Convento de São Francisco (Guimarães)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Se tem algum conhecimento sobre este assunto, por favor verifique a consistência e o rigor deste artigo.
Não dispomos de uma descrição do interior da capela-mor da igreja anterior a 1692, data das “Memórias” do Padre Torquato Peixoto de AZEVEDO. Os vestígios que chegaram ao nosso tempo, e que Alfredo GUIMARÃES não chegou a conhecer, comprovam que o interior da capela-mor estava forrado de pinturas a fresco de grande interesse artístico a avaliar pelo fragmento que foi possível destacar e que, depois de retirado e restaurado, se encontra hoje no coro alto da igreja conventual.
Afirma Catarina Vilaça de SOUSA que “apenas aquando da intervenção da DGEMN (Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais) nos anos 70 se terão descoberto as pinturas” [ ]. Não é verdade, encontra-se no Arquivo da Ordem Terceira de S. Francisco a correspondência trocada em 1886-1887 com a Real Associação dos Architectos e Archeologos Portuguezes onde se faz referência a esses frescos. Em 27 de Dezembro de 1886 o secretário da Ordem Terceira escreveu a essa Real Associação dizendo que era intenção da Mesa da Instituição mandar limpar a abóbada da capela-mor da igreja, pondo o granito a descoberto, porque, no estado em que estava, se destacava bastante do resto do interior do edifício. Todavia, como havia opiniões de que, embora a abóbada não fosse agradável à vista, se devia conservar como estava, “a meza, para declinar a responsabilidade de proceder sem consultar os homens da sciencia”, suspendeu os trabalhos e pediu à Real Associação uma opinião sobre o assunto. A resposta veio em 22 de Janeiro seguinte. Referindo-se “às pinturas a fresco que foram ultimamente descobertas na abside da sua igreja”, disse que “religiosamente devem ser conservadas, pela raridade de descobertas semelhantes, por serem um authentico titulo da antiguidade d’esse edificio religioso, para servirem de comparação com trabalhos identicos de outras epocas, e para engrandecimento do edificio que pode patentear mais um exemplar artistico de tam remota era”.
O mais que se pode dizer é que esses frescos foram “redescobertos” na década de 60 do século findo, tapados com tijolos, a que se devem somar numerosos fragmentos descobertos recentemente e que podem observar-se in situ, debaixo e ao lado dos janelões da ábside, por trás do retábulo.
Num caderno de encargos de 13 de Março de 1967 fazia referência: “à decoração que realiza-ram na capela-mor os artistas pintores cobrindo a testeira com belas pinturas a fresco que tanto estiveram em voga e das quais já infelizmente pouco resta, provavelmente destruídas quando aí instalaram o actual altar de talha doura-da, que nas suas linhas gerais também constitui uma peça ricamente projectada e de grande valor artístico” [ ]. Mas os causadores da destruição dos frescos não foram os trabalhadores que por volta de 1744 instalaram o retábulo; a destruição ocorreu uns vinte anos antes quando os religiosos, ou mais provavel-mente a Mesa da Irmandade de Santo António, decidiu forrar de azulejos a capela-mor e parte do transepto da igreja. Efectivamente, quem observar com atenção as paredes internas da ábside notará que sobre alguns restos de frescos está uma camada de argamassa sobre a qual foram colocadas fiadas de azulejos, depois removidos.
Na intervenção que a DGEMN realizou em 1967, procedeu-se à “descolagem cuidadosa da pintura a fresco existente sobre uma parte de duas frestas da testeira da capelamor, incluindo a seu fixação em placa especial e respectivo retoque da camada policromada”; e num ofício de 5 de Janeiro de 1971 enviado pelo Arquitecto Director ao Director-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, informa em Dezembro do ano findo os frescos já haviam sido retirados dos entaipamentos das frestas da capela-mor da igreja, “trabalho este que a Irmandade da Igreja de S. Francisco entregou ao IJF [Instituto José Figueiredo] para efeitos de execução dos trabalhos adequados de tratamento e montagem em placas apropriadas”. O destacamento dos frescos foi feito pelo artista-pintor Baganha do antigo IJF (Instituto José de Figueiredo) e enviado pela Ordem Terceira em 19 de Outubro de 1970 [ ]. Um dos frescos encontrados – havia, parece, mais que um – representando um Bispo e um Santo Franciscano [ ], foi colocado num suporte de tela e novamente tratado por Teresa Cabral [ ]. Este fragmento é descrito na ficha 0308630027 do IPA como sendo um “Painel de frescos com figuração de Santo António entre estruturas arquitectónicas.”. Não se conhecem as razões que conduziram a essa identificação já que a figura não ostenta os tradicionais atributos antonianos. O facto de os frescos terem sido escondidos por azulejos com os milagres de Santo António não basta para justificar essa identificação.
Em 12 de Outubro de 1974, a DGEMN escrevia: “Sendo notório que o fresco da Igreja de S. Fran-cisco, em Guimarães, que ali foi colocado após ter beneficiado de trabalhos de consolidação e restauro apresenta eflorescências em alguns locais, que são sinais evidentes de início de deterioração, pelo que convinha dar conhecimento ao IJF a fim de ser vistoriado logo que seja possível a deslocação da equipe especializada (…)”. Presume-se que foi consequência desta chamada de atenção que o fresco do Bispo foi remetido novamente para Lisboa em 1975.
O fresco restaurado foi primeiramente colocado no absidíolo Norte da igreja, donde passou mais recentemente para o coro alto, onde ainda hoje se encontra. De outros frescos retirados da ábside da igreja na mesma altura, “perdeu-se o rasto do ponto de vista administrativo e material”, diz Catarina Vilaça de SOUSA.
Enquanto não for feito um estudo em profundidade sobre a matéria não poderemos fazer um cálculo aproximado da área coberta pelos frescos, sua iconografia e datação: os azulejos impedem-nos de formular uma hipótese credível.
