Privacy Policy Cookie Policy Terms and Conditions História da Índia - Wikipédia

História da Índia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Este artigo apresenta as linhas gerais da história da Índia, que tem início com o registro arqueológico da presença do homo sapiens há cerca de 34 000 anos. Uma civilização da Idade do Bronze emergiu em época aproximadamente contemporânea às civilizações do Oriente Médio. Como regra, a história da Índia abrange todo o subcontinente indiano, correspondente aos atuais República da Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka, Nepal e Butão.

A civilização do Vale do Indo surgiu no século XXXII a.C. e atingiu a maturidade a partir do século XXV a.C. Seguiu-se-lhe a civilização védica. A origem dos indo-arianos é um ponto de relativa controvérsia. A maioria dos estudiosos acredita em algum tipo de hipótese de migração indo-ariana, segundo a qual os arianos, um povo semi-nômade possivelmente da Ásia Central ou do norte do Irã, teriam migrado para o noroeste do subcontinente entre 2000 e 1500 a.C. A natureza de tal migração, o local de origem, e até mesmo a própria existência dos arianos como povo distinto, são fortemente discutidos. A fusão da cultura védica com as culturas dravídicas que lhe eram anteriores (presumivelmente os descendentes da civilização do Vale do Indo) aparentemente resultou na cultura indiana clássica, embora os detalhes específicos do processo são controversos. Alguns entendem, por outro lado, que a civilização do Vale do Indo era essencialmente védica e que se teria espalhado para partes da Europa entre o sexto e o segundo milênio a.C. Os nascimentos de Mahavira e de Buda no século VI a.C. marcam o começo da fase mais bem registrada da história indiana. Pelos 1500 anos seguintes, a Índia produziu a sua civilização clássica e, segundo alguns historiadores, a maior economia do mundo antigo entre os séculos I e XV d.C., ao controlar entre um-terço e um-quarto da riqueza mundial até a época mogol, após o quê declinou rapidamente sob domínio britânico.

Às incursões por exércitos árabes e centro-asiáticos nos séculos VIII e XIII seguiram-se as de comerciantes da Europa, a partir do final do século XV. A Companhia Inglesa das Índias Orientais foi fundada em 1600 e iniciou, desde 1757, a colonização de partes da Índia. Na altura de 1858, após derrotar uma confederação sique no Panjabe em 1849, a coroa britânica assumira o controle político de virtualmente todo o subcontinente. Tropas indianas no exército britânico desempenharam um papel vital em ambas as guerras mundiais. A resistência não-violenta ao colonialismo britânico, chefiada por Mahatma Gandhi, Vallabhbhai Patel e Jawaharlal Nehru, levou à independência frente ao Reino Unido em 1947. O subcontinente foi partilhado entre a República da Índia, secular e democrática, e a República Islâmica do Paquistão. Como resultado de uma guerra entre aqueles dois países em 1971, o Paquistão Oriental tornou-se o Estado independente de Bangladesh. No século XXI, a Índia tem obtido ganhos expressivos em investimento e produção econômicos, constituindo-se na maior democracia do mundo, com uma população de mais de 1 bilhão de pessoas, e na quarta maior economia do planeta (critério PPP).

Fora do sul da Ásia, a história, a cultura e a política da Índia freqüentemente se sobrepõem aos países vizinhos. A cultura, economia e política indianas exerceram influência ao longo de milênios na história e na cultura de países no sudeste asiático, no leste e no centro da Ásia, como Indonésia, Cambodja, Tailândia, China, Tibete, Afeganistão, Irã e Turquestão. Após incursões árabes na Índia no início do segundo milênio d.C., missões semelhantes em busca da lendária riqueza indiana influenciaram fortemente a história da Europa medieval, a partir da chegada de Vasco da Gama. Cristóvão Colombo descobriu a América quando procurava uma nova rota para a Índia, e o Império Britânico obteve grande parte de seus recursos após a incorporação da Índia (a "Jóia da Coroa") do final do século XVIII até 1947.

Para a história da Índia após a independência em 1947, ver História da República da Índia.

Índice

[editar] Idade da Pedra

A cultura da Idade da Pedra no subcontinente indiano coincidiu com o início da colonização pelo homem e progrediu para a agricultura e o desenvolvimento de ferramentas derivadas de objetos naturais ou criados a partir de matérias-primas. A comunidade Mehrgarh constitui-se no estágio preliminar da agricultura no subcontinente e levou ao surgimento da civilização do Vale do Indo, pertencente à Idade do Bronze.

[editar] Idade do Bronze

As civilizações da Idade do Bronze no subcontinente indiano lançaram as bases da moderna cultura indiana, inclusive o surgimento de assentamentos urbanos e o desenvolvimento das crenças védicas que formam o núcleo do hinduísmo.

[editar] Civilização do Vale do Indo

Selos com a escrita índica.
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Selos com a escrita índica.
Ver artigo principal: Civilização do Vale do Indo.

A irrigação do Vale do Indo, que fornecia recursos suficentes para sustentar grandes centros urbanos como Harappa e Mohenjo-daro em cerca de 2500 a.C., marcou o início da civilização harappa. Aquele período testemunhou o nascimento da primeira sociedade urbana na Índia, conhecida como a civilização do Vale do Indo (ou civilização harappa), que floresceu entre 2500 e 1900 a.C. Concentrava-se em volta do rio Indo e seus tributários e estendia-se ao doab Ganges-Yamuna, ao Guzarate e ao norte do atual Afeganistão.

Esta civilização caracterizava-se por suas cidades construídas com tijolos, por sistemas de águas pluviais e por casas com vários andares. Quando comparada a civilizações contemporâneas como o Egito e a Suméria, a cultura do Indo dispunha de técnicas de planejamento urbano singulares, cobria uma área geográfica mais extensa e pode ter formado um Estado unificado, como sugere a extraordinária uniformidade de seus sistemas de medida. As referências históricas mais antigas à Índia talvez sejam as relativas a "Meluhha", em registros sumérios, que poderia ser a civilização do Vale do Indo.

As ruínas de Mohenjo-daro constituíam o centro daquela antiga sociedade. Os assentamentos da civilização do Indo disseminaram-se até as modernas Bombaim, ao sul, Délhi, a leste, e a fronteira iraniana, a oeste, limitando com os Himalaias a norte. Os principais centros urbanos eram Harappa e Mohenjo-daro, bem como Dholavira, Ganweriwala, Lothal, Kalibanga e Rakhigarhi. No seu zênite, como crêem alguns arqueólogos, a civilização do Indo talvez contivesse uma população de mais de cinco milhões de habitantes. Até o presente, mais de 2 500 antigas cidades e assentamentos foram identificados, em geral na região a leste do rio Indo no atual Paquistão. Alguns acreditam que perturbações geológicas e mudanças climáticas, responsáveis por um desmatamento gradual, teriam contribuído para a queda daquela civilização. Em meados do II milênio a.C., a região da bacia do rio Indo, que inclui cerca de dois-terços dos sítios atualmente conhecidos, secou, levando a população a abandonar os assentamentos.

[editar] Civilização védica

A civilização védica é a cultura indo-ariana associada com o povo que compôs os Vedas no subcontinente indiano. Incluía o atual Panjabe, na Índia e Paquistão, e a maior parte da Índia setentrional. A relação exata entre a gênese desta civilização e a cultura do Vale do Indo, por um lado, e uma possível imigração indo-ariana, por outro, é motivo de controvérsia.

A maioria dos estudiosos entende que esta civilização floresceu entre os II e I milênio a.C. O uso do sânscrito védico continuou até o século VI a.C., quando a cultura começou a transformar-se nas formas clássicas do hinduísmo. Esta fase da história da Índia é conhecida como o período védico ou era védica. Sua fase primitiva testemunhou a formação de diversos reinos da Índia antiga; em sua fase tardia (a partir de cerca de 700 a.C.), surgiram os Mahajanapadas, dezesseis grandes reinos no norte e no noroeste da Índia. Seguiram-se-lhe a idade de ouro do hinduísmo e da literatura em sânscrito clássico, o Império Maurya (a partir de cerca de 320 a.C.) e os reinos médios da Índia (a partir do século II a.C.).

Ademais dos principais textos do hinduísmo (os Vedas), os grandes épicos indianos (Ramáiana e Maabárata), inclusive as famosas estórias de Rama e Krishna, teriam sua origem neste período, a partir de uma tradição oral. O Bhagavad Gita, outro bem-conhecido texto primário do hinduísmo, está contido no Maabárata.

Dataria desta época a organização da sociedade indiana em quatro varnas (castas).

[editar] Os 16 Mahajanapadas da Idade do Ferro

Os dezesseis Mahajanapadas da Idade do Ferro no subcontinente indiano, estendendo-se principalmente ao longo da planície gangética.
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Os dezesseis Mahajanapadas da Idade do Ferro no subcontinente indiano, estendendo-se principalmente ao longo da planície gangética.

Durante a Idade do Ferro, que começou na Índia em torno de 1000 a.C., diversos pequenos reinos e cidades-Estado cobriram o subcontinente, muitos mencionados na literatura védica a partir de 1000 a.C. Em torno de 500 a.C., dezesseis monarquias e "repúblicas", conhecidas como Mahajanapadas, estendiam-se através das planícies indo-gangéticas, desde o que é hoje o Afeganistão até Bangladesh: Kasi, Kosala, Anga, Magadha, Vajji (ou Vriji), Malla, Chedi, Vatsa (ou Vamsa), Kuru, Panchala, Machcha (ou Matsya), Surasena, Assaka, Avanti, Gandhara e Kamboja. Os maiores dentre aqueles países eram Magadha, Kosala, Kuru e Gandhara. A língua culta daquele período era o sânscrito, enquanto que os dialetos da população em geral do norte da Índia eram conhecidos como prácritos.

Os rituais hindus da época eram complicados e conduzidos pela classe sacerdotal. Os Upanixades, textos védicos tardios que lidavam principalmente com filosofia, teriam sido compostos no início daquele período e seriam portanto contemporâneos ao desenvolvimento do budismo e do jainismo, o que indicaria uma idade do ouro filosófica naquele momento, semelhante ao que ocorreu na Grécia antiga. Em 537 a.C., Gautama Buda atingiu a iluminação e fundou o budismo, inicialmente visto como um complemento ao darma védico. No mesmo período, em meados do século VI a.C., Mahavira fundou o jainismo. Ambas as religiões tinham uma doutrina simples e eram pregadas em prácrito, o que ajudava a disseminá-las entre as massas. Embora o impacto geográfico do jainismo tenha sido limitado, freiras e monges budistas levaram os ensinamentos de Buda à Ásia Central e Oriental, Tibete, Sri Lanka e Sudeste asiático.

Os Mahajanapadas eram, grosso modo, o equivalente às cidades-Estado gregas do mesmo período no Mediterrâneo, e produziam uma filosofia que viria a formar a base de grande parte das crenças do mundo oriental, da mesma maneira que a Grécia antiga produziria uma filosofia que embasaria grande parte das crenças do mundo ocidental. O período encerrou-se com as invasões persa e grega e a ascensão subseqüente de um único império indiano a partir do reino de Magadha.

[editar] Invasões persa e grega

Na altura do século V a.C., o norte do subcontinente indiano foi invadido pelo Império Aquemênida e, no final do século IV a.C., pelos gregos do exército de Alexandre, o Grande. Ambos os eventos repercutiram fortemente na civilização indiana, pois os sistemas políticos dos persas viriam a influenciar a filosofia política indiana, inclusive a administração da dinastia maurya, e formou-se um cadinho das culturas indiana, persa, centro-asiática e grega no que é hoje o Afeganistão, de modo a produzir uma singular cultura híbrida.

[editar] Império aquemênida

Grande parte do noroeste do subcontinente indiano (atualmente o leste do Afeganistão e quase todo o Paquistão) foi governada pelo Império Persa aquemênida a partir de cerca de 520 a.C. (durante o reinado de Dario, o Grande) até a sua conquista por Alexandre, o Grande. Os aquemênidas, cujo controle sobre a região durou 186 anos, usavam a escrita aramaica para a língua persa. Com o fim da dinastia, a escrita grega passou a ser mais comum.

[editar] O império de Alexandre

A interação entre a Grécia helenística e o budismo teve início com a conquista da Ásia Menor e do Império Aquemênida por Alexandre, o Grande. Em seu avanço, o monarca macedônio atingiu as fronteiras noroeste do subcontinente indiano em 334 a.C. Ali, derrotou o Rei Poro na batalha de Hidaspes (próximo à atual Jhelum[1], Paquistão) e apoderou-se da maior parte do atual Panjabe. Entretanto, as tropas de Alexandre recusaram-se a prosseguir além do Hifasis (rio Beas), próximo à atual Jalandhar, Índia. O monarca atravessou então o curso d´água e mandou erguer altares para marcar o extremo oriental de seu império.

Alexandre criou guarnições para suas tropas nos novos territórios e fundou diversas cidades nas regiões do Oxus, Aracósia e Báctria, bem como assentamentos macedônios/gregos em Gandhara e no Panjabe. Tais regiões incluíam o Passo Khyber (ao sul dos Himalaias e do Hindu Kuch) e um outro passo que ligavam Drangiana, Aracósia e outros reinos persas e centro-asiáticos à planície do Indo. Foi através daquelas áreas que a maior parte da interação entre o sul da Ásia e a Ásia Central ocorreu, com trocas comerciais e culturais.

O território correspondente aos atuais Panjabe, o rio Indo desde a fronteira de Gandhara até o Mar Arábico, e outras porções da planície índica tornou-se uma satrapia do império de Alexandre. Segundo Heródoto de Halicarnasso, esta era a mais populosa e rica dentre as vinte satrapias.

[editar] Império Magadha

Originalmente, Magadha era um dos dezesseis Mahajanapadas indo-arianos da Índia Antiga. O reino emergiu como uma grande potência após subjugar dois Estados vizinhos, e era dono de um exército incomparável na região.

Em 326 a.C., o exército de Alexandre, o Grande, aproximou-se das fronteiras do Império Magadha. As tropas, exaustas e receosas de enfrentar mais um gigantesco exército indiano no rio Ganges, amotinaram-se no rio Hifasis e recusaram-se a prosseguir em direção a leste. Naquelas condições, Alexandre decidiu avançar na direção sul, seguindo o Indo até o Oceano.

Pouco depois, Chandragupta, fundador da dinastia maurya, subiu ao poder em Magadha. O Império Maurya atingiu o zênite no reinado de Açoca Maurya, um dos mais lendários imperadores da Índia, quando incluía a maior parte do sul da Ásia. Posteriormente, Magadha também foi o cerne do poderoso Império Gupta.

[editar] Dinastia maurya

Mapa do subcontinente indiano com a localização do Império Maurya em seu momento de maior extensão (azul escuro) e seus aliados (azul claro).
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Mapa do subcontinente indiano com a localização do Império Maurya em seu momento de maior extensão (azul escuro) e seus aliados (azul claro).

Em 321 a.C., o general exilado Chandragupta Maurya fundou a dinastia maurya após derrubar o Rei Dhana Nanda de Magadha. A dinastia maurya lograria, com o tempo, reunir sob seu governo, pela primeira vez na história da Índia, a maior parte do subcontinente, formando o chamado Império Maurya. Ao aproveitar a oportunidade oferecida pela desestabilização da Índia setentrional devida às invasões persa e grega, Chandragupta conquistou não apenas quase todo o subcontinente mas também expandiu suas fronteiras para a Pérsia e a Ásia Central, conquistando a região de Gandhara. Convertido ao jainismo, Chandragupta Maurya promoveu o proselitismo daquela religião no sul da Índia.

Sucedeu-o seu filho Bindusara, que expandiu o império até abarcar um território correspondente a quase toda a atual Índia, à exceção de Kalinga e dos extremos sul e leste, que talvez fossem tributários. A Índia moderna é uma imagem da Mauryana, que uniu todos os povos e culturas dos reinos indianos até então separados sob uma mesma bandeira, e previu um destino comum para todos os indianos (naquela época, quase todos hindus e budistas). A tradição foi retomada posteriormente pelo Império Mogol e pela Índia britânica, que formaram Estados semelhantes.

Açoca, o Grande, sucedeu seu pai Bindusara e procurou expandir ainda mais o império. Como conseqüência da carnificina causada pela invasão de Kalinga, terminou por renunciar ao derramamento de sangue e adotou uma política de não-violência (ou ahimsa) após converter-se ao budismo. Os Editos de Açoca, os documentos históricos preservados mais antigos da Índia, permitem a datação das dinastias a partir de sua época. Com Açoca, a dinastia maurya foi responsável pela divulgação dos ideais budistas através de toda a Ásia Oriental e o sudeste asiático, de maneira a alterar fundamentalmente a história e o desenvolvimento da Ásia como um todo. Açoca, o Grande, foi descrito como um dos maiores soberanos que o mundo já conheceu.

[editar] Dinastia sunga

A dinastia sunga[2] foi estabelecida em 185 a.C. quando o último soberano maurya foi assassinado pelo então comandante-em-chefe das forças mauryas, Pusyamitra Sunga. O subseqüente Império Sunga, com capital em Pataliputra, controlou o nordeste da Índia (a planície gangética) até c. 73 a.C.

[editar] Reinos médios primitivos - a Idade de Ouro

Os chamados reinos médios da Índia foram entidades políticas existentes no período histórico entre o declínio do Império Maurya, no século II a.C. - e a correspondente ascensão dos andaras[3] (ou satavahanas) -, até a queda do Império Vijaynagar, no século XIII, com a correlata invasão muçulmana da Índia. Pode ser dividido em dois períodos, o primitivo e o tardio, separados pela queda do Império Gupta (século VII). A dinastia gupta costuma ser apontada como a Idade de Ouro da cultura indiana.

O período dos reinos médios foi caracterizado por ondas de invasões provenientes da Pérsia e da Ásia Central, começou com a expansão do budismo a partir da Índia e terminou com a conquista islâmica do subcontinente indiano.

[editar] Invasões de noroeste

Na esteira da desintegração do Império Maurya, durante o século II a.C., o sul da Ásia tornou-se uma colcha de retalhos de potências regionais com fronteiras sobrepostas. O Vale do Indo e as planícies gangéticas atraíram uma série de invasões entre 200 a.C. e 300 d.C. Tanto os andaras quanto, posteriormente, o Império Gupta, tentaram conter as invasões sucessivas, terminando, ambos, por entrar em colapso devido às pressões exercidas por tais guerras.

O budismo floresceu tanto sob o governo dos invasores, que adotaram aquela religião, quanto sob os andaras e os guptas, passando a representar uma ponte cultural entre as duas culturas que levou os invasores a tornar-se "indianizados". O período foi marcado por feitos intelectuais e artísticos inspirados pela difusão e pelo sincretismo culturais ocorridos em novos reinos localizados na Rota da Seda.

Dentre os invasores do período, destacam-se, sucessiva ou simultaneamente:

  • os indo-gregos (secessionistas do Reino Greco-Bactriano, este, por sua vez, secessionista do Império Selêucida): representantes do helenismo, ocuparam o território correspondente aos atuais Paquistão, sul do Afeganistão e noroeste da Índia. Governaram entre 180 a.C. até cerca de 10 d.C.;
  • os sacas[4] ou indo-citas: um ramo dos citas, estabeleceram-se no sul do Afeganistão e expandiram-se em direção a Gandhara, Caxemira e o noroeste da Índia, conquistando progressivamente território indo-grego. Seu predomínio na região durou do século II a.C. ao século I a.C.;
  • os indo-partos: após a conquista dos indo-citas pelos partos, um chefe parto declarou-se independente da Pártia e estabeleceu um reino separado que incluía o território correspondente aos atuais Afeganistão, Paquistão e norte da Índia no século I. O reino durou até 75, quando foi conquistado pelos kuchanos;
  • as satrapias ocidentais: de origem saca, controlaram, entre 35 e 405, boa parte das regiões central e ocidental da Índia (correspondentes aos atuais Guzarate, Maharashtra, Rajastão e Madhya Pradesh). Talvez fossem originalmente vassalos dos kuchanos ou dos partos. Eram contemporâneos dos kuchanos (com cujo império limitavam ao norte) e dos andaras (no centro da Índia); e
  • os kuchanos[5].

[editar] Império Kuchano

Resultado de mais uma dentre as invasões de noroeste, o Império Kuchano (séculos I a III) foi um Estado que, em seu zênite (c. 105-250), estendia-se do atual Tadjiquistão ao Mar Cáspio, dali até o atual Afeganistão, e na direção sul até o vale do rio Ganges. O império foi criado por tocários provenientes do que é hoje o Turquestão Oriental, na China, e manteve-se por séculos no centro das trocas entre o Oriente e o Ocidente, e seu controle sobre parte importante da Rota da Seda tornou-o um entreposto comercial entre indianos, persas, chineses e romanos. O mais conhecido soberano kuchano, Kanishka, reinou no início do século II e, convertido ao budismo, convocou um concílio budista na Caxemira. Ademais da literatura sânscrita, os kuchanos patrocinavam um estilo artístico que refletia uma síntese entre padrões gregos e indianos.

Perderam território na Ásia Central, devido a conflitos com o Império Sassânida, e na planície gangética, em favor do Império Gupta. O restante do território foi usurpado por um vassalo que estabeleceu o Reino Kidarita.

[editar] Andaras

Os andaras (ou satavahanas) eram uma dinastia vassala do Império Maurya e, portanto, nativa da Índia, mas declararam independência logo após a morte de Açoca (232 a.C.). A partir de então, formaram um império que controlou o centro e o sul da Índia (o Decão), mantendo a ordem naquela porção do subcontinente em especial após o fim dos mauryas e em face das sucessivas ondas de invasores vindos do noroeste.

Os andaras competiam pela supremacia na planície gangética com o Império Sunga, que controlava o nordeste da Índia entre c. 185 a.C. e 73 a.C.

Bateram-se ao longo do tempo contra os indo-gregos, os sátrapas ocidentais (indo-citas) e os indo-partos (partos). Embora pudessem resistir aos avanços dos seu inimigos (os andaras dispunham talvez das forças armadas mais poderosas da época na Ásia), os conflitos com os impérios constituídos pelos invasores de noroeste terminaram por enfraquecê-los até que, em cerca de 220, a dinastia extinguiu-se.

[editar] Império Gupta

Mapa do subcontinente indiano com a localização do Império Gupta (azul).
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Mapa do subcontinente indiano com a localização do Império Gupta (azul).

Da mesma forma que os andaras, os guptas foram uma dinastia nativa da Índia que se opôs aos invasores de noroeste. Nos séculos IV e V, a dinastia gupta unificou a Índia setentrional. Naquele período, conhecido como a Idade do Ouro indiana, a cultura, a política e a administração hindus atingiram patamares sem precedentes. Com o colapso do império no século VI, a Índia voltou a ser governada por diversos reinos regionais.

Suas origens são, em grande medida, desconhecidas. O viajante chinês I-tsing fornece a mais antiga prova da existência de um reino gupta em Magadha. Acredita-se que os puranas védicos foram redigidos naquela época; deve-se ao Império Gupta, também, a invenção dos conceitos de zero e infinito e os símbolos para o que viria a ser conhecido como os algarismos arábicos (1-9). O império chegou ao fim com o ataque dos hunos brancos provenientes da Ásia Central. Uma linhagem menor do clã gupta, que continuou a reinar em Magadha após a desintegração do império, foi finalmente destronada pelo Harshavardhana, que reunificou o norte do subcontinente na primeira metade do século VII.

[editar] Invasão dos hunos brancos

Os hunos brancos aparentemente integravam o grupo heftalita que se estabeleceu no território correspondente ao Afeganistão na primeira metade do século V, com capital em Bamiyan. Foram os responsáveis pela queda do Império Gupta, encerrando o que os historiadores consideram uma Idade do Ouro da Índia setentrional. Entretanto, grande parte do Decão e a Índia meridional mantiveram-se ao largo dos sobresaltos ocorridos ao norte.

O imperador gupta Skandagupta repeliu uma invasão huna em 455, mas os hunos brancos continuaram a pressionar a fronteira noroeste (atual Paquistão) e terminaram por penetrar o norte da Índia no final do século V, de maneira a acelerar a desintegração do Império Gupta. Após o século VI, há poucos registros na Índia acerca dos hunos. Seu destino é incerto: alguns estudiosos pensam que os invasores foram assimilados pela população local; outros sugeriram que os hunos seriam os ancestrais dos rajaputros[6].

[editar] Reinos médios tardios - a era clássica

Esta fase histórica pode ser definida como o período entre a queda do Império Gupta e as conquistas de Harshavardhana, por um lado, e o surgimento dos primeiros sultanatos islâmicos na Índia com o correlato declínio do Império meridional Vijaynagar, no século XIII, por outro. Naquela fase destacaram-se o Reino Chola, no território correspondente ao norte de Tâmil Nadu, e o Reino Chera, no que é hoje Kerala. Os portos da Índia meridional dedicavam-se então ao comércio do Oceano Índico, especialmente de especiarias, com o Império Romano a oeste e o sudeste da Ásia a leste. No norte, estabeleceu-se o primeiro dos Rajaputros, uma série de reinos que sobreviveria em certa medida por quase um milênio até a independência indiana frente aos britânicos. O período assistiu uma produção artística considerada a epítome do desenvolvimento clássico; os principais sistemas espirituais e filosóficos locais continuaram a ser o hinduísmo, o budismo e o jainismo.

No norte, sucederam o império formado por Harshavardhana as dinastias Pratihara, de Malwa (no atual Rajastão), Pala, de Bengala, e Rashtrakuta, do Decão, entre os séculos VII e IX. No sul e no centro, surgiram o Império Chalukya, de Badami (no atual Karnataka), e Pallavi, de Kanchipuram (no atual Tâmil Nadu), entre os séculos VI e VIII.

[editar] Dinastia chola

Os cholas emergiram como o império mais poderoso do subcontinente no século IX e mantiveram seu domínio até o século XII. Como uma dinastia de origem tâmil, seu centro de poder localizava-se no sul da península indiana. Seu zênite ocorreu durante os séculos X, XI e XII, quando governavam um território que incluía o sul do subcontinente, as ilhas Maldivas e parte do Ceilão, chegando em certo momento até o Ganges, ao norte, e ao Arquipélago Malaio, ademais de certos pontos ao longo do Golfo de Bengala.

Enquanto os cholas dominavam o sul, ao norte três reinos disputavam a supremacia: os pratiharas, no atual Rajastão, o Império Pala, nos atuais Bihar e Bengala, e os rashtrakutas, no Decão.

[editar] Rajaputros

A história registra os primeiros reinos rajaputros no Rajastão a partir do século VII, mas foi nos séculos IX a XI que passaram a participar ativamente os acontecimentos no subcontinente. As diversas dinastias rajaputras posteriormente governaram boa parte da Índia setentrional. Como regra geral, os rajaputros, devido a sua localização no norte do subcontinente indiano, foram os que mais enfrentaram as invasões islâmicas e a subseqüente expansão dos sultanatos muçulmanos. Em período histórico posterior, cooperaram com o Império Mogol.

[editar] Invasão islâmica

A invasão do subcontinente indiano por tribos e impérios estrangeiros foi freqüente ao longo da história, e costumava terminar com o invasor absorvido pelo cadinho sócio-cultural indiano. A diferença, na fase histórica em apreço, é que os Estados muçulmanos invasores - em geral, de origem turcomana - mantiveram, uma vez instalados no subcontinente, seu caráter islâmico, com repercussões até os dias de hoje.

A primeira incursão muçulmana (árabe omíada) de monta ocorreu no século VIII, contra o Baluchistão, Sind e o Panjabe, resultando em Estados islâmicos sobre os quais o controle do Califado era muito tênue. No início do século XI, a dinastia ghaznávida (de Ghazni, cidade do atual Afeganistão), de origem turcomana, avançou sobre o oeste e o norte da Índia, conquistando o Panjabe; a Caxemira, o Rajastão e Guzerate permaneceram sob controle dos rajaputros. No século XII, os ghóridas, uma dinastia também turcomana e originalmente do Afeganistão, venceram o império ghaznávida e alguns rajás do norte da Índia e lograram conquistar Délhi, ali fundando (já no século XIII) o Sultanato de Délhi.

[editar] Sultanato de Délhi

O Sultanato de Délhi (1206-1526) expandiu-se rapidamente até incluir a maior parte da Índia setentrional, do passo Khyber até Bengala. Posteriormente, conquistou o Guzerate e Malwa e voltou-se para o sul, chegando até o atual Tâmil Nadu. A expansão para o sul continuou pelas mãos do Sultanato Bahmani, que se separara de Délhi, e dos cinco sultanatos independentes do Decão, sucessores de Bahmani após 1518. O reino hindu de Vijayanagar uniu o sul da Índia e bloqueou o avanço muçulmano até cair frente aos sultanatos decanis, em 1565.

Talvez a contribuição mais importante do Sultanato tenha sido seu sucesso temporário em isolar o subcontinente da potencial devastação provocada pela invasão mongol da Ásia Central no século XIII. O Sultanato de Délhi foi absorvido em 1526 pelo Império Mogol.

[editar] Império Mogol

Mapa do subcontinente indiano com o Império Mogol em destaque.
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Mapa do subcontinente indiano com o Império Mogol em destaque.
O Taj Mahal, construído pelo Grão-Mogol Shah Jahan.
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O Taj Mahal, construído pelo Grão-Mogol Shah Jahan.

Em 1526, um descendente de Tamerlão chamado Babur, de origem turco-perso-mongol, atravessou o Passo Khyber, invadiu o subcontinente e estabeleceu o que viria a ser o Império Mogol, que perduraria por mais de dois séculos e cobriria um território ainda maior do que o do Império Maurya[7]. Por volta de 1600, a dinastia mogol já controlava a maior parte do subcontinente; entrou em declínio após 1707 e foi finalmente defenestrada pelos britânicos em 1857, após a revolta dos sipais. Este período foi marcado por grandes mudanças sociais, ocorridas numa sociedade de maioria hindu governada por grão-mogóis (imperadores) muçulmanos que, alguns, adotavam uma postura de tolerância religiosa, outros, destruíam templos hindus e cobravam impostos dos não-muçulmanos.

Da mesma maneira pela qual os conquistadores mongóis da China e da Pérsia haviam adotado a cultura local, os mogóis professavam uma política de integração com a cultura indiana que contribui para explicar o seu sucesso em comparação com o Sultanato de Délhi. Os grão-mogóis casaram-se com a realeza local, aliaram-se com marajás e procuraram fundir a sua cultura turco-persa com as tradições indianas.

[editar] Era pós-mogol

[editar] Império Marata

O Império Marata[8] (posteriormente conhecido como Confederação Marata) foi um Estado hindu que existiu entre 1674 e 1818 e que esteve freqüentemente em guerra com o Império Mogol muçulmano, contribuindo para o declínio deste último. Foi a força predominante no subcontinente durante a maior parte do século XVIII e logrou conter o avanço dos colonizadores britânicos. Disputas internas e três guerras anglo-maratas (final do século XVIII e início do século XIX) puseram fim ao império, cujo território foi em grande medida anexado ao Império Britânico, embora algumas regiões se tenham mantido nominalmente independentes como Estados principescos vinculados à Índia britânica.

[editar] Panjabe

Entre 1716 e 1799, o Panjabe foi governado por um conjunto de Estados siques[9] de médio porte conhecido como Confederação Sique. Embora em termos políticos a confederação fosse descentralizada, os Estados integrantes eram unidos em torno de uma cultura e religião comuns, representados pela religião sique. As duas guerras anglo-siques (1845 a 1849) resultaram na absorção do Panjabe pela Índia britânica.

[editar] Era colonial

A descoberta da rota marítima para a Índia em 1498, por Vasco da Gama, sinalizou o início do estabelecimento de territórios controlados pelas potências européias no subcontinente. Os portugueses constituíram bases em Goa, Damão, Diu e Bombaim, dentre outras. Seguiram-se os franceses e os neerlandeses no século XVII.

[editar] Índia britânica

Ver artigo principal: Índia britânica.

A Companhia Inglesa das Índias Orientais estabeleceu uma primeira base em Bengala, em 1757. Na altura dos anos 1850, os britânicos já controlavam quase todo o subcontinente, inclusive o território correspondente aos atuais Paquistão e Bangladesh. A revolta dos sipais, de 1857, forçou a companhia a transferir a administração da Índia para a coroa britânica.

[editar] Movimento de independência

Oganizações sociais fundadas no final do século XIX e início do século XX para defender os interesses indianos junto ao governo da Índia britânica transformaram-se em movimentos de massa contra a presença britânica no subcontinente, agindo por meio de ações parlamentares e resistência não-violenta. Após a partilha do antigo Raj britânico entre a República da Índia e o Paquistão, em agosto de 1947, o mundo testemunhou a maior migração maciça da história, quando um total de 12 milhões de hindus, siques e muçulmanos cruzaram a fronteira indo-paquistanesa.

Para a história da Índia após a independência em 1947, ver História da República da Índia e História do Paquistão.

[editar] Ver também

[editar] Referências

[editar] Notas

  1. O dicionário Onomástico Etimológico de J.P. Machado registra as formas Hidaspes e Djelam em língua portuguesa, ambas no verbete "Hidaspes".
  2. Talvez sejam os singas a que se refere o dicionário Houaiss no verbete "singa". Cabe uma pesquisa mais detalhada de fontes em português.
  3. Dicionário Houaiss, verbete "andara".
  4. O adjetivo e substantivo de dois gêneros saca, referente ao ramo do povo cita, é registrado no dicionário Houaiss e no dicionário de J.P. Machado.
  5. Não parece haver uma harmonia entre as fontes quanto à forma em língua portuguesa deste etnônimo, recebido do estrangeiro: kushana, kushano etc.
  6. Dicionário Houaiss, verbetes rajaputro e raiputo, ambos como substantivo e adjetivo. O dicionário Onomástico Etimológico de J.P. Machado registra ainda a forma reisbuto.
  7. O termo mogol, uma variante de mongol, é usado para diferenciar o império estabelecido por Babur no subcontinente indiano dos demais Estados formados a partir das invasões mongóis do século XIII.
  8. O etnônimo e gentílico marata está lexicografado (dicionários Houaiss e Aurélio).
  9. Os termos sique e siquismo são lexicografados (dicionários Houaiss e Aurélio).


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