Filosófico-científico
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Os gregos do Séc. VI a.C passaram a pensar de forma específica a forma de o homem tentar entender o mundo que o cerca, com especificidades próprias. Enquanto os outros povos usavam o pensamento mítico para explanação de aspectos essenciais da realidade da vida, os gregos buscavam nas próprias coisas naturais as explicações do mundo natural.
A narrativa mítica fazia parte de uma tradição cultural, era transmitida de geração para geração, sem se permitir questionar, justificar, pressupondo a aceitação dos indivíduos, pois o mito constitui a própria visão de mundo dos indivíduos de determinada sociedade, apelando ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, e á magia. Uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual somente os sacerdotes, os magos, são capazes de interpretar é quem governa as causas dos fenômenos naturais, o homem e a própria sociedade. Para se alcançar algum favor de uma divindade, realidade exterior, eram necessários cultos e sacrifícios religiosos. O pensamento filosófico-científico nasce de uma insatisfação com o tipo de explicação do real que o pensamento mítico oferece. Então, busca-se uma explicação do mundo natural nas próprias causas naturais. A explicação do mundo está no próprio mundo.
O processo de secularização na antiguidade se dá através de um longo período de transição e de transformação da própria sociedade grega, no período de decadência da civilização micênico-cretense na Grécia, por volta do século XII a.C. Tribos dóricas invadem a Grécia, surgem Cidades-estados, convivência de diferentes culturas e tradições míticas, relativando, assim, os mitos. Havia participação ativa de cidadãos na nova ordem econômica, que se evidencia, baseada em atividades comerciais e mercantis, passando a preocupar-se mais com a vida social, fazendo deixar de lado o pensamento mítico, e buscando mais o pensamento filosófico-científico.
O pensamento filosófico-científico tem por base, para explicar a realidade, um conjunto de noções que são o fundamento da construção das teorias sobre a natureza.
a. A Physis, que significa natureza, é o objeto de investigação dos primeiros filósofos-cientistas. Partindo do mundo natural, tentam explicar as causas dos fenômenos naturais, que quer dizer que as respostas para os eventos que acontecem no mundo natural estão nele próprio. Não é necessário recorrer ao divino, aliás, o sobrenatural não tem condições de esclarecer nada.
b. A causalidade é invocada para basear explicações de acontecimentos naturais. Explicar é relacionar um efeito a uma causa que o antecede e o determina. Deve haver um nexo de causalidade entre os acontecimentos naturais. Não acontece nada na natureza se não houver, na própria natureza, algo que cause esse acontecimento. Porém, o caráter regressivo da explicação causal, determinando que um evento é causado por um outro que o antecede, leva-nos a invalidar o sentido da explicação, pois chegaríamos ao inexplicável, já que sempre haverá um evento a ser explicado, assim ocorrendo infinitamente.
c. A arqué (elemento primordial) é o ponto de partida para todo o processo racional, evitando, assim, a regressão ao infinito da explicação causal. Com a definição do arqué, tenta-se explicar, com maior profundidade, a realidade das coisas. Fica estabelecido um princípio básico natural que permeia toda a realidade, unificando-a. Com isso dá um caráter geral para este tipo de explicação.
d. O cosmo tinha como idéia básica a ordem racional das coisas, com hierarquia entre os elementos que organizam a realidade e tendo a causalidade como lei principal. O mundo sendo ordenado racionalmente pode ser entendido pelo homem, pois se pressupõe que há correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real – cosmo, sendo possível explicá-lo através de teorias.
e. O logos, com significado de discurso racional, é uma explicação do real, em que razões são dadas, baseadas no pensamento humano, aplicado ao entendimento da natureza, sujeito à crítica e à discussão.
f. O caráter crítico do saber, torna possível discussão e suscitação de divergência e discordância das teorias formuladas, permitindo o desenvolvimento de alternativas com propostas de correções dessas teorias, desde que todo posicionamento seja respaldado por fundamentação, e aberto a críticas.
Bibliografia Marcondes, Danilo Iniciação à História da Filosofia Rio de Janeiro Jorge Zahar Ediora 2001, p. 19-27