Calouste Gulbenkian
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Calouste Sarkis Gulbenkian (Üsküdar, 23 de Março de 1869 — Lisboa, 20 de Julho de 1955) foi um engenheiro e empresário arménio naturalizado britânico, activo no sector do petróleo e um dos pioneiros no desenvolvimento do sector petrolífero no Médio Oriente. Foi também um importante mecenas, com um grande contributo para o fomento da cultura em Portugal. A sua herança esteve na origem da constituição da Fundação Calouste Gulbenkian.
Nasceu numa família de abastados comerciantes arménios. Estuda em Londres, no King's College, onde obtem o diploma de engenharia em 1887. Fez uma viagem à Transcaucásia em 1891, visitando os campos petrolíferos de Baku.Publica aos 22 anos o livro La Transcaucasie et la Péninsule d'Apchéron - Souvernirs de Voyage, do qual alguns capítulos se publicam numa revista que chega às mãos do ministro das minas do governo otomano. Gulbenkian é por este encarregado de elaborar um relatório sobre os campos de petróleo do Império Otomano, em especial na Mesopotâmia.
Negociador hábil e esclarecido, perito financeiro de grande categoria, Gulbenkian negoceia contratos de exploração petrolífera com os grandes financeiros internacionais e as autoridades otomanas, fomentando a exploração racional e organizada desta fonte de energia emergente. A indústria internacional dos petróleos começa a tomar forma no fim do século XIX. Gulbenkian organiza o grupo Royal Dutch Shell, serve de ligação entre as indústrias americanas e russas e dá o primeiro impulso à indústria na região do Golfo Pérsico.
Durante a Primeira Guerra Mundial sugere em França a criação de um gabinete para controlo do petróleo, o Comité Générale du Pétrole, chefiado por Henri Bérenger. Ao serviço deste comité, obtém êxito para um seu plano: pelo tratado de San Remo (1920), a França ganha à Grã-Bretanha o direito a administrar os interesses do Deutsche Bank na companhia de petróleo turca (os ingleses faziam-no desde 1915).
Em 1928, desempenha papel fulcral nas negociações multipartidas entre grandes empresas internacionais para a divisão da então Turkish Petroleum Co., Ltd. (hoje a Iraq Petroleum Co., Ltd.) entre a Anglo-Persian Oil Co. (hoje a BP), a Royal Dutch Shell Group, a Companhia Francesa de Petróleos e a Near East Development Corp. (metade da Standard Oil e metade da Socony Mobil Oil). A cada uma cabe 23,75% do capital, e a Calouste Gulbenkian 5%. Este facto origina que Gulbenkian fique conhecido na indústria dos petróleos como o Senhor Cinco por Cento. A riqueza que acumulou permitiu-lhe satisfazer a paixão pelas obras de arte.
[editar] Coleccionador de Arte
Calouste Gulbenkian foi um amador de arte e homem de raro e sensível gosto, além de reunir uma extraordinária colecção de arte, principalmente europeia e asiatica, de mais de seis milhares de peças.
Na arte europeia, reuniu obras que vão desde os mestres primitivos à pintura impressionista. Uma parte desta colecção esteve exposta por empréstimo, entre 1930 e 1950, na National Gallery em Londres, e à National Gallery of Art em Washington DC. Figuram na colecção obras de Carpaccio, Rubens, Van Dyck, Rembrandt, Gainsborough, Romney, Lawrence, Fragonard, Corot, Renoir, Boucher, Manet, DEgas, Monet e muitos outros.
Além da pintura, reuniu um importante espólio de escultura do antigo Egipto, cerâmicas orientais, manuscritos, encadernações e livros antigos, artigos de vidro da Síria, mobiliário francês, tapeçarias, têxteis, peças de joalharia de René Lalique, moedas gregas, medalhas italianas do Renascimento, etc.
Foi desejo de Gulbenkian que a colecção que reuniu ao longo da vida ficasse exposta num mesmo local. Assim é, em Lisboa, desde Junho de 1960. Em 1969 é inaugurado o espaço onde se encontra o edifício-sede da Fundação Calouste Gulbenkian, que inclui o Museu onde se encontra esta colecção permanente, além de um Centro de Arte Moderna, salas de conferência, biblioteca, dois auditórios e jardins.
[editar] Filantropia
Tal como soube reunir uma enorme fortuna ao longo da vida, Gulbenkian soube distribuí-la em testamento com generosidade. Na caridade, deixou verbas para especial protecção das comunidades arménias, que à altura não tinham asseguradas as necessidades básicas pelas organizações internacionais. Foi benfeitor do Patriarcado Arménio de Jerusalém. Como era devoto da Igreja Arménia, fez construir em Londres a Igreja de São Sarkis, dedicado à memória dos seus pais e onde se encontram as suas cinzas.
Em Abril de 1942, entra em Portugal pela primeira vez, convidado pelo embaixador de Portugal em França. Inicialmente, Lisboa seria apenas uma escala numa viagem a Nova Iorque, mas o empresário adoece e acaba ficando mais tempo do que havia planeado, agradado com a paz que em Portugal se vive e devasta o resto da Europa. Sentindo-se bem acolhido numa Lisboa tranquila numa Europa destruída pela guerra, estabelece residência permanente em Lisboa, no Hotel Aviz. Acaba por se instalar definitivamente até à sua morte em 1955.
O testamento, datado de 18 de Junho de 1953, cria a fundação com o seu nome que fica herdeira do remanescente da sua fortuna, e que tem fins caritativos, artísticos, educativos e científicos, escolhendo Portugal para sua fixação - agradecendo, postumamente, o acolhimento que teve num momento crítico da história da Europa e sabendo o respeito que em Portugal haveria pelo escupuloso cumprir das suas vontades.