A criação do mundo na tradição nagô

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Índice

1 História
2 O desfile
3 Curiosidades
4 Samba-enredo

[editar] História

Para o carnaval de 1978, em que a Beija-Flor buscava o tri-campeonato, Joãozinho 30 decidiu desenvolver na avenida um enredo de temática negra, que contava, sob a ótica da tradição cosmogonia nagô, a história da criação do mundo. Na cultura yorubá existem duas grandes versões para a criação do mundo, na verdade alegorias para a formação das cidades-disnatias que pretendiam a hegemonia do mundo yorubá: Ifé (considerada pelos yorubás como berço do mundo) e Oyó.

Os líderes dessas dinastias foram divinizados: Oduduá em Ifé e Oranmiyan em Oyó. Nas duas cidades, a lenda conta que seus líderes chegaram do Além, trazendo uma substância escura e desconhecida, fornecida pelo senhor supremo, Olodumaré (Olorum), e jogaram sobre as águas primitivas formando um pequeno monte de terra, sobre o qual pousa uma galinha que cisca e começa a espalhar a terra sobre a qual Oduduá para Ifé e Oranmiyan para Oyó tornaram-se senhores absolutos.

O enredo de Joãosinho privilégia a versão de Ifé, que fala do conflito entre Oduduá e Obatalá. O duelo entre as divindades é mostrada como um "duelo de amor" que faz surgir a vida.

Falava o enredo de 3 princesas africanas que foram as responsáveis pela difusão no Brasil da criação do mundo segundo a cultura nagô (yorubá). Ya Calá, Ya Detá, Yá Nassô (terreiro da Casa Branca ile axê, ia nasso oka Bahia, tombado em 1982), sao os três terreiros de santo originais da Bahia. Essas princesas então cantam a história da criação do mundo:

Obatalá (Orixalá) recebeu a ordem de criar o mundo, mas, com pressa, não rendeu a Bará os tributos devidos (origem da matéria segundo a mitologia nagô) e, durante o trajeto, parou para beber um pouco de vinho de palmeira e, embriagando-se, adormece. Oduduá, a divina senhora, foi ao encontro de Obatalá e então começou a formação física da Terra: no começo a Terra era uma porção de matéria líquida e Oduduá jogou cinco galinhas d'angola sobre ela e mandou que elas começassem a ciscar para espalhar a terra e formar os continentes.

Mas só existia a terra, Oduduá soltou então pombos brancos e assim nasceram os céus que hoje existem; de um camaleão surgiu o elemento fogo e com os caracóis foi formado o mar. Esses animais foram então associados aos orixás, cada qual com sua simbologia. As galinhas d'angola se tornaram as Iaôs, mulheres-sacerdotes dos ritos do candomblé, os pombos brancos representavam Oxalá, o orixá-rei, o camaleão, os orixás do fogo e dos elementos da terra, Xangô, Iansã, Ogun e os caracóis os reis do mar, Olokum e Iemanjá. E assim com o trabalho de Oduduá e Obatalá as três princesas reinaram na África, o primeiro reino do mundo.

Em 2004 a Acadêmicos da Rocinha homenageou Joãosinho 30, e não deixou de citar o enredo de 1978, dizendo, em sua terceira cena: "Em viagem iluminada, bailou no ar e desceu por cadeias de prata, ao contar a “Criação do Mundo na Tradição Nagô”."

[editar] O desfile

Joãosinho trinta definiu tudo numa frase: Um grande duelo de amor. Obatalá é deus. Odudua, deusa. Um glorioso ato sexual

Bem ao estilo Joãosinho 30, a Beija-Flor fez um desfile bastante luxuoso. Mas também técnico, evitando ao máximo os erros que pudessem tirar pontos. O fato de ser uma escola então considerada pequena, e seu bicampeonato ter sido considerado casualidade, fez com que seus componentes ficassem ainda mais concentrados na busca do título, como definiu o alto-falante na concentração:

“Quando ganhamos em 76, disseram que foi por acaso. Ganhamos outra vez em 77, disseram que foi por acaso. Agora, contamos com vocês para ganhar no gogó. No gogó”.

No final, o resultado que premiou a dedicação: a escola ganhou cm 166 pontos, 3 a mais que a Mangueira, que ficou em segundo lugar.

[editar] Curiosidades

O Salgueiro desenvolveu, em 1978, tema idêntico, tratando da criação do mundo na ótica yorubá, batizado "Do Iorubá à luz, A Aurora dos deuses", idéia de Fernando Pamplona. Ficou em sexto lugar.