Ptolemeu I Sóter I
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Ptolomeu I Sóter (367 a.C.–283 a.C., em Grego:Πτολεμαίος Σωτήρ) foi um general Macedónio que se tornou governante do Egipto de 323 a.C. a 283 a.C., fundando a Dinastia Ptolemaica. Tomou o título de rei a partir de 305 a.C., instituindo então o culto dinástico do rei-salvador (Sóter), de acordo com a tradição dos Faraós egípcios. Recusou-se a pagar tributo ao rei da Macedónia, sucessor de Alexandre Magno. Fundou um império poderoso que, sem conquistas territoriais, manteve um reconhecido esplendor econômico e cultural, firmado em novas e eficazes formas administrativas. Instituiu a capital de sua dinastia em Alexandria, cidade fundada por seu predecessor, Alexandre - hoje a segunda maior cidade do Egipto e uma das cinco maiores cidades da África. Nos últimos anos do seu reinado exerceu co-regência com o filho, seu herdeiro real. Implantou o culto de Serápis e fundou a cidade de Ptolemaida, no Alto Egipto.
Era filho de Arsinoé da Macedónia - e, talvez, de seu marido, o nobre macedónio Lago (daí o nome de Lágidas, também dado à dinastia que fundou), ou do seu amante, Filipe II da Macedónia. Ptolomeu foi um dos generais de maior confiança de Alexandre, o Grande, sendo um dos sete somatophylax (guardas do corpo) que o deveriam defender. Era alguns anos mais velho que Alexandre e supõe-se que fosse seu amigo desde a infância, tendo, provavelmente, feito parte do grupo de nobres adolescentes macedónios discípulos de Aristóteles. Terá participado com Alexandre desde as primeiras campanhas, tendo tido um papel importante nas últimas, no Afeganistão e na Índia. Terá sido um dos três oficiais que salvaram a vida ao seu líder na cidade dos Oxidracas. Nas festividades matrimoniais, em Susa, a 324 a.C., Alexandre tê-lo-á feito casar com a princesa persa Artacama, mas não existem mais menções a tal casamento. Depois da morte de Alexandre, Ptolemeu casou-se com Thaïs, a famosa hetaera (cortesã) ateniense, companheira de Alexandre nas suas campanhas. Tendo sido rainha ao seu lado, mesmo depois do divórcio manteve boas relações com Ptolemeu, e chegou mesmo a manter o título de rainha enquanto se manteve em Mênfis.
[editar] Sucessor de Alexandre
Quando Alexandre morreu, em 323, Ptolomeu tornou-se sátrapa do Egipto, sob o reinado nominal de Filipe Arideu e do infante Alexandre IV. O anterior sátrapa, o grego Cleómenes de Náucratis, manteve-se como seu conselheiro-mor. Ptolomeu mostrou a sua idependência ao decidir subjugar a Cirenaica sem qualquer autorização dos seus supostos superiores.
Por costume, os reis da Macedónia asseguravam o seu direito ao trono procedendo ao sepultamento dos seus predecessores. Provavelmente porque pretendia impedir perdas de tal privilégio, que como regente imperial estava perto de reclamar para si o trono, Ptolomeu envidou esforços para que os restos mortais de Alexandre fossem conduzidos para o templo de Zeus Ámon, em Mênfis, e não para Aegae, a capital religiosa da Macedónia, onde Pérdicas os esperava. Ptolomeu enfileirava, assim, de forma aberta, na coligação dos Diádocos contra o regente. Pérdicas rapidamente chegou à conclusão que Ptolomeu era o seu rival mais perigoso no objectivo de aceder ao trono. Entretanto, Ptolomeu executou Cleómenes acusando-o de espionagem a favor de Pérdicas, o que lhe permitiu abstrair-se ainda mais da sua influência, ao mesmo tempo que tomava controlo sobre a enorme soma de riquezas acumuladas por Cleómenes.
Em 321 a.C., Pérdicas invadiu o Egipto. Ptolomeu decidiu defender a sua posição ao longo do Nilo, obrigando o seu rival a fazer várias tentativas fracassadas de travessia. Perto de Heliópolis, Pérdicas, com o moral das suas tropas em baixo, teve ainda a infelicidade de perder cerca de 2000 homens que foram arrastados pelas águas - o que abalou profundamente a reputação do regente, que foi pouco depois assassinado pelos seus subordinados, Antígenes, Seleuco e Peiton. Ptolomeu atravessou, então o Nilo para socorrer e prover de munições o exército que até ao momento fora seu inimigo e que agora lhe oferecia a regência do império - mas recusou a proposta. Ptolomeu manteve-se consistente na sua política de assegurar um poder de base, nunca sucumbindo à tentação de arriscar tudo para suceder a Alexandre.
Nas longas guerras que se seguiram entre os diferentes Diádocos, o primeiro objectivo de Ptolomeu foi sempre manter o Egipto seguro em seu poder, mantendo, para isso, o controlo das áreas adjacentes, como na Cirenaica e em Chipre, bem como sobre a Síria, incluindo a província da Judeia. A primeira ocupação da Síria ocorreu em 318, ao mesmo tempo que estabelecia um protectorado sobre os subservientes reis de Chipre. Quando Antígono Monoftalmo, senhor da Ásia, em 315, deixou claras as suas ambições políticas, Ptolomeu juntou-se à coligação que contra este se tinha estabelecido, evacuando a Síria quando a guerra deflagrou. Em Chipre, lutou contra os partidários de Antígono, reconquistando o território em (313). Esmagava, entretanto, uma revolta em Cirene.
Em 312 a.C., Ptolomeu e Seleuco, o sátrapa fugitivo da Babilónia, invadiram a Síria e derrotaram Demétrio Poliorcetes, filho de Antígono, na Batalha de Gaza. Ocupava, assim, de novo a Síria e, de novo, evacuou poucos meses depois, quando Demétrio derrotou o seu general em batalha e Antígono entrou em força na Síria. Em 311 a.C. estabeleceu-se um tratado de paz. Pouco depois, o rei Alexandre IV, apenas com treze anos de idade, foi assassinado na Macedónia, deixando o sátrapa do Egipto em estado de independência absoluta. A paz não durou por muito tempo e, em 309 a. C., Ptolomeu comandou pessoalmente uma frota que libertou as cidades costeiras da Lícia e da Cária do poderio de Antígono. Passou, depois, para a Grécia, onde tomou posse de Corinto, Sícion e Mégara (308 a.C.). Em 306 a.C., uma grande frota, sob as ordens de Demétrio atacavam Chipre, e o irmão de Ptolomeu, Menelau foi derrotado e capturado na decisiva Batalha de Salamina de Chipre. Seguiu-se a perda completa de Chipre por Ptolomeu.
Os sátrapas Antígono e Demétrio assumiam, assim, o título de reis. Ptolomeu, tal como Cassandro, Lisímaco e Seleuco I Nicator reagiu fazendo o mesmo. No inverno de 306 a.C., Antígono tentou repetir a vitória em Chipre, invadindo o Egipto. Mas Ptolomeu mostrou-se aí muito mais capaz de defender o seu território. Ptolomeu não conduziu, contudo, mais quaisquer expedições ultramarinas contra Antígono. Contudo, apoiou Rodes quando foi cercada por Demétrio em 305 a.C./304 a.C.. Depois do levantamento do cerco, os habitantes de Rodes instituiram uma festivade com o fim de honrar e venerar Ptolomeu como Soter ("salvador").
Quando a coligação contra Antígono foi renovada em 302 a.C., Ptolomeu juntou-se-lhe e invadiu a Síria pela terceira vez, enquanto Antígono defrontava Lisímaco na Ásia Menor. Chegando-lhe a notícia de que Antígono tinha conquistado uma vitória decisiva, voltou a evacuar. Mas quando notícias mais fiáveis chegaram, dando conta da derrota e morte de Antígono, e da vitória de Lisímaco e Seleuco, na Batalha de Ipso, em 301 a.C., Ptolomeu voltou a ocupar a Síria pela quarta vez.
Os outros membros da coligação atribuíam todo o território da Síria a Seleuco, depois do que consideravam ter sido deserção por parte de Ptolomeu. Durante cerca de um século, a questão da posse do sul da Síria, isto é, a Judeia, ocasionou um clima de constante conflito entre as dinastias Ptolemaica e os Selêucida. A partir de então, Ptolomeu parece ter evitado ao máximo imiscuir-se na rivalidade entre a Ásia Menor e a Grécia. Perdeu, por consequência, o que tinha conquistado na Grécia, mas reconquistou Chipre em 295/294. Cirene, depois de uma série de rebeliões foi, finalmente subjugada em 300 ficando ao cuidado do seu enteado, Magas. Estabelecia igualmente a dominação na Palestina e dilatava o seu território a oeste da Líbia.
Em 285 Ptolomeu abdicou a favor de um dos seus filhos mais jovens, de Berenice - Ptolomeu II Filadelfo, que fora co-regente por três anos. O seu filho mais velho e legítimo, Ptolemeu Cerauno, cuja mãe, Eurídice, a filha de Antípatro, havia sido repudiada, pediu refúgio na corte de Lisímaco. Ptolomeu Sóter morreu em 283 com 84 anos de idade. Reconhecido pela sua sagacidade e precaução, o seu domínio territorial era particularmente coeso e bem ordenado, depois de quarenta anos de guerras constantes. A sua reputação de liberalidade e bonomia ajudou a fidelizar a instável classe militar de origem macedónia e grega ao seu serviço. Da mesma forma, parece não ter negligenciado a conciliação com os nativos. Foi um reconhecido patrono das letras, fundando o Museu e a Biblioteca de Alexandria, incentivando a permanência dos sábios gregos na sua cidade de eleição. Ele mesmo foi autor de uma história das campanhas de Alexandre que não sobreviveu até à actualidade e que era particularmente reputada pela sua seriedade, sobriedade e objectividade. Contudo, há quem considere que tal documento intentava, igualmente e de forma propagandística, dar-lhe um protagonismo que, de facto, não tivera. O relato, ainda que não tenha sobrevivido, terá sido a fonte principal para as crónicas compiliadas por Arriano de Nicomédia.
[editar] Referências bibliográficas
- RODRIGUES, M. Augusto; Ptolomeu, in "Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira da Cultura, Edição Século XXI", Volume XXIV, Editorial Verbo, Braga, Setembro de 2002
- Ptolemeu I Sóter in Dicionário de História Universal - Mourre, vol. III, Círculo de Leitores, Outubro de 1998
Precedido por: Alexandre IV da Macedónia |
Lista de faraós Dinastia ptolemaica |
Sucedido por: Ptolomeu II do Egipto |