Testimonium Flavianum
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[editar] Testimonium Flavianum
Flávio Josefo, que viveu de 37AD/CE até o ano 100 cita Jesus em seu livro Antigüidades Judaicas, livro 18, capítulo 3, item 3, escrito em 93 em grego. Este paragrafo ficou conhecido como Testimonium Flavianum.
"Havia neste tempo Jesus, um homem sábio, se é lícito chama-lo de homem, porque ele foi o autor de coisas admiráveis, um professor tal que fazia os homens receberem a verdade com prazer. Ele fez seguidores tanto entre os judeus como entre os gentios. Ele era o Cristo. E quando Pilatos, seguindo a sugestão dos principais entre nós, condeno-o à cruz, os que o amaram no princípio não o esqueceram; porque ele apareceu a eles vivo novamente no terceiro dia; como os divinos profetas tinham previsto estas e milhares de outras coisas maravilhosas a respeito dele. E a tribo dos cristãos, assim chamados por causa dele, não está extinta até hoje."
Versão árabe
Em 1971 o professor Shlomo Pines publicou uma tradução de um versão diferente desta passagem, citando um manuscrito árabe do século X. Este manuscrito aparece no Livro dos Títulos escrito por Agapius, um cristão árabe do século X e bispo melquita de Hierápolis. Agapius parece estar citando de memória pois até o título de Josefo é uma aproximação:
"Havia neste tempo um homem sábio chamado Jesus, e sua conduta era boa, e ele era conhecido como sendo virtuoso. E muitas pessoas entre os judeus e de outras nações se tornaram seus discipulos. Pilatus o condenou a ser crucificado e à morte. E aqueles que tinham se tornado seus discipulos não abandonaram sua lealdade a ele. Eles relataram que ele tinha aparecido para eles três dias após a crucificação, e que ele estava vivo. Eles acreditavam que ele era o Messias, a respeito de quem os profetas tinham contado maravilhas."
Pines faz referência também à versão Siriaca citada por Miguel, o Sírio em seu Crônica Mundial. Alice Whealey apontou que o texto de Miguel é idêntico ao de Jerônimo no ponto mais contencioso ("Ele era o Cristo" aparecendo como "Ele era tido como sendo o Cristo"), estabelecendo a existência de uma variante, já que escritores Latinos e Siríacos não liam uns aos outros na antigüidade.
[editar] Crítica sobre a autenticidade
Orígenes escrevendo em 240 fala a respeito da referência de Josefo a Tiago como irmão de Jesus no mesmo Antigüidades Judáicas mas não menciona o Testimonium Flavianum. Orígenes afirma que Josefo "não considerava Jesus como sendo o Cristo" ("Comm.Matt x17") e "não diz nada dos feitos maravilhosos de nosso Senhor" (Stromateis, ii 2), mas o "Testimonium" declara que Jesus é o Cristo. Isto fez com que, a partir do século 17, filologistas sugerissem que o Testimonium Flavianum não constava das cópias mais antigas ou pelo menos não na presente forma.
Muitos historiadores modernos tem argumentado que a passagem quebra a continuidade da narrativa e que são usadas palavras incomuns nos textos de Josefo, por exemplo Emilio Bossi escreve o seguinte:
" Esta passagem, ou período, está como que a esmo, em meio de um capítulo, sem conexão alguma com quanto a precede ou se lhe segue, alinhavada, por assim dizer, na descrição de um castigo militar infligido à populaça de Jerusalém e a dos amores de uma dama romana e de um homem que obtém os seus favores, fazendo-se passar, graças aos sacerdotes de Isis, por uma personificação do Deus Anúbis. Estes dois acontecimentos estão ligados pelo mesmo historiador com um outro, porque ao relatar o segundo chama-o outro acidente deplorável, de onde se depreende que esse outro acidente só pode relacionar-se com o primeiro, isto é, com a sedição popular e a repressão que se lhe seguiu."
A passagem também foi encontrada em um manuscrito da obra anterior de Josefo: As guerras judaicas,contudo é óbvio que se trata de uma falsificação piedosa.
[editar] A favor da autenticidade
A maioria dos autores, entretanto, observa que estas objeções não são conclusivas. Antigüidades Judáicas foi escrito por numerosos escribas e são comuns quebras de continuidade por todo o texto. Análise lingüística também não tem se mostrado conclusiva porque muitas outras passagens de Josefo contém caracteristicas incomuns.
Alice Whealey apresenta um manuscrito do século 5 que contém uma variante:"Ele era tido com sendo o Cristo" (onde, nos outros manuscritos, está "Ele era o Cristo"). O texto poderia ter sido corrompido por copistas.
Outro argumento é de que o texto foi escrito para romanos e os romanos sempre se referiam a Jesus como "Christus" o que não indicava profissão de fé mas uma mera identificação.
O Testimonium Flavianum tem estado sob suspeita desde o tempo do Arcebispo Ussher (1581–1656), e no começo do século XX, era considerado pela maioria como uma interpolação. Contudo, ao longo do último século o consenso dos estudiosos mudou, em grande parte por causa da descoberta de novos manuscritos.
[editar] Tiago, irmão de Jesus
Menos polêmica do que o Testimonium é esta passagem em que Josefo também cita Jesus mas sem parecer crer nele como Messias. Ela aparece já no final do Antigüidades quando Josefo está falando da situação politica da Judéia na década de 60.
"E agora Cesar, tendo ouvido sobre a morte de Festus, enviou Albinus à Judeia, como procurador. Mas o rei privou José do sumo sacerdócio, e outorgou a sucessão desta dignidade ao filho de Ananus [ou Ananias], que também se chamava Ananus. Agora as notícias dizem que este Ananus mais velho provou ser um homem afortunado; porque ele tinha cinco filhos que tinham todos atuado como sumo sacerdote de Deus, e que tinha ele mesmo tido esta dignidade por muito tempo antes, o que nunca tinha acontecido com nenhum outro dos nossos sumos sacerdotes. Mas este Ananus mais jovem, que, como já dissemos, assumiu o sumo sacerdócio, era um homem temperamental e muito insolente; ele era também da seita dos Saduceus, que são muito rígidos ao julgar ofensores, mais do que todos os outros judeus, como já tinhamos dito anteriormente; quando, portanto, Ananus supôs que tinha agora uma boa oportunidade: Festus estava morto, e Albinus estava viajando; assim ele reuniu o sinédrio dos juízes, e trouxe diante dele o irmão de Jesus, o que era chamado Cristo, cujo nome era Tiago e alguns outros; e quando ele formalizou uma acusação contra eles como infratores da lei; ele os entregou para serem apedrejados; mas para aqueles que pareciam ser os mais equânimes entre os cidadãos, e igualmente mais precisos quanto as leis, eles não gostaram do que foi feito; eles também enviaram ao rei [ Herodes Agripa II ]; pedindo que ele ordenasse a Ananus que não agisse assim novamente, porque isto que ele tinha feito não se justificava; alguns deles foram também ao encontro de Albinus, que estava na estrada retornando de Alexandria, e informaram a ele que era ilegal para Ananus reunir o sinédrio sem o seu consentimento. Albinus concordou com eles e escreveu iradamente a Ananus, e o ameaçou dizendo que ele seria punido pelo que havia feito; por causa disso, o rei Agripa tirou o sumo sacerdócio dele, quando ele o tinha exercido por apenas três meses, e fez Jesus, filho de Damneus, sumo sacerdote."
[editar] João Batista
Ainda no livro 18 do Antigüidades Judáicas Josefo estava descrevendo o reinado de Herodes Antipas e informa que este era casado com a filha de Aretas, um rei árabe vizinho com quem já tivera disputas territoriais. Antipas repudia a filha de Aretas para se casar com Herodias, mulher de seu meio-irmão. Valendo-se do pretexto, Aretas faz guerra a Herodes que tem seu exército destruido e a derrota seria certa se não fosse a intervenção romana.
"Mas para alguns judeus a destruição do exército de Herodes pareceu ser vingança divina, e certamente uma justa vingança, pelo tratamento dado a João, de sobrenome Batista. Porque Herodes o tinha condenado à morte, mesmo ele tendo sido um homem bom e tendo exortado os judeus a levar uma vida correta, praticar a justiça para com o próximo e a viver piamente diante de Deus, e fazendo isto se batizar.[...] Quando outros também se juntaram à multidão em torno dele, pelo fato de que eles eram agitados ao máximo pelos seus sermões, Herodes ficou alarmado. Eloqüência com tão grande efeito sobre os homens pode levar a alguma forma de sedição. Porque dava a impressão de que eles eram liderados por João em tudo que faziam. Herodes decidiu então que seria melhor atacar antes.[...] De qualquer forma João, por causa da suspeita de Herodes, foi trazido acorrentado à Machaerus, a fortaleza de que falamos antes, e lá executado, contudo o veredito dos Judeus era de que a destruição que visitou o exército de Herodes era vingança de João, que Deus achou por bem infligir este castigo à Herodes."
[editar] Ver também
- Publius Cornelius Tacitus atesta a existência de cristãos em Roma no tempo de Nero.
- Plínio o Novo cita os cristãos do segundo século em uma carta a Trajano
- Didaquê é um escrito do primeiro século que também cita Jesus
[editar] Bibliografia
- Flávio Josefo, Seleções de Flávio Josefo, Editora das Américas, 1974, tradução de P. Vicente Pedroso.
- Maria Antónia Costa Pereira - REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES – Ano III, 2004 / n.º 5/6 – 191-199
- James Carleton Paget, Some Observations on Josephus and Christianity, Journal of Theological Studies 52.2 (2001) pp. 539-624. Uma resenha sobre todas as teorias relativas, estudiosos e evidências.
- Shlomo Pines, An Arabic Version of the Testimonium Flavianum and its Implications, (Jerusalém: Israel Academy of Sciences and Humanities, 1971)
- Alice Whealey, Josephus on Jesus: The Testimonium Flavianum Controversy from Late Antiquity to Modern Times, Peter Lang Publishing (2003). Como o TF tem sido visto por séculos.