Gauvain
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Gauvain ou Gauvaine é uma das personagens das obras literárias inseridas no Ciclo Arturiano. A personagem é muitas vezes designada por Gawain, variante do seu mais comum nos países anglo-saxónicos, aí normalmente precedida pelo título Sir. Nas versões medievais portuguesas das histórias arturianas, era comum traduzir o nome da personagem para Galvão e precedê-lo pelo título Dom.
[editar] A lenda de Gauvain
Gauvain é muitas vezes descrito como sendo sobrinho do rei Artur, filho de Morgause e irmão de Gaheris e Gareth. Possuía um comportamento muito irritadiço, como pode-se constatar em Layamon, onde, quando Artur descobre a traição de Lancelot e Guinevere, Gavain declara que vai enforcar Mordred com suas próprias mãos e que Guinevere deve ser despedaçada por cavalos selvagens. Outra passagem, descrita por Thomas Malory, onde se pode visualizar o caráter vingativo de Gauvain, é mostrada quando do cerco ao castelo de Lancelot. Lancelot, que durante a fuga com a rainha mata Gaheris e Gareth, afirma que a acusação de traição contra ele é falsa e que o julgamento por combate havia mostrado que ele estava certo. Arthur poderia até perdoá-lo, mas Gauvain não deixa que isso ocorra. O clímax da história é a luta entre Gauvain e Lancelot. A luta é interessante, pois mostra vestígios de uma história muito antiga.
Gauvain tem uma peculiaridade que lhe permite ganhar força física no período que vai das nove da manhã até ao meio-dia. Malory diz que isso era um presente de um homem santo, mas é claro que, originalmente, Gauvain era um adorador do deus-sol. A despeito desta vantagem, Lancelot simplesmente resiste nas horas de força de Gauvain e, quando elas declinam, lança-o à terra. Por duas vezes essa luta sobrenatural acontece e a cada vez que Gauvain é jogado no chão, chama Lancelot para continuar a luta. Lancelot responde que quer lutar com ele de novo, mas só quando estiver de pé.
[editar] Gauvain e o Cavaleiro Verde
O conto mais famoso de 'Gauvain, no entanto, é intitulado Sir Gawain and the Green Knight (D. Gauvain e o Cavaleiro Verde), escrito por volta do ano 1400. No dia do Ano-Novo, quando o rei, a rainha e a corte estão reunidos para um jantar, um cavaleiro de tamanho incomum entra no casarão com seu cavalo. Pede que algum cavaleiro ali presente lhe dê um golpe no pescoço com o machado que ele carrega e que, no próximo Ano-Novo, o oponente esteja na Capela Verde para receber, por sua vez, o seu golpe. O cavaleiro e suas roupas, assim como seu cavalo, os trajes e os arreios, tudo era verde. O ouro e o aço estavam manchados de verde, os arreios reluziam e cintilavam com pedras verdes e filetes de ouro estavam entrelaçados na crina verde do cavalo. Artur imediatamente se oferece para o desafio do cavaleiro, mas Gauvain se interpõe e o toma para si. Com um golpe de machado, decepa a cabeça do cavaleiro que rola pelo chão, espalhando sangue na carne verde. O cavaleiro verde recolhe a cabeça. Levanta as pálpebras, olha vivamente e então encarrega Gauvain de encontrá-lo naquele dia, após um ano, na Capela Verde. Segurando a cabeça pelos cabelos verdes, monta em seu cavalo e deixa o casarão.
Um ano depois, para manter a palavra, Gauvain chega ao castelo de Bertilak, anfitrião cordial e generoso que, por ter cor normal, não é reconhecido como sendo o cavaleiro verde. Gauvain chega ao castelo em completo estado de exaustão. Recebido com hospitalidade, envolvido em um manto de arminhos enfileirados, é convidado a sentar ao lado de uma lareira com brasas de carvão. Quando Sir Bertilak retorna ao seu castelo, depois da caça, recebe o hóspede com muita cortesia e combina com ele que daria o produto de sua caça a Gauvain todo dia e, em troca, Gauvain lhe daria algo que tivesse recebido no castelo.
Durante a sua estada no castelo, Gauvain recebe de manhã, antes de sair da cama, a visita da bela mulher de Bertilak, se vendo obrigado a resistir às suas investidas. Por dois dias assim o faz, aceitando somente beijos que, à noite, transmite a Sir Bertilak em troca da caça. Na terceira manhã, porém, a senhora oferece-lhe um cordão verde que o protegerá de qualquer ferimento, o medo de sua provação faz com que o aceite, mas esconde o fato de seu anfitrião. Quando chega o dia do Ano Novo, para honrar seu compromisso, ele sai em busca da Capela Verde. Achando o local, o Cavaleiro Verde aparece para devolver o golpe de Gauvain. Se ele não tivesse aceitado o cordão verde, o machado teria caído sobre ele inofensivamente, mas, como isso não aconteceu, o machado esfola sua pele e seu sangue jorra. Agora revela-se que o Cavaleiro Verde é o próprio Bertilak, que havia sido enfeitiçado pela irmã de Artur, a fada Morgana. Depois de trocarem muitas cortesias, Gauvain parte e retorna à corte de Artur, a quem confessa sua pequenez por ter aceitado o cordão.