrução do reino, devastado pela guerra civil. Não fez nenhuma tentativa de reaver as possesões inglesas em França (como o Ducado da Aquitânia), perdidas nos episódios finais da guerra dos cem anos. Em vez disso investiu o seu tempo na reestruturação dos impostos, aumentando a carga fiscal da nobreza, e da economia em geral. Uma das medidas foi subsidiar a construção de uma frota comercial para desenvolver o comércio com o continente. A marinha provou ser uma boa aposta, como se verificou no reinado da sua neta Isabel.

Embora o rei recorresse ao Parlamento para pagar suas guerras, o fato era considerado despesa razoável (exceto pelos homens da Cornualha, que se revoltaram por ter que pagar por guerras na fronteira escocesa). Mas o rei jamais considerou necessário reembolsar ao povo o dinheiro que permanecia com ele em tempos de paz e obtinha de seus antigos inimigos.

Não fez inovações na política financeira, havendo certa continuidade em seus métodos de administração. O próprio pessoal do Conselho e dos departamentos de Estado eram antigos funcionários. Reis anteriores sempre tinham tentado manter equilíbrio no Conselho entre os nobres e os funcionários profissionais; somente em períodos de fracos governantes os magnatas tiveram papel predominante. A velha teoria de que Henrique VII foi o primeiro rei a usar « homens novos» não é verdadeira, mas reflete de certo modo as capacidades e o intelecto de tais « homens novos» como o cardeal Morton e o Bispo Fox de Winchester. Seu governo foi «de talentos», embora os grandes nobres tenham tido boa parte e não se queixassem de exclusão. A Guerra das Rosas, felizmente para o rei, reduzira o número dos aristocratas e aqueles verdadeiramente poderosos haviam desaparecido. O rei, porém, não arriscou, e com a usual antecipação, restringiu a tendência dos nobres a terem exércitos privados, em 1487 promulgou uma lei contra "libré e manutenção" e em 1504 codificou os estatutos contra "retaining", para evitar que os nobres mantivessem forças independentes. O principal foi ter conseguido fazer cumprir tais leis, largamente pela vigilância ativa de juizes ou Justices of the Peace. Tais homens foram o sustentáculo da Coroa na província, a prova visível da força do governo central.

A Inglaterra não foi restaurada rapidamente. A Guerra ainda não terminara, mesmo depois de morto Ricardo III, pois havia partidários ambiciosos da Casa de York. Em teoria, podiam ser ignorados. Henrique casou com Isabel de York (que morreria em fevereiro de 1503) e casou a maior parte das irmãs dela com seus próprios partidários. Dos primos, Eduardo, conde ou Earl de Warwick, uma criança, estava guardada na Torre e os irmãos de la Pole tinham-se submetido a Henrique depois de Bosworth. A ameaça principal vinha de impostores: em 1487 esmagou uma revolta do Conde de Lincoln em favor de Lambert Simnel, que dizia ser um dos principes da Torre. Lambert, filho de dez anos de um comerciante de Oxford foi treinado por um sacerdote ambicioso para personificar o conde de Warwick, filho de Clarence, e chegaria a ser coroado como 'Edward VI' na catedral de Dublin. Derrotados os conspiradores em Stoke em 16 de junho (quando morreu o conde de Lincoln) Henrique decidiu que o ridículo era a melhor arma e fez do menino ajudante nas cozinhas reais, promovendo-o mais tarde a falcoeiro: morreria aos 50 anos - recorde para uma pessoa considerada traidor aos Tudors.

Em 1492, um menino flamengo, Perkin Warbeck, dizia ser um dos príncipes da Torre. Ameaça mais séria e longa, pois foi reconhecido como Ricardo, Duque de York, por vários soberanos europeus, e sua existência dominou a política externa de Henrique que o mandou executar em 1499. Capturado em 1497, teria talvez destino semelhante ao de Simnel se não tivesse tentado escapar da Torre mas, inocente ou não, foi decapitado e sua identidade permanece misteriosa. Não foi o final das conspirações da Rosa Branca, pois diversos irmãos de la Pole viviam em liberdade e a irmã de Warwick, Margarida Plantageneta, condessa de Salisbury, viveria bastante ainda para perturbar o reinado de Henrique VIII. Mas nos tempos do pai, os pretendentes acabaram.

Teria notado que as duas rebeliões haviam nascido na Irlanda e atribuía o fato à independência excessiva concedida pelos anteriores reis yorkistas. Sabiamente, mostrou primeiro o punho de ferro e proibiu aos irlandeses manter Parlamento próprio; depois, para evitar uma rebelião contra tais medidas duras, relaxou, confiando na fidelidade de seu novo vice, o popular Conde de Kildare, antigo rebelde que se tornara leal, para manter os irlandeses quietos. Mas como tantos outros monarcas antes e depois dele, nunca pode confiar em lealdade além dos arredores de Dublin e dos poucos portos que viviam do comércio inglês, embora não estivesse disposto a arriscar uma invasão para obter obediência total.

Reorganizou em 1487 a Star Chamber , um dos diversos meios pelos quais reforçou o poder real sobre os nobres.

[editar] Política externa

Henrique invadiu a França em 1491, mas pelo Tratado de Etaples concordou retirar as tropas em troca de considerável importância.

Preocupava-o sempre o reconhecimento de sua coroa e a segurança do reino. Gostou de ter como aliado o Imperador Maximiliano de Áustria e os reis espanhóis em 1489 em guerra contra a França, embora mais tarde ficasse provado que somente Henrique desejasse seriamente tal guerra. No Tratado de Medina del Campo, Fernando e Isabel prometeram a filha, Catarina ao filho de Henrique, Artur, e seu casamento em 1501 foi um triunfo para Henrique. Depois da morte de Artur, Catarina tornou-se na mulher do segundo filho Henrique, Duque de York. Esta união, em particular o divórcio com que terminou, iria trazer consequências dramáticas para a história da Europa. O fato teria as consequências mais vastas de todos seus atos! A anulação do casamento de Henrique VIII e Catalina deu ímpeto à separação da Igreja da Inglaterra do corpo do catolicismo romano. O casamento de Margarida Tudor com Jaime IV teria futuras consequências importantes, pois ligava as duas famílias reais e levaria os Stuart ao trono quando da extinção dos Tudor.

Procurou restaurar as relações com França, e Escócia. Era outro problema, a da Escócia. A guerra antiga entre os dois países ameaçava os Tudors, sobretudo depois que Jaime IV apoiou Perkin Warbeck. Embora Henrique evitasse a guerra e apesar de uma trégua formal em 1497, incursões fronteiriças continuaram sem controle de ambos os lados. Encontrou-se uma solução em 1499 quando Henrique abriu negociações para casar sua filha Margarida com Jaime IV como prova de seu desejo de « paz perpétua». O acordo de 1502 fez a guerra cessar alguns anos, e a elevação de sua filha ao trono era um reconhecimento valioso da permanência de sua dinastia.

A Inglaterra só podia alegrar-se com o tato diplomático de seu rei. Ele próprio lidava com os assuntos comerciais e diplomáticos, sempre juntos, assegurando a prosperidade do país. Fez um vantajoso tratado com a Dinamarca sobre direitos de pesca e um acordo com Florença para a venda da lã inglesa na cidade, e em 1496 foi capaz de conseguir excelentes condições do arquiduque Filipe de Habsburgo, o Belo, para o comércio com os Países Baixos. Em negócios pessoais de alumínio, o rei teve lucro de 1505-1506 de uns 15,000. Pode-se deduzir que os êxitos da exploração dos irmãos Cabot e semelhantes, que resultaram na descoberta dos ricos campos pesqueiros do Atlântico Norte, não aconteceram por coincidência, pois o rei encorajava atividades tais, sempre com olho em novas fontes de riqueza.

[editar] Conclusão

No início do século XVI, o prestígio do rei na Europa e sua segurança interna estavam assegurados. Tinha sobrevivivo a ambições de pretendentes ao trono, sem muito sangue nas mãos. Tinha um governo central forte, era geralmente obedecido, e tinha sucesso nas guerras, embora fosse longe de ser um herói aos olhos do povo. A Inglaterra era mais próspera do que nunca e cada dia mais rica, culturalmente, com a chegada das artes da Renascença.

Apesar de tudo, não foi um rei atraente para seu povo. Não tinha o carisma dos Tudor posteriores. Polydore Vergil o descreveu em seu The Anglia Historia, 1485-1537. Nem, apesar de seus êxitos, teve boa fama no seu século, e um dos seus primeiros biógrafos, Francis Bacon, o descrevia como avarento, e apenas atualmente tal opinião foi desmentida.

Na verdade, Henrique teve uma corte esplêndida e brilhante como os reis anteriores. Nem todos os gastos eram apenas para demonstrar, pois suas contas particulares (meticulosas e de mão própria) revelam que era generoso em seus pagamentos a um coro infantil, por exemplo, que o alegrara, e para um harpista galês, que gastava muito em seu zoo privado, ou nas delicadezas de sua mesa.

Apesar disso, a corte era um pouco sombria, sobretudo nos últimos anos. Perdeu o primogênito em abril de 1502, e enviuvou em fevereiro de 1503. Apesar de ter casado por razões políticas, parece ter sido um bom marido e foi feliz em ter de Isabel de York sete filhos, dos quais dois varões e duas filhas ultrapassaram a infância. Fez diversas tentativas para casar de novo, e casar bem, com algumas princesas prestigiosas em vista. Complicações internacionais impediram o casamento.

Toda sua polítixa exterior final, aliás, não parece ter tido sucesso. Nunca fora muito ambicioso em política externa, aliás, sem desejar ser um conquistador ou um árbitro internacional. Quis apenas ver sua dinastia reconhecida, mostrar a seu povo que contava entre os monarcas europeus. Foi exitoso, em tais objetivos limitados. Seu grande sucesso foi o fato de que o filho, Henrique VIII, o sucedeu pacificamente sem rival. Menos de 25 antes, Henrique Tudor tinha arriscado tudo em Bosworth Field… Como diria Francis Bacon um século depois, «What he minded, he compassed».

Pode-se discutir se foi ou não um grande rei, mas foi um rei de sucesso. Dos diversos objetivos, realizou muitos. Estabeleceu uma dinastia nova depois de 30 anos de lutas, reforçou o sistema judicial, o tesouro, defendeu seu trono de pretendentes. A monarquia transmitida ao filho estava segura e decerto rica.

[editar] Resumo de sua obra

Rebeliões de Yorkistas, pretendentes ao trono como Lambert Simnel e Perkin Warbeck. Política mercantilista e pacifica, concluiu paz com a França mediante uma indenização de 149 mil libras. Com a imolação da aristocracia feudal na guerra, a matriz do poder mudara do castelo para a bolsa e subsidios à construção naval deram ao Rei uma marinha mercante, facilmente convertida em navios de guerra. Cimentou no casamento do filho a aliança com a Espanha, anulando aspirações da França, e casou a filha na Escócia. Morreu em 1509 e está sepultado na Abadia de Westminster em Londres.

[editar] Casamento & Descendência

Teve filhos de lady Isabel de York ou Elizabeth Plantageneta, com quem casou em 18 de janeiro de 1486 na abadia de Westminster. Ela nascera no palácio de Westminster em 11 de fevereiro de 1465 e morreu em 11 de fevereiro de 1503 na Torre de Londres, estando sepultada em Westminster. Era primogênita e herdeira de Eduardo VI e Elizabeth Woodville, cujos dois irmãos Ricardo III mandou matar. Tiveram sete ou oito filhos, dos quais três sobreviveram aos pais. Foi coroada apenas em 1488, depois de já terem nascido dois herdeiros.

Henrique VII deixou de fulana, um bastardo, Rolando de Velville, condestável de Beaumaris.