Tsar Bomba
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Tsar Bomba (ou Царь-бомба, em russo, literalmente "Imperador das Bombas"). À mais potente arma nuclear foi o nome dado ao maior explosivo nuclear já detonado. Desenvolvido pela União Soviética, a bomba de 57 megatons (equivalente a 57 milhões de toneladas de dinamite) levava o nome-código de “Ivan”, (em Russo: Иван), dado pelos seus desenvolvedores.
A bomba foi testada em 30 de outubro de 1961, em Novaya Zemlya, uma ilha no Oceano Ártico. O dispositivo foi reduzido de seu design original de 100 megatons para minimizar a escala de destruição.
Devido ao seu enorme tamanho a bomba não era prática para propósitos de guerra, e foi criada primariamente para ser usada como propaganda na Guerra Fria. Não há evidências de que nenhuma outra bomba de poder similar tenha sido feita.
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[editar] Origens
O Premiê Soviético (Soviete Supremo) Nikita Khrushchov começou o projeto em 10 de Julho de 1961, requisitando que os testes fossem realizados em Outubro do mesmo ano, enquanto o 22º Congresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) ainda estava em sessão. Este prazo de 15 semanas foi alcançado porque os componentes nucleares necessários já estavam todos à sua disposição.
O termo "Tsar Bomba" remete para a histórica prática russa de construir objetos incrivelmente grandes para mostrar poder. Exemplos incluem o Grande Sino (Tsar Kolokol), o maior canhão do mundo (Tsar Pushka) e o incrível Tsar Tank. Apesar de a bomba ter sido taxada com este nome pelo ocidente (a estrita anti-monarquia da União Soviética não nomearia este símbolo do orgulho nacional em honra de seus mandantes passados), o nome acabou sendo amplamente utilizado na futura Rússia.
Com o nome-código de "Ivan" durante o seu desenvolvimento, a Tsar Bomba não foi feita para o uso bélico prático. Khrushchov (líder da União Soviética depois da morte de Stalin) deu o parecer final para o teste em um momento de grande tensão: o primeiro muro de Berlim havia sido levantado em agosto de 1961. E mais ainda: a União Soviética havia recentemente encerrado uma moratória de testes nucleares (que durou por aproximadamente três anos), e estava próxima de levar armas para Cuba, o que acabaria levando à Crise dos Mísseis.
Com a palavra na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o teste, Khrushchev usou em seu idioma o termo "mostrar a alguém a mãe de Kuzka's", que quer dizer "Punir". Por causa disso, às vezes a bomba é chamada na Rússia de "'A Mãe de Kuzka's' (Кузькина мать).
[editar] Design
A “Tsar Bomba” era uma bomba de hidrogênio de estágios múltiplos com uma potência em torno de 50 megatons (Mt). O design inicial trifásico (fissão-fusão-fissão) era capaz de liberar aproximadamente 100 Mt, mas o resultado seria um excesso de resíduos e partículas radioativas liberadas na atmosfera. Para limitar os efeitos dos resíduos radioativos, o terceiro estágio, que consistia de uma couraça para a fissão de Urânio 238 (o que ampliava muito a reação, fissionando átomos de urânio com neutrons mais rápidos da reação da fusão anterior), foi trocado por uma de chumbo. Isso eliminou a rápida fissão dos nêutrons resultantes da fusão (estágio 2), de forma que aproximadamente 97% do total da energia seria resultado apenas do estágio de fusão. Houve forte incentivo para a redução de potência; já que a maioria dos resíduos radioativos resultantes do teste da bomba acabaria chegando ao próprio território soviético.
[editar] O Teste
A Tsar Bomba foi levada ao campo de teste por um especialmente modificado avião bombardeiro Tu-95 que levantou vôo de uma base aérea na península de Kola, pilotado pelo Major Andrei E. Durnotsev. O avião bombardeiro foi acompanhado de um avião de observação Tu-16, que coletou amostras do ar e filmou o teste. Ambos os aviões foram pintados com uma tinta reflexiva especial de cor branca para limitar os danos causados pelo calor gerado pelo teste.
A bomba, pesando 27 toneladas, era tão grande (8 metros de comprimento por 2 metros de diâmetro) que as portas de lançamento e os tanques de combustível das asas do Tu-95 tiveram de ser removidos. Ela foi presa a um pára-quedas de retardo de queda que pesava mais de 800 quilos, o que dava a ambos os aviões a possibilidade de voar para pelo menos 45 km de distância do ponto zero de detonação. Se houvesse uma falha nesse retardo, a bomba ou teria atingido a sua altitude de detonação mais rápido do que o previsto tornando o teste uma missão suicida para os aviões, ou atingiria o solo a uma velocidade alta demais com resultados imprevisíveis. Os EUA também equiparam algumas de suas bombas com pára-quedas de retardo pelas mesmas razões. É dito que a fabricação do pára-quedas requiriu tanto náilon que a indústria soviética de lingerie teria falido. Tal afirmativa, contudo, nunca foi provada.
A Tsar Bomba foi detonada às 11:32, aproximadamente [1] sobre o campo de testes na Baía de Mityushikha, ao norte do Círculo polar ártico na ilha de Novaya Zemlya. Ela foi lançada de uma altitude de 10.500 metros, e programada para detonar a 4.000 metros acima da superfície terrestre (4.200 metros acima do nível do mar) por sensores barométricos.
Os EUA estimaram na época que a potência gerada pela bomba era de 57 Mt, mas desde 1991 todas as fontes Russas atestam que era de "apenas" 50 Mt. Khrushchev chegou a avisar durante um discurso (gravado em vídeo) o Parlamento Comunista sobre a existência da bomba de 100 megatons.
A bola de fogo gerada pela explosão tocou o solo e quase alcançou a mesma altitude do avião bombardeiro, podendo ser vista a mais de 1.000 km de distância. O calor gerado poderia causar queimadura de 3º Grau em uma pessoa que estivesse a 100 km de distância. A nuvem em forma de cogumelo que se seguiu chegou a 60 km de altura e algo em torno de 35 km de largura. A explosão pôde ser vista e também sentida na Finlândia, tendo até mesmo quebrado algumas janelas por lá. O deslocamento de ar causou danos diretos até a 1.000 km de distância.
A pressão da explosão abaixo do ponto de detonação foi de 300 PSI, seis vezes a pressão de pico experimentada em Hiroshima. Um participante no teste viu um flash brilhante através dos óculos escuros de proteção e sentiu os efeitos de um pulso térmico mesmo a uma distância de 270 quilômetros.
Já que 50 Mt é igual a 2.1×1017 joules, a média de força gerada durante todo o processo fissão-fusão (que durou cerca de 3.9×10-8 segundos ou 39 nanosegundos) seria estimada em 5.3×1024 watts ou 5.3 yottawatts. Isso é o equivalente aproximado de 1% da energia que o Sol libera durante a mesma fração de segundo. A maior arma construída pelos EUA, agora desativada B41, tinha uma força máxima estimada de 25 Mt, sendo a maior bomba nuclear já testada pelos EUA (Castle Bravo) gerou 15 Mt.
[editar] Análise
O peso e o tamanho da Tsar Bomba limitaram o alcance e a velocidade do bombardeiro especialmente modificado que a carregava, o que a tornou impossível de ser carregada por um ICBM (Intercontinental Ballistic Missile). Muito de sua alta potência era ineficientemente irradiada pelo espaço. Foi estimado que, se detonada no seu design original de 100 Mt, o montante de resíduos radioativos seria correspondente a 25% de toda a radiação emitida na terra desde a invenção das armas nucleares. Os soviéticos chegaram à conclusão de que um teste de tamanha potência criaria uma catástrofe nuclear e tinham a certeza de que o avião bombardeiro que a lançasse não alcançaria um lugar seguro após a detonação.
A Tsar Bomba foi a culminação de uma série de armas termonucleares de alta potência desenvolvidas pela URSS e pelos EUA durante a década de 50. Tais bombas foram desenvolvidas porque:
- As bombas nucleares daquela época eram grandes e pesadas, independente da potência, e só podiam ser lançadas por bombardeiros estratégicos.
- Temia-se que muitos, se não a maioria, dos bombardeiros falhassem em alcançar os alvos, já que seu tamanho e velocidade tornavam a detecção e interceptação uma coisa fácil. Portanto, maximizar o poder de ataque carregado por um único bombardeiro era vital.
- Ambos os lados não tinham conhecimento preciso da localização das fábricas militares e industriais do inimigo, uma bomba lançada sem recursos de Global Positioning Systems (GPS) erraria facilmente o seu alvo em 5 km ou mais. E o retardamento da queda pelo pára-quedas só piorava esse ineficiência.
Tais bombas foram desenvolvidas para dizimar grandes cidades inteiras mesmo que lançadas entre 5 a 10 km do seu centro. Com esse objetivo chegava-se à conclusão de que potência e efetividade estavam diretamente ligadas, pelo menos até certo ponto. Mas com o advento dos ICBMs e sua precisão de 500 metros ou até mais, bombas guiadas a laser e o GPS estas armas acabaram por tornarem-se obsoletas. As armas nucleares subsequentes, nas décadas de 60 e 70, tiveram como foco a precisão, miniaturização e segurança em detrimento da potência.
[editar] Relatos
Devido a sua potência houve diversos relatos sobre a Tsar Bomba. Um operador de câmera registrou:
"As nuvens a uma grande distância abaixo e acima do avião foram iluminados pelo clarão da bola de fogo e por um instante tornaram-se transparentes. A propagação da luz incandescente sobre o mar era algo impressionante. Nesse momento nosso avião emergiu do meio de uma camada de nuvens e pudemos observar uma gigantesca esfera de fogo brilhante e alaranjada rolando em direção ao céu."
"A esfera era tão poderosa e tão arrogante como Júpiter."
"Lenta e silenciosamente rastejou para cima..."
"E fundindo-se a camadas mais grossas de nuvens, continuou a subir e a crescer. Parecia sugar toda a terra nele. O espetáculo foi fantástico, irreal, sobrenatural."'
Um outro observador, mais distante, descreveu o que testemunhou da seguinte forma:
"Um gigantesco clarão sobre o horizonte, e após um longo período de tempo ouvi um sopro distante e pesado, como se a terra tivesse sido morta."
Uma outra testemunha relata:
"A neve derreteu, as bordas e os lados das rochas ficaram brilhantes como se tivessem sido lapidadas, não há um traço desigual sequer..."
[editar] Referências
Documentário soviético sobre a bomba em Trinity and Beyond: The Atomic Bomb Movie (Visual Concept Entertainment, 1996), onde a mesma é referida como a bomba monstro russa.[2] O documentário erroneamente afirma que o projeto da Tsar Bomba acabou com a moratória dos testes nucleares soviéticos. Os mesmos re-iniciaram os testes dois meses antes da Tsar Bomba, sendo que de fato não havia nenhuma moratória vigente na época. [3]