Ajustamentos
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Um conflito cria em nós certa angústia, essa angústia é o que nos motiva a resolver esse problema, porém, nem sempre o indivíduo é capaz de resolver um problema de forma imediata e direta, pois nossos problemas pessoais quase nunca podem ser resolvidos através da razão.
Isso se dá pelo fato de que os problemas pessoais têm um certo envolvimento emocional que diminuem nossa objetividade, consequentemente somos levados a resolvê-lo de forma indireta e tortuosamente, buscando um ajustamento, mas o que vem a ser um ajustamento? Uma definição para ajustamento diz que ajustamento consiste nos processos pelos quais nos adaptamos às exigências que nos são impostas pela sociedade em que vivemos; tais processos adaptativos são o que chamamos de mecanismos de defesa. A seguir serão citados os principais mecanismos de defesa da mente humana:
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[editar] Racionalização
Existe em nós uma luta constante para dar sentido ao nosso próprio mundo de experiências, uma procura de explicações para nossos fenômenos internos, nosso comportamento e sentimento. Para satisfazer essa busca, evitando a angústia e mantendo o auto-respeito, criamos “explicações”, altamente deformadas por fatores emocionais e motivacionais, para justificar nosso Eu; buscamos “boas razões”, ainda que falsas, para nossas atitudes e fracassos. Tal acomodação ao conflito é o que chamamos de Racionalização. São exemplos de Racionalização um rapaz que viaja de graça em um ônibus, e busca várias justificativas para seu ato como “a passagem é muito cara”, “a empresa já tem muito dinheiro”, “eu pago passagem todo dia, um dia a menos não vai fazer diferença”, “o ônibus está lotado, não vou passar pela borboleta, vou ficar aqui mesmo...”; outro exemplo seria um aluno que não conseguindo responder a uma questão diz “não foi minha culpa, a questão é que estava muito difícil”, “não respondi por que não tive tempo de estudar, pois lá em casa fazem muito barulho”, “a questão estava mal elaborada, não entendi nada”; outro exemplo é alguém que não consegue algo que deseja e logo se justifica dizendo que, na verdade, não queria aquilo; ou um rapaz que foi dispensado por uma garota, da qual estava afim, logo diz “ela nem era tão boa assim, era até feia, não sei como fui gostar dela...”.
A racionalização sobre algum fato não é apenas uma simples “explicação”, ela envolve um conjunto complexo de “explicações”, evitando assim ataques, ou seja, se uma for destruída terá outra para substituí-la. O que difere a Racionalização da Dissimulação é o fato de que tais “explicações” não são simples mentiras, geralmente não estamos em condições, e nem temos a intenção de enganar, simplesmente não estamos consciente das deformações em nosso pensamento. Ela também pode ser confundida com a Razão, mas, apesar de não existir uma linha muito clara que diferencie as duas, e de que a razão também pode ser influenciada por fatores emocionais e motivacionais, na racionalização há uma nítida preocupação em justificar a si mesmo, consequentemente, tomamos uma atitude agressiva contra os contestadores de tais “explicações”, uma vez que são as defesas de nosso Eu.
A Racionalização é benéfica, sem exageros, pois permite que o convivamos com nossos conflitos, e talvez cheguemos a uma solução ajustada para o mesmo, pois nos fornece uma proteção enquanto tentamos enfrentá-lo. É maléfica quando usada exageradamente, pois ficamos totalmente cercados de justificativas ilusórias, e não somos capazes de enxergar a realidade, ficando assim impossibilitados de resolver nossos conflitos de forma realista. Vale ressaltar que nem sempre ela é útil, pois existem conflitos que são tão fortes e evidentes, que nos impossibilita criar uma proteção imaginária contra eles.
[editar] Isolamento
É o mecanismo de defesa que envolve uma “separação de sistemas” de tal forma que as racionalizações protetoras sejam preservadas, e os sentimentos perturbadores possam ser isolados. Nosso pensamento parece capaz, em certas circunstâncias, de manter, lado a lado, dois conceitos logicamente incompatíveis, sem tomarmos consciências de suas gritantes divergências, o que também chamamos de “comportamentos lógicos de estanques”. É um processo de isolar uma, dentre as várias partes do conteúdo mental, de tal forma que as interações normais que ocorreriam entre elas se reduzam, e assim, os conflitos seja evitados. Um exemplo seria um ladrão que rouba, e não experimenta dos sentimentos de culpa que estão ligados a esse ato. Geralmente essa “separação de sistemas” é que da espaço para a atuação de outros mecanismos de defesa como a Projeção, Repressão e a Fantasia.
[editar] Projeção
Muitas vezes nos defendemos da angústia de um fracasso ou culpa projetando a responsabilidade por esse fato em alguém ou em algo, temos como exemplo um jogador de tênis que, ao errar uma tacada, da um olhar reprovador para sua raquete, outro exemplo seria o fato de tratarmos uma pessoa com hostilidade, pelo fato de aquela pessoa ser hostil, tudo isso são exemplos de projeções. Projeção é o processo mental pelo qual as características, que estão ligas ao Eu, são gradativamente afastadas do Eu em direção a outros objetos e pessoas. Essas projeções tendem a deslocar-se em direção a objetos e pessoas cujas qualidades e características são mais adequadas para encaixar o material deslocado, voltando ao exemplo do jogador de tênis, ele poderia ter projetado a culpa em seu tênis, porém preferiu projetá-la na raquete, pois essa ultima tinha características mais apropriadas para encaixar a culpa. A projeção é diferente da Generalização pelo fato de que a pessoa não está consciente da existência do traço indesejável em si mesma, porém ela tende a enxergá-lo excessivamente nos outros. Um indivíduo desorganizado, pode não notar que o é, porém vai enxergar fácil e exageradamente tal traço em outros.
[editar] Repressão
O fato de um indivíduo possuir grande dificuldade em reconhecer seus impulsos que produzem angústia, ou lembrar-se de acontecimentos passados traumáticos é o que chamamos de Repressão, que também é chamada de “esquecimento motivado”.
A omissão deliberada de recordações ou sentimentos não é Repressão, esta acontece de forma automática e é uma reação a um determinado conflito. Em casos extremos (um acontecimento extremamente doloroso) a repressão pode apagar não só a lembrança do acontecimento, mais também, tudo que diz respeito ao mesmo, inclusive seu próprio nome e sua identidade, criando uma profunda amnésia.
Se a Repressão apenas apagasse o conflito e toda a angústia a ele ligado, seria uma forma “ideal” de defesa, porém os conflitos e angústias por ela apagados quando voltam, têm seus efeitos extremamente potencializados, e ainda, o alívio que ela proporciona tem outras conseqüências como a formação de fobias, compulsões e a “formação de reação”.
[editar] Formação de reação
A repressão de fortes impulsos (sexuais, agressividade) é acompanhada por uma tendência contrária, sob a forma de comportamentos e sentimentos exatamente opostos às tendências reprimidas. Tal tendência é o que chamamos de “formação de reação”.
Uma mãe que se preocupa exageradamente com o filho, pode ser reflexo de uma verdadeira hostilidade a ele. Uma pessoa demasiadamente valente, pode ser reflexo de um medo do oculto. Porém vale salientar que existem outros fatores q levam a mãe a preocupar-se com o filho, um homem a ser valente, sem ser obrigatoriamente um exemplo de formação de reação.
A Formação de Reação é o mecanismo de defesa mais eficiente e poderoso para afastar a pessoa do que possa causar-lhe angústia. Porém é perigoso por conta da intensidade irracional da reação.
[editar] Identificação Defensiva
O indivíduo pode diminuir, ou evitar a angústia identificando-se com outras pessoas ou grupos, de forma a se proteger. Por exemplo, uma pessoa que sofreu um recente fracasso, pode identificar-se com o triunfo de outras, como se aquele triunfo também fosse dela. Também, ameaças externas ao Eu podem ser reduzidas quando a pessoa passa a ver essas ameaças voltadas para um grupo mais amplo ao qual se identifica, e não apenas a ela. Por isso temos a tendência de fazer algo que consideramos perigoso quando estamos em grupo, assim o sentimento de culpa e angústia ligados a tal ação se diluem no grupo inteiro.
A maior parte das identificações ocorre no mundo da fantasia, temos como exemplo a criança que identifica-se com seu herói favorito, a moça que identifica-se com a “mocinha” da novela... Algumas ocorrem, ainda, em grupos anti-sociais, como grupos Neonazistas, por exemplo, essas, a logo prazo, podem trazer dificuldades ainda mais sérias de ajustamento.
De forma branda a identificação pode ajudar a pessoa a torna-se mais confiante a ajudar em seus ajustamentos. Porém, em excesso, causa dependência e impede o indivíduo de enfrentar seu problema. Um caso excepcional de identificação defensiva é a Identificação com o Agressor: Nesse tipo de identificação o indivíduo procura se identificar com pessoas ou grupos que o ameaçam, ele é transformado de agredido para agressor.
[editar] Fantasia
Usamos a fantasia com o objetivo de manter o auto-respeito e defender-nos de ameaças e angustias. Nos vemos como obtendo grandes trunfos, fazendo atos heróicos, sendo um conceituado empresário, um presidente, um milionário...
É muito eficiente, pois dissipa a angústia e nos torna capaz de enfrentar novamente o problema. Entretanto, de forma constante, nos afasta da realidade, nos fornece falsos e efêmeros sentimentos de triunfo, e o despertar para a realidade (através das constantes pressões do mundo objetivo) pode ser extremamente doloroso.
[editar] Sonho
As forças da realidade têm um poder mínimo de atuação enquanto dormimos assim os sonhos, algumas vezes, dão maior amplitude às tendências defensivas das realizações de desejos. Porém, quando dormimos nossas defesas não podem atuar com seus poderes habituais, isto permite a intrusão, no drama de todas as espécies de influências provocadoras de angústia.
[editar] Fuga
Tipo de fantasia que afasta a pessoa da realidade, às vezes a pessoa chega a fugir literalmente de situações onde possa ocorrer o conflito, podemos dar como exemplos um estudante que mude de curso por não está conseguindo um bom desempenho; um homem que abandona a família por ter constantes brigas conjugais. A Fuga é, de fato, o mais traiçoeiro de todos os mecanismos de defesa pois nos outros o indivíduo está, até certo ponto, dentro da situação de conflito procurando enfrentá-lo. Na Fuga o indivíduo “desiste” e evita integralmente a situação de conflito, excluindo assim, todas as possibilidades de resolução do problema.
[editar] Isolamento
Em casos de conflitos profundamente enraizados, referentes a concepções básicas do Eu, é muito grande a amplitude de situações capazes de despertar conflitos, na medida em que o indivíduo vai se afastando de cada uma dessas situações é vai se tornando “ilhado”, isolado do resto do mundo. Esses indivíduos tornam-se acanhados e medrosos.
[editar] Negativismo
A pessoa passa a desenvolver atitudes extremamente negativas em relação a tudo e a todos, “Fracassei porque, afinal de contas, nada presta!”.
Outros pontos que devemos levar em conta sobre os mecanismos de defesa são:
• Os diferentes mecanismos de defesa apresentam-se em todos os indivíduos. E só se tornam anormais quando aparecem de maneira excessiva. • Não são escolhidos e empregados conscientemente pelo indivíduo. • O mecanismo que vai atuar em um dado momento depende da natureza da situação específica, e das características da pessoa. • Mesmas situações podem ter mecanismos de defesas diferentes em pessoas diferentes. • Os mecanismos que se mostraram mais eficazes na resolução de conflitos anteriores tendem a serem usados para resolver novos conflitos. • São benéficos porque diminuem a angústia e fortalecem o auto-respeito, dando tempo e força para que a pessoa encontre um ajustamento realista e eficiente para o problema. • Seu uso prolongado e excessivo pode ter conseqüências graves ao ajustamento efetivo à vida. Nesse sentido alguns são piores que outros, como a Fuga que impede a pessoa de ser capaz de enfrentar seu problema; a Repressão que cega para a natureza dos mesmos. • Contribuem com a sociedade: a Fantasia traz a criatividade, a Racionalização cria novas maneiras de resolução de problemas... • Os mecanismos de defesa podem ser frustrados: a Racionalização pode ser desmentida; a Identificação, negada; a Fuga, evitada; a Repressão, revelada... Tornado, assim, o conflito ainda mais intensificado. • Quando tais mecanismos falham podem ocorrer transformações ainda mais violentas no comportamento, tais transformações apresentam-se sob a forma de perturbações psicológicas severas, decomposição do Eu, desordens mentais agudas de vários tipos.
Terminamos aqui a descrição dos principais mecanismos de defesa existentes que nos auxiliam no processo de Ajustamento, retomando a definição que diz “Ajustamento consiste nos processos pelos quais nos adaptamos às exigências que nos são impostas pela sociedade em que vivemos.” Vale ressaltar que um indivíduo considerado ajustado está apenas desempenhando um papel, fazendo o que a sociedade espera que ele faça, e isso não o faz, necessariamente, feliz, normal, saudável ou realizado. Uma pessoa feliz e saudável, que também dizemos ser uma pessoa bem resolvida ou bem ajustada, é aquela que se mantém em contato com seu EU; vive o momento presente, não preocupa-se demasiadamente com o futuro e nem gasta sua energia lamentando o passado; é espontânea e criativa, mais aberta e honesta; aceita a si mesmo e compreendendo suas limitações, consequentemente, expressa melhor suas idéias por não temer o ridículo; é aberta ao novo e, até certo ponto, é atraída por ele; também enfrenta conflitos, porém não se deixa abater por eles, os aceita e enfrenta de forma realista e otimista; é sensível às necessidades e sentimentos dos outros, entendendo e aceitando, também, as limitações dos mesmos; é capaz de dar e receber afeição; conserva a vivacidade e inocência, alindo-as à inteligência, torna-se uma pessoa especial, admirada e invejada por muitos.