Milagre econômico
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O milagre econômico é a denominação dada à época de exponencial crescimento econômico durante a ditadura militar, ou anos de chumbo. Nesse período de auge econômico instaurou-se um pensamento de Brasil-potência, que se evidencia com a conquista da terceira copa do mundo de futebol e a criação do dogma: Brasil, ame-o ou deixe-o.
Índice |
[editar] Como se iniciou
Quando da política adotada por Juscelino Kubitschek, na década de 1950, sob o crescimento do Brasil no programa cinqüenta anos em cinco (Plano de Metas), foi gerada uma capacidade ociosa, que se estendeu à década de sessenta. Na reforma institucional do golpe militar que seguiu, o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) alterou a metodologia de verificação e diagnóstico da inflação, criando artificialismos de baixa.
Com a reorganização do sistema financeiro, a recuperação da capacidade fiscal do Estado, forçando a estabilidade monetária, a política de crédito sofrendo aumento do nível de juros e redução de salários, houve uma expansão da política econômica.
Aumentando a liquidez, houve um crescimento forçado da economia através de artificialismos adotados pelos economistas da época.
[editar] Execução
Devido aos artificialismos ficou mascarada a entrada de divisas oriundas de empréstimos via capital externo. Boa parte deste dinheiro acabou perdida em obras que não eram necessárias na época e outras que terminaram ficando inacabadas, devido a administração equivocada. Os investimentos, e a conseqüente entrada de capital novo, fizeram o PIB subir rapidamente, em torno de 10% ou mais, o Brasil gerou empregos, aumentou o número de indústrias de base, rodovias e grandes obras.
O custo do crescimento da economia foi excessivamente grande, pois era alicerçado por empréstimos externos a longo prazo, endividando o país por muitos anos. Não se pode ignorar que as políticas internas e o ambiente externo favoreceram ao crescimento das importações de 5,4% para 8,6% do PIB, e as exportações dobraram, havendo um equilíbrio na balança comercial do país.
[editar] O papel das estatais nesse processo
Em 1967, assume o comando da economia Antonio Delfim Netto e seu interino José Flávio Pécora. Para o Ministro, a queda da demanda provocada pelo PAEG teria sido indesejada, causando recessão e redução do nível de empregos. Segundo Delfim, o desenvolvimento interno do mercado brasileiro poderia por si só gerar crescimento, daí o governo ter aumentado o investimento das empresas estatais, recapitalizadas graças à política da chamada verdade tarifária, conceito amplamente divulgado pelos economistas intelectuais da época.
O Estado investe na indústria pesada, siderurgia náutica, entre outras, o crescimento da produção de bens duráveis de consumo alcança a taxa média de 23,6% ao ano, e o de bens de capital 18,1%, as empresas estatais crescem e obtêm lucros imensos.
[editar] Concentração de renda
Apesar do equilíbrio das contas externas, a dívida cresce exponencialmente em virtude do elevado grau de liquidez internacional, dos empréstimos para consolidar o crescimento e da política de acúmulo de reservas adotada pelo governo..
O Brasil, ao progredir economicamente, aumenta sua desigualdade sócio-econômica, o salário mínimo real, apesar de cair menos do que no período anterior (1964-1966, diminuição real de 25%), continuou baixando mais 15% entre 1967 e 1973. Assim, as vantagens do crescimento econômico ficaram com o grande capital, os salários continuaram a ser achatados, apesar da propaganda institucional.
O milagre econômico evidenciou a má distribuição de renda, conforme afirmado em O MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO de 30/08/2003, escrito por Carlos Frederico Pereira da Silva Gama: Em 1979, apenas 4% da população economicamente ativa do Rio de Janeiro e São Paulo ganha acima de dez salários mínimos. A maioria, 40%, recebe até três salários mínimos. Além disso, o valor real do salário mínimo cai drasticamente. Em 1959, um trabalhador que ganhasse salário mínimo precisava trabalhar 65 horas para comprar os alimentos necessários à sua família. No final da década de 70 o número de horas necessárias passa para 153. No campo, a maior parte dos trabalhadores não recebe sequer o salário mínimo.( Retirado de http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.phtml?cod=1553&cat=Teses_Monologos).
[editar] Crescimento, também, da miséria
Confirmando a premissa do parágrafo anterior, a miséria também sofreu um bom incremento com o crescimento econômico, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas:
- A mortalidade infantil no estado mais rico da federação, São Paulo, tem um incremento da ordem de 10%.
- Registra-se o aterrador número de 600 mil menores abandonados na Grande São Paulo.
- 30 % dos municípios da federação não tinham abastecimento de água.
- O Brasil tem o 9º PNB do mundo, mas em desnutrição perde apenas para Índia, Indonésia, Bangladesh, Paquistão e Filipinas. Um estudo do Banco Mundial, feito 3 anos depois, mostra que 70 milhões de brasileiros são desnutridos, cerca de 64,5% da população da época.
[editar] O fim do milagre
A partir de 1973 o crescimento diminui, e em 1974 o primeiro choque do petróleo acelera da taxa de inflação, que é de 15,5 % em 1973 e salta para 34,5% em 1974. O crescimento desacelera, no período 1974-1979 sendo 6,5%; na época do milagre as taxas eram 9,4%.
A balança comercial, a partir de 1974, apresenta enormes déficits que ultrapassam os U$ 4,0 bilhões ao ano. A capacidade de geração de divisas é insuficiente para sustentar o ritmo do crescimento; no final dessa década, a inflação chega a 94,7 % ao ano; em 1980 já é de aproximadamente 110 %, e em 1983 alcança o patamar de 200 %.
A dívida externa chega a US$ 90 bilhões. Para pagá-la, 90 % da receita oriunda das exportações era necessária, e o Brasil entra numa fortíssima recessão que tem como maior fruto o desemprego, que se agrava com o passar dos anos.