Prosper Mérimée
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Prosper Merimée, (Paris, 28 de setembro de 1803 - Cannes, 23 de setembro de 1870- historiador, arqueólogo e escritor romântico francês, célebre pelo conto Carmen.
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[editar] Biografia
Era filho único de Leonor Merimée e Anne-Louise Merimée na Paris de Napoleão. Seu pai era pintor e professor de desenho, o que influenciou o filho a primeiro estudar no Liceu Imperial. Deixou o Liceu para fazer Direito, formando-se em 1823.
Também aprendeu grego, espanhol, inglês, e russo. Foi o primeiro a traduzir obras literárias russas para o francês.
Ocupou diversos cargos públicos, em todos eles destacando-se pelo bom desempenho de seus deveres. Foi nomeado (1830) Inspetor dos Monumentos Históricos, revelando-se um arqueólogo nato, combinando suas habilidades lingüísticas, uma notável avaliação histórica e sincero devotamento às artes, desenho e arquitetura. Neste mister, seus relatórios vieram muitas vezes a merecer publicação, e destaque em sua produção, ao largo da literária. A ele se deve, em boa parte, a conservação do rico legado cultural, do qual tanto se orgulha o povo francês.
Neste mesmo ano conheceu e auxiliou a Condessa de Montijo, espanhola. Quando a filha dela tornou-se a Imperatriz Eugénie, da França, em 1853, Mérimée foi honrado com o cargo de senador.
Prosper Mérimée morreu em Cannes, França e ali foi sepultado no Cimetière du Grand Jas.
- Vide, para exemplo de seu trabalho como conservador e pesquisador, A Senhora e o Unicórnio.
Precedido por: Charles Nodier |
Membro da Académie Française - Cadeira 25 1844 - 1870 |
Sucedido por: Louis de Loménie |
[editar] Romantismo e História
Mérimée gostava do misticismo, da história e das coisas incomuns. Influenciado diretamente pela ficção histórica de Walter Scott e pelo drama psicológico e cruel de Pushkin, seu estilo porém era conciso, bastante objetivo - apesar de marcadamente dramático. Muitas de suas obras fictícias retratam lugares de forma bastante exótica - dedicando-se particularmente à Espanha e à Rússia.
Estreou como literato em 1825, com "O Teatro de Clara Gazul" - atribuindo satiricamente a autoria do texto a esta célebre "comediante espanhola". Antes, porém, havia escrito a peça "Cromwell" (1822) que nunca foi publicado e nenhuma cópia existe. Mérimée sentiu suas semelhanças óbvias com a política francesa contemporâneas e destruiu o manuscrito.
[editar] Obras
Além dos dois escritos citados, temos:
- La Guzla (1827) - outra sátira, com vários textos de temas místicos, que teriam sido traduzidos do Ilírico original por um certo Hyacinthe Maglanowich (a Ilíria é um antigo país onde hoje é a região ocidental da Turquia).
- La Jacquerie (1828) - drama sobre uma insurreição camponesa nos tempos feudais.
- La Chronique du temps de Charles IX (1829) - novela sobre os tribunais franceses aos tempos do massacre de S. Bartolomeu, em 1572.
- Mateo Falcone (1829) - conto sobre a ilha da Córsega, tendo o personagem título matado o próprio filho em nome da justiça, e publicado em seguida, numa coletânea. Este conto gerou uma ópera homônima, do compositor russo César Cui (vide excerto abaixo).
- Mosaïque (1833) - Reunião de contos, dentre os quais Mateo Falcone, Tamango, Federigo, Baladas, O Vaso Etrusco, etc.. Além destes, três cartas espanholas. A maioria dos contos já havia sido publicada na "Revista de Paris", entre 1829 e 1830.
- La d'Ille de Vénus (1837) - conto de horror fantástico onde uma estátua de bronze ganha vida.
- Notas de Viagens (1835-40) - em que descreve suas viagens pela Grécia, Espanha, Turquia, e na própria França.
- Colomba (1840) - esta foi sua primeira novela de sucesso. Conta a história de uma jovem moça corsa que obriga seu irmão a cometer um assassinato para se vingar.
- Carmen (1845) - A mais famosa de suas novelas, narra a história de uma bela cigana infiel que é morta pelo amante, um oficial espanhol. Em 1875, foi transformada em ópera, por Georges Bizet (cartaz da época, ao lado), além de vários filmes.
- Lokis (1869) - ambientado no Leste Europeu, é uma história de terror onde um homem, metade urso e metade gente, gostava de se alimentar de carne humana.
- A Câmara Azul (1872) - uma farsa com todos os caracteres de conto sobrenatural, mas onde ao final tudo volta a ser como era antes...
- Lettres à une inconnue (1874) - reunião de cartas de Mérimée para Jenny Dacquin, publicadas depois de sua morte.
[editar] Mateo Falcone - Excertos e resumo
Para ilustrar o estilo deste escritor, as passagens da novela Mateo Falcone:
Na Córsega, diz o autor, um lugar em especial serve de refúgio para os criminosos:
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- Se matastes um homem, ide para o mato de Porto-Vecchio, e ali vivereis em segurança, com um bom fuzil, pólvora e balas; não esqueças duma capa escura com capuz, que fará as vezes de coberta e colchão. Os pastores vos darão leite, queijo e castanhas, e nada temereis da justiça ou dos parentes do morto, senão quando tiverdes de descer à cidade para renovar as munições.
(...)Mateo Falcone vivia sem precisar trabalhar, e este era seu perfil:
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- Imaginai um homem baixo, mas robusto, de cabelos crespos, negros como ébano, nariz aquilino, lábios delgados, olhos grandes e vivos, uma pele da cor de couro cru. Mesmo na sua terra, onde há tão bons atiradores, passava por extraordinariamente hábil no manejo da espingarda.
- (...)granjeara Mateo Falcone enorme reputação. Diziam-no tão bom amigo quão perigoso inimigo; era aliás solícito, dado a fazer esmolas, e vivia em paz com todos no distrito de Porto-Vecchio.
(...)Mateo casara-se com Josefa que, após dar-lhe três filhas, finalmente tiver um herdeiro homem, a quem esperançoso em dar continuidade ao nome, batizara o pai de "Fortunato". Contava o menino com 10 anos de idade quando os pais se ausentam de casa, e pede-lhe abrigo um criminoso, Gianetto Sanpiero, ferido numa perseguição. O menino, a princípio, recusa-se, mas depois de receber um pagamento, aceita dar abrigo ao fugitivo. Quando os perseguidores chegam, dissimula.
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- Fortunato continuava com um riso zombeteiro.
- _Meu pai é Mateo Falcone! - disse ele enfaticamente.
- _Bem sabes, malandrinho, que posso levar-se pra a Corte ou para a Bastilha. Farei dormires num calabouço, em cima da palha, com ferros nos pés e mandarei guilhotinar-te se não disseres onde está Gianetto Sanpiero.
- A essa ridícula ameaça o menino soltou uma gargalhada, e repetiu:
- _Meu pai é Mateo Falcone!
(...)O chefe dos soldados perseguidores, Teodoro Gamba, então resolve subornar o menino com um relógio de prata, o que este acaba aceitando, delatando o esconderijo do albergado. Após a captura, quando vão saindo, o casal está de volta para casa. Amedrontado com a vista de Mateo, Gamba logo se aproxima, contando-lhe o ocorrido, e o importante papel que tivera seu filho. Em casa, vendo o garoto com o suborno, leva-o para o mato...
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- O menino fez um desesperado esforço para se erguer e abraçar-se aos joelhos do pai; mas não teve tempo. Mateo fez fogo, e Fortunato caiu morto.
- Sem olhar para o cadáver, Mateo retomou o caminho de casa, em busca de uma enxada para enterrar o filho. Mal dera alguns passos, encontrou Josefa, que corria alarmada com o tiro.
- _Que fizeste?
- _Justiça.
- _Onde ele está?
- _Lá embaixo, no barranco. Vou enterrá-lo. Morreu como cristão, mandarei rezar uma missa para ele. Dize ao meu genro Teodoro Bianchi que venha morar conosco.