Virgulino Ferreira da Silva
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"Era brabo, era malvado, Virgulino Lampião, mas era, pra quê negar, das fibras do coração, o mais perfeito retrato, das caatingas do sertão"(Literatura de cordel)
Virgulino Ferreira da Silva (Serra Talhada, 4 de junho de 1898 — Poço Redondo, 28 de julho de 1938), vulgo Lampião, foi o mais famoso cangaceiro da História do Brasil.
Lampião nasceu no sítio "Passagem das Pedras" em Vila Bela, atual Serra Talhada, sertão de Pernambuco, em 1898. Uma das versões a respeito da origem de sua alcunha é que, num dos cerrados tiroteios havidos durante assalto noturno, mercê dos continuados tiros o cano de seu rifle ficou em brasa, lembrando a luz mortiça de um lampião. Como o fato se repetisse, ficou conhecido como o Homem do lampião, ou simplesmente Lampião.
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[editar] O cangaceiro
Lampião comandou um grupo de bandidos fiéis e corajosos, mas extremamente cruéis. Um deles, Corisco, após sua morte, tornou-se seu sucessor. Lampião teve uma vida difícil; seu pai foi morto quando Virgulino ainda era adolescente, numa busca policial, pelo alagoano José Lucena Maranhão, quando o destacamento procurava Virgulino, Levino e Antônio, os três irmãos já envolvidos com crimes. A ação policial desastrada o levou definitivamente a assumir a atitude de bandido, e por volta de 1916 se juntou a um bando de cangaceiros chefiados por um primo seu, Sebastião Pereira, vulgo "Sinhô" Pereira. Já em 1919 liderava o grupo, e sua fama corria o país inteiro. Era o personagem preferido de literatura de cordel, onde era mostrado como um grande "herói", infalível e indomável. Relatos de suas façanhas contra as polícias chegavam aos ouvidos dos políticos, que patrocinaram uma caçada para persegui-lo e matá-lo.
Vários coronéis do sertão ofereciam armas, munição e abrigo em suas terras ("coiteiros") ao cangaceiro, em troca de ajuda para sua segurança e na luta contra inimigos, assim como participação no butim dos saques. Lampião se tornou uma "lenda" depois de morto. Desenvolveu-se, depois da sua morte, a falsa noção de que ele era uma espécie de revolucionário marxista (documentos da "III Internacional" à época falam dos cangaceiros como "partisans", i.e., guerrilheiros), que combatia as injustiças sociais no sertão, e que tirava dos ricos para dar aos pobres. Na verdade ele parece ter sido apenas um bandido comum, extremamente cruel e sanguinário, capaz das piores atrocidades contra as populações rurais no nordeste, e que sempre viveu em conluio com latifundiários. Extremamente vaidoso, gostava de perfumes franceses, roupas com enfeites e chapéus enormes adornados com moedas de prata, e confeccionava suas próprias alpercatas, bornais e cartucheiras, feitos de couro.
Apesar de suas atrocidades, era religioso e trazia sempre no bornal um rosário e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Conta-se, aliás, que em 1926 teria recebido a patente de capitão da Guarda Nacional pelas mãos do Padre Cícero a fim de combater a Coluna Prestes que, naqueles dias agitados, passava pelo território cearense - um mito que parece ter como objetivo realçar o prestígio de Lampião ao associá-lo ao maior taumaturgo nordestino.
[editar] A morte
Em 28 de julho de 1938, no município de Poço Redondo, Sergipe, na fazenda Angico, Lampião foi morto por um grupamento da polícia militar alagoana chefiado pelo tenente João Bezerra, juntamente com dez de seus cangaceiros, entre os quais se encontrava sua companheira, Maria Bonita. Foram todos decapitados e suas cabeças, levadas como comprovante de suas mortes, foram expostas nas escadarias da igreja matriz de Santana do Ipanema. De lá foram conduzidas a Maceió e depois para Salvador. Foram mantidas, até a década de 1970, como "objetos de pesquisa científica" no Instituto Médico Legal de Salvador (Instituto Nina Rodrigues).
Uma semana depois do massacre de Angicos, o cangaceiro Corisco, o "Diabo Louro", que havia se separado de Lampião, constituindo um bando à parte, desfechou ataques fulminantes sobre cidades à margem do Rio São Francisco como vingança pela morte de seu amigo. Enviou algumas cabeças cortadas ao prefeito do povoado de Piranhas, com um bilhete: "Se o negócio é de cabeças, vou mandar em quantidade". Corisco foi morto em julho de 1940.
[editar] O sertão
Aqui se conta a história de Lampião, o famoso capitão Virgolino Ferreira, também conhecido como o "Rei do Cangaço". Não toda ela, pois não é fácil abranger de forma completa a saga de um brasileiro que pode ser equiparado, em fama e feitos, aos famosos personagens do velho oeste americano. Para facilitar o entendimento, ainda que parcial, é necessário situar a história e seu personagem principal no meio físico em que nasceu, viveu e morreu.
Descrever o Nordeste, por onde andou Lampião, sem entrar na costumeira lista de nomes de vegetais, tipos de solo e outros detalhes semelhantes, é uma tarefa ingrata. Resultaria desnecessária para quem já conhece a região e incompleta para quem nunca esteve lá.
Embora aparentemente agreste o nordeste é de natureza rica e variada. Ou talvez seja melhor dizer que é um misto de riqueza e pobreza, com imensa quantidade de espécies em sua fauna e flora, embora de clima seco durante a maior parte do ano. Chove muito pouco, o chão é seco e poeirento. A vegetação é rasa e, na maior parte do ano, de cor cinza. De vez em quando surgem árvores cheias de galhos, também secos, freqüentemente cobertos de espinhos que, se tocarem a pele, ferem. Raramente se encontra um local onde haja água, mas onde ela se apresenta a vegetação é muito mais verde, apesar de não radicalmente diferente de no restante da região. Saindo da planície e subindo para as partes mais altas, atingindo as serras e os serrotes, o ar tornar-se mais frio e as pedras desenham a paisagem.
Não há estradas, só caminhos, abertos e mantidos como trilhas identificáveis pela passagem dos que por ali circulam, geralmente a pé.
Em breves palavras, esse era o ambiente em que Virgulino Ferreira passou toda sua vida. Pode-se dizer que muito pouco mudou desde então.
[editar] A fama
Lampião e tudo que se sabe dele, tanto na época como até hoje, se deve a cobertura jornalística e cinematográfica feita através de filmes e fotos, que um comerciante chamado Benjamim Abraão dispensou ao bando de Lampião Na época, sem nenhuma ajuda transportando os equipamentos no lombo de burros, o cinegrafista fez uma cobertura tão completa dos passos do bando no meio do cangaço a ponto de ridicularizar as autoridades da capital que inutilmente tentavam abatê-los. Logo após conseguirem a morte do Lampião o jornalista é assassinado misteriosamente e parte de seu acervo de filmes é apreendido e permanece arquivados do DIP. Seus filhos ainda vivos sustentam que a morte foi encomendada por Getúlio Vargas. [ ]
[editar] Cordel sobre Lampião
- Versos de Gonçalo Ferreira da Silva, do cordel "Lampião - O Capitão do Cangaço":
- O século passado estava
- dando sinais de cansaço,
- José e Maria presos
- por matrimonial laço
- em breve seriam pais
- do grande rei do cangaço.
- No dia quatro de junho
- de noventa e oito, a pino
- estava o Sol, e Maria
- dava à luz um menino
- que receberia o nome
- singular de Virgulino.
[editar] Representações na cultura
Lampião já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Milton Ribeiro no filme "Corisco, O Diabo Loiro" (1969), Nelson Xavier na minissérie "Lampião e Maria Bonita" (1982) e no filme "O Cangaceiro Trapalhão" (1983), Alceu Valença na novela "Mandacaru" (1997), Luiz Carlos Vasconcelos no filme "Baile Perfumado" (1997) e José Wilker no filme "Canta Maria" (2006).