Medicina tradicional
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Medicina tradicional é um têrmo que se refere às práticas de medicina desenvolvidas antes do que se classifica como medicina moderna, diversas práticas que podem ser enquadradas nesta classificação são praticadas ainda hoje por culturas de vários locais do planeta.
Segundo a OPAS-WHO, a medicina tradicional é o total de conhecimento técnico e procedimentos baseado nas teorias, crenças e as experiências indígenas de diferentes culturas, sejam ou não explicáveis pela ciência, usados para a manutenção da saúde, como também para a prevenção, diagnose, melhoria ou tratamento de doenças físicas e mentais. Em alguns países utilizam-se indistintamente os têrmos medicina complementar, medicina alternativa, ou, medicina não-convencional, e medicina tradicional. (OMS/WHO, 2000)
“Medicina tradicional" é um termo amplamente utilizado para referir-se aos diversos sistemas de MT como por exemplo a medicina tradicional chinesa, a ayurvédica hindu, a medicina unani árabe, e as diversas formas de medicina indígena.
As terapias da MT incluem terapias com medicação, se implicam no uso de preparados a base de ervas, partes de animais e/ou minerais, e terapias sem medicação, se, se realizam principalmente sem uso de medicação, como no caso da acupuntura, das terapias manuais e das terapias espirituais.
Nos países donde o sistema de saúde dominante (hegemônico) se baseia na medicina alopática, ou onde a MT ainda não se incorporou no sistema nacional de saúde, não se distingue dos demais aspectos dos sistemas tradicionais, seja por sua transmissão oral de lendas – onde são atualizados valores espirituais, ético/morais, e acontecimentos históricos significativos, seja por se caracterizar como conhecimento empírico/prático resultante de hábitos consagrados pela experiência, a não ser quando se associa a práticas médicas profissionais reconhecidas, (hegemônicas ou não hegemônicas), consideradas como plausíveis pela medicina moderna ou científica. (OMS/WHO, 2002)
A contribuição de Arthur Kleinman na área da antropologia médica, para distinção da medicina tradicional do conhecimento de saúde científico e dos distintos povos é notável. Segundo esse autor, um sistema etnomédico e/ou a medicina folk, distingue-se da – medicina popular, familiar praticada por todos os membros de uma comunidade e da medicina profissional científica, ocidental /cosmopolita ou mesmo da medicina alternativa e complementar resultante da profissionalização das práticas indígenas e tradicionais (Chinesa, Ayurvédica ou Européias medievais não hegemônicas, tipo: quiropraxia, hidroterapia, apitoxinoterapia, etc.).
Essa distinção também pode ser feita identificando-se práticas populares e as técnicas ou formas de conhecimento mais organizado, que podem ser descritas a partir da terminologia proposta por Luz (1988), como uma racionalidade médica ou sistema lógico e teoricamente estruturado, tem como condição necessária e suficiente para ser considerado como tal, a presença dos seguintes elementos:
-
- 1. Uma morfologia (concepção anatômica);
- 2. Uma dinâmica vital ( "fisiologia" );
- 3. Um sistema de diagnósticos;
- 4. Um sistema de intervenções terapêuticas;
- 5. Uma doutrina médica (cosmologia).
Em princípio a medicina popular (folk) não profissional (religiosa) pode ser transformada em prática profissional por vários mecanismos de legitimação social, exige um especialista e um processo médico - sagrado (iniciático) de especialização, caracteriza-se por possuir escolas, documentos, mestres e discípulos.
Numa comparação entre as proposições de Peter Berger e seu “dossel de símbolos” que compõem a pluralidade dos sistemas simbólicos alternativos do mundo moderno e a “eficácia simbólica” do xamãnicos e psicanálise Levi Strauss, Figueira, 1976 contribui para compreensão da organização simbólica das sociedades complexas propondo o uso do têrmo “terapêuticas” para todos os recursos que uma sociedade põe a disposição de sujeitos que estão doentes ou que, por diversos motivos, atravessam períodos críticos de vida.
Para esse autor a psicanálise, umbanda e sistemas xamãnicos têm em comum a característica de atuarem como sistemas simbólicos nas tentativas de ajustamento do indivíduo às comunidades sócio-lingüística (atuando como matrizes de significado) nos indivíduos e/ou sistemas simbólicos individuais que se caracterizam por encontrarem-se em isolamento, processo de intercomunicação e relativização ou desorientação (não ajustamento ou estraçalhamento de relações sociais de fidelidade a grupo e alianças). Os candomblés e a umbanda no Brasil já foram proibidos e/ou autorizados pela polícia para se instalarem nos bairros urbanos até quase finais do século XX.
A necessidade de intervir nas formas de cuidar de deficientes, e idosos organizando seus hábitos e mesmo modificar hábitos prejudiciais à saúde, algumas vezes associados à práticas culturais como tabagismo, sedentarismo, hábitos profissionais de risco, etc., tem oposto resistência à incorporação acrítica do conceito biomédico de doença.
A hipótese de que o conceito de doença comporta componentes não-físicos, não-químicos e não-biológicos tem sido um dos principais temas da antropologia médica contemporânea, é quase um consenso que os conceitos de "disease" (doença/patologia), "illness" (enfermidade) e "sickness" (mal-estar, sofrimento) são distintos e devem referir-se a facetas diversas do complexo saúde-doença-cuidado.
Para Laplatine a percepção e resposta de um grupo social à patologia, pode ser pensada através da elaboração e analise de modelos etiológicos e terapêuticos. Um modelo é: uma construção teórica, caráter operatório (hipótese) e também uma construção metacultural ou seja que visa fazer surgir e analisar as formas elementares da doença e da cura - sua estrutura seus invariantes tornando-o comparável a outros sistemas (Laplatine)
Observe-se porém, que tais sistemas tradicionais que reúnem crenças e observações empíricas, surgido em um determinado momento da história, não correspondem exatamente ao resultante do método científico renascentista cartesiano ainda sob o paradigma mecanicista.
Corresponde mais exatamente a uma forma de evolução distinta, visível nos olhos da antropologia médica clínica, para desgosto dos evolucionistas que querem ver na ciência ocidental, uma conseqüência natural do desenvolvimento dos sistemas mágicos – religiosos (míticos).
[editar] Bibliografia
- Estrella, Eduardo. As Contribuições da Antropologia à Pesquisa em Saúde IN: Nunes, E.D.; As Ciencias Sociais em Saúde na América Latina,Tendências e Perspectivas. Brasilia, OPAS, 1985
- Figueira, Sérvulo Augusto. Notas introdutórias ao estudo das terapêuticas I: Lévi-Strauss e Peter Berger. Revista de Psiquiatria e Psicologia da Infância e da adolescência, v. 2:39-66, 1976
- Kleinman, Arthur Concepts and a Model for the comparison of Medical Systems as Cultural Systems. IN: Currer,C e Stacey,M / Concepts of Health, Illness and Disease. A Comparative Perspective, Leomaington 1986
- Laplatine, F. Antropologia da Doença. SP, Martins Fontes, 1991
- Luz, Madel T. Natural, Racional, Social ; Razão Médica e Racionalidade Científica Moderna, Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1988
- Luz, Madel T Anotações da Comunicação : Racionalidades Médicas e Terapêuticas Alternativas no I Encontro Nacional de Antropologia Médica Ba - 1993
- Organización Mundial de la Salud. Pautas generales para las metodologías de investigación y evaluación de la medicina tradicional. Ginebra, WHO/ EDM/ TRM/ 2000.1
- OMS - Organización Mundial de la Salud. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2002–2005. Ginebra, WHO/EDM/TRM/2002.1