Império Alemão
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O termo Império Alemão (tradução literal do alemão Deutsches Reich) designa a Alemanha, desde a sua consolidação como Estado-nação em Janeiro de 1871 (V. Unificação Alemã) até à abdicação do Kaiser Guilherme II em novembro de 1918, após a Primeira Guerra Mundial.
A expressão Segundo Reich (Reich significa reino ou império) refere-se ao mesmo período histórico naquele país. Os que a empregam consideram o Sacro Império Romano-Germânico (843-1806) como um primeiro império alemão. Seguindo este mesmo raciocínio, os nazistas chamavam de Terceiro Reich o regime nacional-socialista de Hitler (1933-1945).
É de notar que o termo Deutches Reich foi o nome oficial da Alemanha não apenas no período dos Kaisers mas também durante a República de Weimar e o regime nazista. O presente artigo, porém, trata apenas da Alemanha entre 1871 e 1918.
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[editar] Bismarck e a fundação do Império
Artigo principal: Unificação Alemã.
Otto von Bismarck, chanceler da Prússia, concebeu uma estratégia para unificar a Alemanha sob o controle prussiano que envolveu três vitórias militares:
- aliar-se à Áustria para derrotar a Dinamarca na Segunda Guerra do Schleswig, em 1864, de modo a adquirir o Schleswig-Holstein;
- aliar-se à Itália e provocar a Guerra Austro-prussiana de 1866 contra a Áustria, de maneira a alijar esta última dos assuntos internos da Alemanha e a permitir a fundação – sem a interferência e participação austríacas – da Confederação da Alemanha do Norte, precursora direta do Império Alemão de 1871; e
- provocar a Guerra Franco-prussiana de 1870-71 contra a França, após a qual a Confederação foi transformada no Império Alemão e o Rei Guilherme da Prússia foi proclamado Kaiser da Alemanha unificada, com o título de Guilherme I.
O próprio Bismarck preparou o esboço da Constituição da Alemanha do Norte, de 1866, que se tornaria a Constituição do Império Alemão, com alguns ajustes. A Alemanha recebeu algumas características democráticas, em especial o Reichstag, que, diferentemente do parlamento da Prússia, era eleito por sufrágio direto e eqüitativo (masculino). Não obstante, o processo legislativo exigia a concorrência do Bundesrat, o conselho federal de deputados dos estados federados, no qual a Prússia exercia grande influência. Por trás de uma fachada constitucional, a Prússia era a influência predominante em ambos os órgãos legislativos. Ademais, o poder executivo era atribuído ao Kaiser, que nomeava o chanceler da Alemanha (como Otto von Bismarck). O chanceler reportava-se e dependia exclusivamente do Kaiser e, oficialmente, constituía um "gabinete de um homem só", responsável pela direção dos assuntos de Estado; na prática, os secretários de Estado atuavam de modo informal como ministros. O chanceler detinha a prerrogativa de propor as leis, que o Reichstag aprovava, emendava ou rejeitava. Com exceção dos períodos 1872-1873 e 1890-1894, o chanceler era concomitantemente o primeiro-ministro da Prússia.
Embora os antigos estados territoriais alemães, tais como os Reinos da Baviera e da Saxônia, mantivessem governo próprio, as forças militares passaram a ser coordenadas segundo os princípios prussianos e, em tempo de guerra, eram controladas pelo governo central. Embora autoritário em muitos aspectos, o Império permitiu o desenvolvimento de partidos políticos.
A evolução autoritária do Império Alemão encontra semelhanças com processos políticos na Itália e no Japão. Da mesma maneira que Bismarck, o Conde Camillo Benso di Cavour lançou mão da diplomacia e da guerra para atingir a unificação da Itália sob a dinastia do Piemonte (aliança com a França contra a Áustria) em 1861. Também o Japão seguiu um curso de modernização conservadora após a queda do xogunato Tokugawa e a restauração Meiji até 1918; o Japão, bem impressionado com a Alemanha de Bismarck, promulgou uma constituição em 1889 que atribuía ao primeiro-ministro poderes semelhantes ao do chanceler alemão, com um gabinete responsável apenas perante o imperador.
A unificação da Alemanha tornou nítido o problema de incorporar ao novo Estado-nação a população de origem polonesa da Prússia Oriental (75% de alemães, 19% de poloneses), da Prússia Ocidental (66% de alemães, 33% de poloneses) e da província de Posen (62% poloneses, 38% de alemães), que haviam pertencido à União Polaco-Lituana, bem como a Silésia (75% de alemães e 25% de poloneses). O maior crescimento demográfico do contingente de origem polonês daquelas províncias, associado ao Ostflucht (migração de alemães do leste para o oeste industrializado da Alemanha), fez com que o leste do Império adquirisse um caráter cada vez mais polonês. Bismarck e outros empreenderiam uma política de “germanização” das minorias polonesas no leste.
A elite proprietária de terras – os Junkers – mantiveram, durante o Império Alemão, parcela substancial do poder político.
[editar] Modernização conservadora
As políticas domésticas de Bismarck foram de grande importância para a formação da cultura política autoritária do Império. O governo semi-parlamentar da Alemanha levou a efeito uma suave revolução econômica e política, de cima para baixo, que levaria o país a tornar-se a maior potência industrial do mundo à época.
Os industriais alemães começaram a ganhar fatias do mercado alemão, em detrimento dos exportadores britânicos e, por volta dos anos 1870, estes já percebiam a crescente competição da Alemanha e dos EUA nos principais segmentos nascidos da Revolução Industrial.
Os objetivos políticos de Bismarck após a unificação podem ser resumidos da seguinte maneira:
- Kulturkampf: após a incorporação dos estados católicos do sul e as terras anteriormente polonesas ao leste, o catolicismo, representado pelo Partido do Centro Católico, parecia ser a principal ameaça ao nacionalismo militar-aristocrático prussiano de Bismarck, pois os católicos eram vistos como devendo fidelidade ao papa, mesmo acima do Estado alemão. Os católicos do sul, provenientes de uma base agrária e das fileiras dos campesinos, artesãos, clérigos e da aristocracia dos estados menores, diferentemente dos protestantes ao norte, de início tiveram problemas para competir com eficiência frente à abertura comercial. Após 1878, a luta contra o socialismo uniria Bismarck e o Partido do Centro Católico, encerrando a Kulturkampf, que terminara por fortalecer o catolicismo na Alemanha.
- Reforma social: para conter a classe trabalhadora e enfraquecer a influência dos grupos socialistas, Bismarck concordou de maneira relutante em criar um Estado de Previdência Social que faria os trabalhadores apoiar o nacionalismo alemão. A previdência social instituída por Bismarck era a mais avançada da época e perdura na Alemanha de hoje.
- Unificação nacional: Bismarck procurou reduzir as enormes diferenças entre os estados alemães, que haviam sido independentes por séculos, especialmente na área da legislação.
As histórias do direito e sistemas judiciais completamente diferentes representavam um enorme obstáculo para a unidade nacional, especialmente na área do comércio. Embora um código comercial comum já houvesse sido promulgado pela Liga Alemã em 1861 (adaptado para o Império e ainda em vigor na Alemanha de hoje, com grandes modificações), em outras áreas do direito as leis eram muito diferentes.
Em 1871, promulgou-se um Código Criminal comum (Reichsstrafgesetzbuch); em 1877, leis de processo civil e criminal. Em 1873, a constituição foi emendada de modo a permitir a promulgação de um Código Civil comum que substituiria todas as leis civis em vigor nos estados. O Código Civil alemão (Bürgerliches Gesetzbuch ou BGB) entrou em vigor em 1º de janeiro de 1900, resultado de um imenso esforço de codificação que criou uma das obras legais mais impressionantes do mundo, ainda em vigor (com modificações).
Os efeitos da modernização conservadora são distintos, devido ao fato de haver procurado atender a anseios freqüentemente expressados por meio de revoluções sociais. Com o poder político permaneceu nas mãos da aristocracia, o governo procurou conservar as estruturas sociais tradicionais, tanto quanto possível, embora a base econômica dos proprietários de terras se reduzisse rapidamente frente à da indústria. À unificação seguiu-se um longo período de governo conservador e mesmo autoritário.
[editar] Militarismo
Um dos sub-produtos da modernização conservadora foi o militarismo. Este foi utilizado para unir as classes dirigentes - tanto a aristocracia-militar como os industriais - em torno do projeto de continuar a modernização sem alterar as estruturas sócio-políticas. Cada estamento da elite encontrava vantagens na expansão ultramarina formal: os gigantescos monopólios queriam o apoio imperial para obter investimentos ultramarinos e afastar a concorrência estrangeira; os burocratas desejavam novas ocupações; os militares queriam ser promovidos; e a aristocracia tradicional, embora em declínio, desejava mais títulos formais.
Ao observar o surgimento do sindicalismo, do socialismo e de outros movimentos de protesto no início da era da sociedade de massa na Europa e na América do Norte, a elite logrou empregar o imperialismo nacionalista para cooptar o apoio da classe trabalhadora industrial. O imperialismo propagava entre as massas virtudes neo-aristocráticas e instilava sentimentos nacionalistas. Com isto, a Prússia conseguiu criar uma máquina militar suficientemente poderosa para desafiar os rivais no continente europeu e mesmo para se fazer notar na arena internacional.
Os advogados do imperialismo alemão argumentavam que o poder (inclusive militar) britânico conferia vantagens indevidas ao Reino Unido nos mercados internacionais, em detrimento da Alemanha. Ganhava evidência, também, o papel das colônias como mercado e fonte de matérias primas para as potências emergentes européias (como a Alemanha e a Itália). Esta associação entre tendências econômicas, de um lado, e o colonialismo e o militarismo, de outro, levou Bismarck, outrora relutante em envolver o seu país em aventuras ultramarinas, a reconhecer o valor político do colonialismo. As potências centrais absolutistas, lideradas por uma Alemanha que se industrializava rapidamente e cuja marinha havia dobrado de tamanho entre a Guerra franco-prussiana e a Primeira Guerra, representavam uma ameaça estratégica aos mercados e à segurança das potências aliadas e da Rússia. Os esforços coloniais da Alemanha a partir de 1884 renderam-lhe apenas um pequeno império ultramarino, comparado com os do Reino Unido e da França.
As iniciativas posteriores no campo da política externa (particularmente os planos para a construção de uma grande frota de guerra) levaram o Reino Unido a alinhar-se politicamente (a Tríplice Entente) com uma aliança franco-russa que já se constituía no momento da queda de Bismarck.
[editar] Após Bismarck
O Império floresceu sob a condução de Bismarck até a morte do Kaiser, em março de 1888. Naquele ano, chamado Dreikaiserjahr ("Ano dos Três Imperadores"), Frederico III, filho e sucessor de Guilherme I, sobreviveu o pai por apenas 99 dias, deixando a coroa ao jovem e arrojado Guilherme II, que forçou Bismarck a renunciar em março de 1890.
O Partido Social-Democrata (SPD), de oposição, logrou tornar-se o partido socialista mais forte do mundo, à época, ao ganhar um-terço dos votos nas eleições de janeiro de 1912 para o Reichstag. O governo, porém, continuou nas mãos de sucessivas coalizões conservadoras, apoiadas pela direita ou por católicos e dependentes do favor do Kaiser.
O frágil equilíbrio de poder da Europa desmoronou quando a Áustria-Hungria, aliada da Alemanha desde 1879, declarou guerra à Sérvia, em julho de 1914, após o assassinato em Sarajevo do herdeiro do trono austríaco, Francisco Fernando. O Império Alemão apoiou a sua aliada, enquanto que a Rússia, aliada à França, manifestou seu apoio à Sérvia. Em seguida à decisão russa de mobilizar (contra a Áustria-Hungria e a Alemanha), a Alemanha declarou guerra à Rússia e à França.
Assim começou a Primeira Guerra Mundial. Apesar do sucesso inicial, a Alemanha e seus aliados terminaram por ser derrotados por um inimigo fortalecido, a partir de 1917, com a intervenção dos Estados Unidos. O Kaiser Guilherme II foi obrigado a exilar-se (em novembro de 1918) por um revolução chefiada pelo SPD de oposição e por grupos comunistas que posteriormente organizaram uma tentativa frustrada de golpe (janeiro de 1919).
Em junho de 1919, o Tratado de Versalhes encerrou formalmente a guerra. Foi assinado na Grande Galeria (Galerie des Glaces), o mesmo local em que o Segundo Reich havia sido proclamado, cerca de meio século antes. A Alemanha perdeu territórios para França, Bélgica, Polônia (agora restaurada como país) e outros, e foi obrigada a pagar indenizações por sua alegada responsabilidade pela guerra.
[editar] A Alemanha colonial
Em 1884, Karl Peters fundou a Sociedade Alemã da África Oriental, e Bismarck estava pronto para reivindicar três áreas do continente africano: o sudoeste da África, até a fronteira da Colônia do Cabo (Namíbia); Camarões e Togo, onde o comércio era há muito monopolizado pelos britânicos; e o leste africano (Tanganica), ameaçando assim os interesses britânicos em Zanzibar. A Nova Guiné e o Arquipélago de Bismarck, no Oceano Pacífico, também eram reivindicados.
Em 1898, a Alemanha arrendou a Província chinesa de Shandong e comprou da Espanha as ilhas Carolinas e Marianas. Em 1899, Alemanha e Estados Unidos dividiram Samoa. Um atrito potencial com o Reino Unido foi evitado através de um acordo, em 1900, após sua intervenção para esmagar o levante dos boxers. No mesmo ano, von Büllow tornou-se chanceler (1900-1909). O crescimento da indústria alemã transformou-a na maior potência industrial da Europa, e a procura inevitável por novos mercados levou a tensões com outras potências colonialistas. A expansão da marinha alemã sob orientação de von Tirpitz levou à rivalidade com a marinha britânica, enquanto que a rivalidade com a França na África levou à crise do Marrocos (1905). Numa segunda crise marroquina (1911), esteve-se à beira de uma guerra internacional. O assassinato de Francisco Fernando, arquiduque da Áustria, em Sarajevo pegou o império desprevenido. Terminou-se por decidir que a Aliança Austro-Húngara de 1879 deveria ser honrada, mesmo que isso significasse guerra contra a Rússia e a França. Durante a Primeira Guerra Mundial, a maior parte dos territórios africanos pertencentes à Alemanha foi perdida, e o Tratado de Paz de Versalhes despojou a Alemanha de seu império de ultramar, que se transformou em territórios administrados pelas forças vitoriosas, no interesse da Liga das Nações.
[editar] Estados do Império Alemão - 1871-1918
Reinos
- - Baviera (Bayern)
- - Prússia (Preußen)
- - Saxônia (Sachsen)
- - Württemberg
Grão-ducados
- - Baden
- - Hesse (Hessen)
- - Mecklenburg-Schwerin
- - Mecklenburg-Strelitz
- - Oldenburg
- - Saxe-Weimar-Eisenach (Sachsen-Weimar-Eisenach)
Ducados
- - Anhalt
- - Brunswick (Braunschweig)
- - Saxe-Altenburg (Sachsen-Altenburg)
- - Saxe-Coburg-Gotha (Sachsen-Koburg-Gotha)
- - Saxe-Meiningen (Sachsen-Meiningen)
Principados
- - Lippe
- - Reuss-Greiz (antiga linha)
- - Reuss-Schleiz-Gera (nova linha)
- - Schaumburg-Lippe
- - Schwarzburg-Rudolstadt
- - Schwarzburg-Sondershausen
- - Waldeck
Cidades livres
Território imperial
- - Alsácia-Lorena (Elsaß-Lothringen)
Cada estado federado enviava representantes ao Governo Imperial - o Conselho Federal (Bundesrat) e a Dieta Imperial (Reichstag).
Os territórios não eram necessariamente contíguos - muitos existiam de forma territorialmente dispersa, como o resultado de aquisições históricas, ou, em outros casos, divisões de ramos familiares das casas reinantes.
[editar] Ver também
História da colonização | |
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Descolonização: | África (cron.) | Américas (cron.) | Ásia e Oceania (cron.) |
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