Filipe IV de França
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- Nota: Se procura por Filipe de Habusburgo, consulte Filipe de Habsburgo, o Belo.
Filipe IV, conhecido como O Belo (Philippe IV le Bel, em francês) (Fontainebleau, 1268 – 29 de novembro de 1314) foi rei da França de 1285 até a sua morte. Filipe I Rei da Navarra por casamento, pertencia à dinastia capetiana, sendo filho de Isabel de Aragão e Filipe III, o Bravo. Casou-se com Joana de Navarra com quem teve quatro filhos. O epíteto O Belo deve-se a sua extraordinária beleza, segundo relatos contemporâneos. Rei em 1285, em 1314, sofreu um derrame cerebral, vindo a falecer dias depois de um segundo ataque, no castelo Fontainebleau. Está sepultado na abadia de St. Denis, ao norte de Paris.
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[editar] Casamento
Casou-se em Paris em 16 de agosto de 1284 com Joana I da Navarra (nascida em Bar-sur-Aube 1272 e morta em 4 de abril de 1305 em Vincennes, Val-de-Marne) Rainha da Navarra, condessa de Champagne, condessa de Troyes, de Meaux, de Provins, de Brie, Viscondessa de Châteaudun, senhora de Montagu, de Montagne, de Vierzon, de Saumur, de Coucy, filha de Henrique III o Gordo, Rei da Navarra, e de Branca do Artois. Tiveram sete filhos.
[editar] Apreciação
Ficou famoso pelos conflitos com o papa.
Figura notável em seu reinado foi o funcionário real Guilherme de Nogaret (nascido em São Felix-en-Lauragais, morto em 1314), de família albigense, protegido do advogado Pierre Flotte.
[editar] Conflitos com o papa
Trata-se, sobretudo, de dinheiro: Filipe IV tinha necessidade de fundos para prosseguir a guerra contra os flamendos, para suas ofensivas diplomáticas, para manter o Estado, pois havia sinais de depressão econômica. Não foi suficiente ter depreciado a moeda nem despojar os judeus e banqueiros lombardos. Em 1295 lançou um imposto sobre o clero, o dízimo ou «décime». O clero aceitou, embora o rei tenha dispensado a autorização do papa.
Quando o rei voltou à carga com uma taxa suplementar, o quinquagésimo («cinquantième») os bispos reclamaram do papa Bonifácio VIII. Benedetto Caetani publicou então uma bula, Clericis laicos, onde precisava aos soberanos que o clero não pode ser submetido a qualquer imposto sem a concordância da Santa Sé. Os próprios bispos deviam seguir tais recomendações, sob pena de excomunhão.
Ao mesmo tempo, Filipe IV proibiu qualquer exportação de valores do reino, o que privou o papa de muitas rendas. Instado pelo clero francês, que se inquietava pelo rei, seu protetor natural, o papa publicou uma série de bulas em que suavizava sua posição. Em 1297, finalmente, aceita - e o «confito do dízimo» se soluciona com vantagem para o rei. O prestígio de Filipe cresce, com a canonização de seu avô Luís IX transformando-o em neto de um santo.
[editar] O caso Bernard Saisset
Bernard Saisset era bispo de Pamiers. Na região sul da França ou Midi, ainda mal recuperada da Cruzada dos Albigenses, o Bispo contestava a legitimidade do rei da França. Chegou a sugerir ao conde de Foix, Rogério Bernardo, libertar a terra do Languedoc da dinastia capeta. Repetiu as mesmas palavras ao conde de Comminges com relação ao condado de Toulouse. Ora, o conde de Foix contou tudo ao Bispo de Toulouse que falou ao rei Filipe o Belo. Este deu início a um inquérito, sequestrando os bens de Bernard Saisset. Este recorreu ao papa Bonifácio VIII, em Roma. Não sem ingenuidade, avisa ao rei, perguntando-lhe ainda «se teria algum recado para o papa»!
Na noite de 12 para 13 de julho de 1301 o vidame de Amiens, Jean de Picquigny, desperta o bispo. Condu-lo escoltado diante do rei, que estava então em Senlis. O ato de acusação foi lido numa primeira audiência pelo conselheiro Pierre Flotte. O rei decide entregar Saisset a um tribunal laico, contra o costume de reservar aos prelados o direito de serem julgados por um tribunal eclesiástico. Confia o bispo à guerda de seu superior hierárquivco, o arcebispo de Narbonne, Gilles Aycelin, que aceita, constrangido e forçado. Mas o problema era saber onde prender Bernard. O arcebispo de Reims, Roberto de Courtenay, de quem dependia o bispado de Senlis, exige que seja preso em Narbonne como seria correto. Filipe recusa, temendo com razão uma sediçao. Courtenay sem hesitar convoca um concílio provincial em Compiègne e , em 22 de novembro de 1301, ameça um interdito sobre as terras de Senlis se o rei insiste em manter preso o bispo. Finalmente, os legistas do Conselho do rei lhe propõem, astuciosamente, fazer da prisão laica do bispo um enclave no arcebispado de Narbonne!... E todos aceitam o arranjo. Bonifácio VIII se irrite sobretudo com as infrações ao direito canônico. Desejoso de manter a independência da Igreja e a preeminência da Santa Sé, publica em 18 de novembro de 1302 a bila Unam sanctam onde reafirma a primazia da Santa Sé sobre os soberanos temporais. Levado por seu temperamento colérico e excessivo, o papa ameaça o rei de excomunhão e chega a convocar um concílio para isso, o que inquieta o clero francês.
Guillaume de Nogaret, fiel servidor do rei, vai para a Itália e tenta se apoderar do papa. A intenção é apresentar o papa diante de um concílio geral e provocar sua destituição. O projeto tem a concordância de boa parte da Igreja e tem futuro, pois o papa conseguira numerosos inimigos. No palácio pontifical de Anagni, Nogaret não consegue apoderar-se da pessoa do papa. Apesar do apoio de homens fornecidos pela família romana dos Colonna, Nogaret é obrigado a fugir, perseguido pelos camponeses dos arredores. O papa sobrevive apenas um mês ao encontro humilhante. Depois do breve pontificado de Benedito XI, a eleição do cardeal francês Bertrand de Got como papa Clemente V consagrará a vitória do rei da França.
[editar] Problemas em Bruges
Em 18 de maio de 1302, os artesãos de Bruges, em Flandres, levantam-se contra a guarnição francesa. Há mil mortos. O dia é chamado "Mâtines de Bruges" ou matinas de Bruges, por analogia com as "Vêpres siciliennes" ou Vésperas sicilianas, que haviam 20 anos antes expulsado os franceses da Sicília. A rebelião arruina os sonhos capetianos de anexar Flandres.
Sob os reis Filipe II Augusto e Luís IX, a França se tornara o reino mais poderoso da Europa. Mas no final do século XIII, Flandres e a Inglaterra haviam começado a projetar sua sombra, graças a seu rápido enriquecimento. A Inglaterra vendia sua lã às comunas flamengas, Bruges, Ypres ou Gand fabricam com ela os tecidos que vendem por altos preços no resto da Europa.
Para enfrentar a cobiça dos reis franceses, o conde de Flandres, Guy de Dampierre, busca se aliar ao rei da Inglaterra Eduardo I. Mas Filipe IV atrai Guy a Paris e o prende. Instala em Flandrs um governador a ele aliado, Guy de Châtillon. É nessa ocasião que se sucedem as Matinas de Bruges. Como se um aviso não bastasse, cavaleiros franceses comandados por Roberto de Artois são vergonhosamente derrotados pelas milícias comunais em 11 de julho de 1302 no que se chamou a "bataille des éperons d’or", ou «batalha das esporas de ouro» nos arredores de Courtrai. Seus famosos estribos de ouro ornamentarão a igreja de Notre-Dame de Courtrai.
Filipe obterá uma pálida revanche dois anos depois na batalha de Mons-en-Pévèle, onde combaterá na primeira linha. Em 23 de junho de 1305 assina a paz em Athis que lhe permite apenas anexar Lille, Douai e Béthune. Com isso a França chegou às fronteiras que manterá, grosso modo, durante sete séculos, apesar de numerosas guerras.
[editar] O episódio da Torre de Nesle
Dois jovens cavaleiros foram executados em Pontoise em atrozes castidos em 19 de abril de 1314: eram os irmãos Aunay, amantes das noras do rei e principais vítimas do escândalo «da Torre de Nesle» que obscureceu os últimos anos do reinado de Filipe IV. Primeiro, por que feriu seu amor próprio profundamente: rei muito piedoso e teria, segundo testemunham contemporâneos, permanecido casto depois da morte de sua esposa Joana de Navarra, nove anos antes.
O rei tivera quatro filhos que chegaram à idade adulta: Luís, de caráter difícil, que lhe valeu o apelido de "Hutin" ou "Noiseux". Sua esposa foi Margarida da Borgonha, filha de Roberto da Borgonha e de Agnes de França, filha do rei Luís IX. Altiva, um pouco rebelde, bonita, amava a vida. O segundo filho, Filipe, inteligente, se casara com Joana d´Artois, filha de Oto IV da Borgonha e de Mafalda ou Mahaut d'Artois. Carlos, o terceiro, de personalidade mais apagada, casou com Branca, irmã de Joana. As três jovens irradiavam uma alegria que contrastava com a austeridade do rei e da corte. Branca, mais frívola do que Joana, ter-se-ia deixado influenciar pela cunhada Margarida. Com três ou quatro anos de casadas, tomaram por amantes «cavaleiros jovens e belos», os irmãos Gautier e Philippe d'Aunay. Houve comentários na corte mas ninguém tinha coragem de levar o assunto ao rei. Em abril de 1314, porém, na abadia de Maubuisson onde o rei gostava de se retirar com a corte, segundo certos historiadores, Isabel de França (casada com o rei Eduardo II) denunciou as cunhadas. Filipe fez um inquérito que não deixou qualquer dúvida, ficanco claro que Joana estava a par do assunto. A justiça real se abateu sobre elas, implacável: Margarida e Branca foram presas, tiveram o cabelo rapado, foram metidas em roupas grosseiras e levadas numa carroça coberta de panos negros até Endelys, aos calabouços do castelo Gaillard. Margarida teve uma cela aberta a todos os ventos no alto da torre.
Os irmãos Aunay, presos e interrogados, confessaram. Foram rapidamente julgados por crime de lesa majestade e executados imediatamente em praça pública. O suplício foi atroz: despedaçados vivos, tiveram o sexo decepado e atirado aos cães, foram decapitados e os corpos, pendurados pelas axilas, dependurados no cadafalso. As consequências do crime iam além de afronta à família real, pois colocara em perigo a dinastia. Qual a autoridade de um futuro soberano do qual se duvidasse da paternidade real? Como sagrar e dar a unção divina a um rei que, sem qualquer equívoco, não fosse filho de rei? As implicações políticas eram tão graves que o castigo foi exemplar!
[editar] Em geral
Na política internacional, seu reinado deu início aos conflitos que provocaram a Guerra dos Cem Anos. Voltou-se contra Flandres e a Inglaterra, ocupando Flandres em 1300. Para financiar as guerras viu-se obrigado a recorrer a várias desvalorizações entre 1290 e 1309. Também confiscou os bens dos Lombardos em 1292 e lançou impostos sobre o clero, o que lhe causou conflitos com o papado. Após o desastre da entrevista de 8 de setembro em Anagni, nos arredores de Roma, entre Guilherme de Nogaret e o papa, falando-se mesmo de um atentado contra a pessoa do papa, nota-se a ruptura dos tempos com o século XIII, que havia sido cristão por excelência. Sob Inocêncio III e, na França, durante o reinado de Luís IX, os governos se submetiam às exigências do papa. Tudo mudará com Filipe IV: o neto de São Luís é o precursor do galicanismo e da laicidade, ou seja, da separação da Igreja e do Estado.
Aconselhado por seus juristas, adotou, primeiro, uma política de independência em relação à Santa Sé, opondo-se a Bonifácio VIII. Durante o seu governo, aconteceu o Cisma do Ocidente, com a transferência para Avignon da residência do Papa, procurando colocar o Papado sob a dependência da França. Teve inclusivamente um violento conflito com o Papa Bonifácio VIII, a quem mandou aprisionar, vindo a ser excomungado por este várias vezes. A Santa Sé só se reconciliou com a França após o advento de Clemente V (1305).
Desejando resolver graves dificuldades financeiras, Filipe processou a Ordem dos Cavaleiros Templários, com a esperança de apoderar-se de suas riquezas. O processo terminou em 1312, com a bula do Papa francês, Clemente V, que extinguia a referida ordem religiosa. Os chefes dos templários foram mandados à fogueira, como o Grão-Mestre Jacques de Molay. Criou os Estados Gerais. Formou uma burocracia especializada em leis além de anexar territórios.
Diz-se que foi o primeiro soberano moderno, enfrentando o poder temporal da Igreja e o feudalismo. Conseguiu subjugar o feudalismo e a Igreja, aumentou as terras reais e, auxiliado pelos juristas Pierre Flotte, Marigny e Guilherme de Nogaret, favoreceu o desenvolvimento das instituições administrativas e judiciárias.
[editar] Posteridade
- 1 - Luís X le Hutin, ou o Teimoso, nascido em 1289 e morto em 1316.
- 2 - Isabel de França (1292-1358). Casada em 1308 com Eduardo II (1284-1327) apelidado o de Caernarvon.
- 3 - Roberto (1297-1308).
- 4 - Margarida (1288-1300).
- 5 - Branca (1290-1294).
- 6 - Filipe V apelidado o Longo (1294-1322) ou o Caolho.
- 7 - Carlos IV (1295-1328)apelidado, como o pai, o Belo. Conde de La Marche e em 1322 Rei de França.
| Precedido por: Filipe III |
Rei de França 1285-1314 |
Sucedido por: Luís X |
