Narração
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A narração ou narrativa pode ser definida como um dos três modos literários, sendo os outros o lírico e o dramático; ou como um dos três modos básicos de redação, sendo os outros a descrição e a dissertação.
Basicamente narrar é contar uma história, e para tanto teremos personagens, cenários, conflitos, cenas. O estudo da narrativa e destes elementos é chamado de narratologia, comumente associado ao estruturalismo mas com referências na Poética grega e no formalismo russo.
Roland Barthes, mestre no estudo da narrativa, afirma que "a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades, começa com a própria história da humanidade; é fruto do génio do narrador ou possui em comum com outras narrativas uma estrutura acessível à análise".
Índice |
[editar] Acção
A acção é o conjunto de acontecimentos que se desenrolam num determinado espaço e tempo. Aristóteles, em sua Poética, já afirmava que "sem acção não poderia haver tragédia". Sem dificuldade se estende o termo tragédia à narração, e assim a presença de acção é o primeiro elemento essencial ao texto narrativo.
[editar] Estrutura da acção
A acção da narrativa é constituida por três acções: Intriga, Acção principal e Acção secundária.
- Intriga: Acção considerada como um conjunto de acontecimentos que se sucedem, segundo um princípio de causalidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma acção fechada.
- Acção principal: Integra o conjunto de sequências narrativas que detêm maior importância ou relevo.
- Acção secundária: A sua importância define-se em relação à principal, de que depende, por vezes; relata acontecimentos de menor relevo.
[editar] Sequência
A acção é constituida por um número variável de sequências (segmentos narrativos com princípio, meio e fim), que podem aparecer articuladas dos seguintes modos:
- Encadeamento ou organização por ordem cronológica
- Encaixe, em que uma acção é introduzida numa outra que estava a ser narrada e que depois se retoma
- Alternância, em que várias histórias ou sequências vão sendo narradas alternadamente
pela forma que foi escrita esse eu lirico deve ser mais abrangente de forma que o leitor se familiarize com a leitura.
[editar] Tempo
- Tempo cronológico ou tempo da história - determinado pela sucessão cronológica dos acontecimentos narrados.
- Tempo histórico - refere-se à época ou momento histórico em que a acção se desenrola.
- Tempo psicológico - é um tempo subjectivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonância com o seu estado de espírito.
- Tempo do discurso - resulta do tratamento ou elaboração do tempo da história pelo narrador. Este pode escolher narrar os acontecimentos:
- por ordem linear
- com alteração da ordem temporal (anacronia), recorrendo à analepse (recuo a acontecimentos passados) ou à prolepse (antecipação de acontecimentos futuros);
- ao ritmo dos acontecimentos (isocronia), como, por exemplo, na cena dialogada;
- a um ritmo diferente (anisocronia), recorrendo ao resumo ou sumário (condensação dos acontecimentos), à elipse (omissão de acontecimentos) e à pausa (interrupção da história para dar lugar a descrições ou divagações).
[editar] Personagens
Roland Barthes, além de retomar a importância que os clássicos davam à acção, avança ao afirmar que “não existe uma só narrativa no mundo sem personagens”. Aqui se entende personagem não como pessoas, seres humanos. Um animal pode ser personagem (Revolução dos Bichos), a morte pode ser personagem (As intermitências da morte), uma cidade decadente ou uma caneta caindo podem ser personagens, desde que estejam num espaço e praticando uma ação, ainda que involuntária.
[editar] Relevo das personagens
- Protagonista, personagem principal ou herói: desempenha um papel central, a sua actuação é fundamental para o desenvolvimento da acção.
- Personagem secundária: assume um papel de menor relevo que o protagonista, sendo ainda importante para o desenrolar da acção.
- Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da acção, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante.
[editar] Composição
- Personagem modelada ou redonda: dinâmica, dotada de densidade psicológica, capaz de alterar o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao longo da narrativa.
- Personagem plana ou desenhada: estática, sem evolução, sem grande vida interior; por outras palavras: a personagem plana comporta-se da mesma forma previsível ao longo de toda a narrativa.
- Personagem-tipo: representra um grupo profissional ou social.
- Personagem colectiva: Representa um grupo de indivíduos que age como se os animasse uma só vontade.
[editar] Caracterização
- Directa
- Autocaracterização: a própria personagem refere as suas características.
- Heterocaracterização: a caracterização da personagem é-nos facultada pelo narrador ou por outra personagem.
- Indirecta: O narrador põe a personagem em acção, cabendo ao leitor, através do seu comportamento e/ou da sua fala, traçar o seu retrato.
[editar] Espaço ou Ambiente
• Espaço ou Ambiente físico: é o espaço real, que serve de cenário à ação, onde as personagens se movem.
• Espaço ou Ambiente social: é constituído pelo ambiente social, representando, por excelência, pelas personagens figurantes.
• Espaço ou Ambiente psicológico: espaço interior da personagem, abarcando as suas vivências, os seus pensamentos e sentimentos.
O espaço ou ambiente pode ser desde uma praia a um lago congelado. De acordo com espaço ou ambiente é que os fatos da narração se desenrolam.
[editar] Narrador
- Participação
- Heterodiegético: Não participante.
- Autodiegético: Participa como personagem principal.
- Homodiegético: Participa como personagem secundária.
- Focalização: É a perspectiva adoptada pelo narrador em relação ao universo narrado.
- Focalização omnisciente: colocado numa posição de transcendência, o narrador mostra conhecer toda a história, manipula o tempo, devassa o interior das personagens.
- Focalização interna: o narrador adopta o ponto de vista de uma ou mais personagens, daí resultando uma diminuição de conhecimento.
- Focalização externa: o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do exterior.
[editar] Sucessão e Integração
Claude Bremond, ao definir narrativa, acrescentará a sucessão e a integração como essenciais para a narratividade: "Toda narrativa consiste em um discurso integrando uma sucessão de acontecimento de interesse humano na unidade de uma mesma ação. Onde não há sucessão não há narrativa, mas, por exemplo, descrição, dedução, efusão lírica, etc. Onde não há integração na unidade de uma ação, não há narrativa, mas somente cronologia, enunciação de uma sucessão de fatos não relacionados".
[editar] Totalidade de significação
A totalidade de significação é apontada por Greimas como outro elemento fundamental da narrativa. Ainda que aparentemente o leitor não entenda um texto, há de ter nele uma significação para que se configure como história, como narração.
[editar] Em prosa e verso
Apesar de aparecer comumente em prosa, a narração pode existir em versos. Os exemplos clássicos são as epopéia, como a Odisséia, ou os romanceiros, como o Romanceiro da Inconfidência. Mas poemas como O Caso do Vestido e Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, são verdadeiras narrativas em versos, com acção, personagens, sucessão, integração e significação.