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Émile Benveniste - Wikipédia

Émile Benveniste

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Emile Benveniste (1902 - 1976) foi um lingüista francês que se tornou conhecido pelos seus estudos a respeito do indo-europeu.

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CAPITULO I

Lingüística Geral Emile Benveniste


Transformações da Lingüística tendências recentes em linguística geral(1}


[Nestes últimos decênios, a lingüística sofreu um desenvolvimento tão rápido e estendeu tanto o seu domínio que um balanço mesmo sumário dos problemas que aborda assumiria as proporções de uma obra ou se esgotaria numa enumeração de trabalhos. Se se quisesse apenas resumir os resultados encher-se-iam páginas, em que o essencial talvez faltasse. O aumento quantitativo da produção lingüística é tão volumoso que um volume grosso de bibliografia não basta para recenseá-lo. Os países mais importantes têm agora os seus próprios órgãos, as suas coleções e também os seus métodos. O esforço descritivo foi prosseguido e estendido ao mundo inteiro: a recente reedição ila obra Langues dit monde dá uma idéia do trabalho realizado e ilo trabalho, muito mais considerável, que nos resta. Os Atlas linguísticos, os dicionários multiplicaram-se. Em Iodos os setores o acúmulo de dados produz obras cada vez mais volumosas: uma descrição da linguagem infantil em quatro volumes (W. F. Leopold), uma]. Descrição do francês em sete volumes (Damourette e Pichon) são apenas exemplos. Uma revista importante pode, hoje, dedicar-se exclusivamente ao estudo das linguas indígenas da América. Realizam-se na África, na Austrália, na Oceânia, pesquisas que enriquecem consideravelmente o inventário das formas lingüísticas. Num sentido paralelo, explora-se sistematicamente o passado lingüístico da humanidade. Todo um grupo de línguas antigas da Ásia Menor foi ligado ao mundo indo- europeu modificando-lhe a teoria. A reconstituicão progressiva do protochinês, do malaio-polinésio comum, de certos protótipos ameríndios permitirá talvez novos agrupamentos genéticos, etc. Mas, mesmo que pudéssemos apresentar um balanço mais pormenorizado dessas pesquisas, este mostraria que o trabalho se processa muito desigualmente: aqui se continuam estudos que teriam sido os mesmos em 1910; ali, rejeita-se até o nome de linguística como desvalorizado; acolá, dedicam-se volumes inteiros à simples noção de "fonema". Isso porque a multiplicação dos trabalhos não revela imediatamente, mas antes disfarça, as profundas transformações que há alguns anos vêm sofrendo o método e o espírito da linguística e os conflitos que a dividem hoje. Quando abrimos os olhos para a importância do risco e para as consequências que os atuais debates podem ter também para outras disciplinas, somos tentados a pensar que as discussões sobre as questões de método em linguística poderiam ser apenas o prelúdio de uma revisão que englobaria, finalmente, todas as ciências do homem. Essa é a razão pela qual insistiremos sobretudo, em termos não técnicos, sobre os problemas que estão hoje no centro das pesquisas da linguistica geral, sobre a noção que têm os linguistas sobre o seu objeto e sobre o sentido que assumem as suas gestões. Quanto ao mais, a compilação publicada em 1933 pelo Journal de psychologie sob o título de Psychologie du langage já apresentava uma renovação espantosa das ideias teóricas e das afirmações doutrinais. Liam-se ali as primeiras explicações de princípios que assim como os da "fonologia" penetraram depois em larga escala no ensino. Via-se também surgirem conflitos que levaram a seguir a reorganizações, como a distinção entre sincronia e diacronia, entre fonética e fonologia, que desapareceu quando se definiram melhor os termos em questão. Determinadas convergências aproximavam as teorias independentes. Quando, por exemplo, Sapir focalizava a realidade psicológica dos fonemas, descobria por sua conta uma noção que Trubetzkoy e Jakobson tentavam, por seu lado, estabelecer. Mas não se podia então prever que num setor cada vez maior da linguistica, as pesquisas se empenhariam, pelo menos aparentemente, na procura dos fins a que a linguistica visara até então.

Sublinhou-se com freqUência o caráter exclusivamente histórico que marcava a linguística durante todo o século XIX e o início do século XX. A história como perspectiva necessária e a sucessividade como principio de explicação, a divisão da língua em elementos isolados e a pesquisa de leis de evolução próprias a cada um deles: esses eram os caracteres dominantes da doutrina linguistica. Na verdade, reconheciam-se princípios de natureza totalmente diferente, como o fator analógico, que pode perturbar a regularidade da evolução. Mas, na prática comum, a gramática de uma língua consistia de um quadro da origem de cada som e de cada forma. Isso era ao mesmo tempo a consequência da inspiração evolucionista que penetrava então todas as disciplinas e das condições em que havia nascido a linguística. A novidade do enfoque saussuriano, que foi um dos que agiram mais profundamente, consistiu em tomar consciência de que a linguagem em si mesma nào comporta nenhuma outra dimensão histórica, de que é sincronia e estrutura, e de que só funciona em virtude da sua natureza simbólica. Não é tanto a consideração histórica que se condena aí, mas uma forma de "alomizar" a língua e de mecanizar a história. O tempo não é o fator da evolução, mas tào-somente o seu quadro. A razão da mudança que atinge esse elemento da língua está, de um lado, na natureza dos elementos que a compõem em um determinado momento, de outro lado nas relações de estrutura entre esses elementos. A simples comprovação da mudança e a fórmula de correspondência que a resume possibilitam uma análise comparada de dois estados sucessivos e dos diferentes arranjos que os caracterizam. Kestabelece-se então a diacronia na sua legitimidade, enquanto sucessão de sincronias. Isso ressalta, já, a importância primordial da noção de sistema e da solidariedade restaurada entre todos os elementos de uma língua. Essas visões do problema são já antigas; deixam-se pressentir em toda a obra de Meillet e, embora não se apliquem sempre, não se encontraria mais ninguém que as contestasse. Se se quisesse, a partir daí, caracterizar com uma só palavra o sentido em que a linguística parece prolongá-las hoje, poder-se-ia dizer que marcam o início de uma linguística concebida como ciência, pela sua coerência, sua autonomia e os objetivos que se lhe atribuem. Essa tendência destaca-se em primeiro lugar pelo fato de que certos tipos de problemas são abandonados. Ninguém se propõe mais, com seriedade, a questão sobre a monogênese ou a poligênese das línguas, nem, de maneira geral, sobre os princípios absolutos. Não se cede mais tão facilmente como antes à tentação de erigir como propriedades universais da linguagem as particularidades de uma língua ou de um tipo linguístico. Alargou-se o horizonte dos linguistas. Todos os tipos de línguas adquirem direitos iguais de representar a linguagem. Em nenhum momento do passado, sob nenhuma forma do presente se atinge o que quer que seja de "original". A exploração das mais antigas línguas atestadas mostra-as tão completas como, e não menos complexas que, as línguas de hoje; a análise das línguas "primitivas" revela nelas uma organização altamente diferenciada e sistemática. Longe de constituir uma norma, o tipo indo-europeu aparece sobretudo como excepcional. Com maior razão, afasta-mo-nos das pesquisas apoiadas sobre uma categoria escolhida no conjunto das línguas e considerada como ilustrando uma mesma disposição do "espírito humano", desde que se viu a dificuldade de descrever o sistema completo de uma só língua e o quanto são enganadoras certas analogias de estrutura descritas por meio dos mesmos termos. Convém dar grande importância a essa experiência, cada vez maior, das variedades linguisticas do mundo. Dela já se tiraram muitas lições. Tornou-se evidente, em primeiro lugar, que as condições de evolução não diferem fundamentalmente segundo os níveis de cultura, e que se podem aplicar à comparação das línguas não escritas os métodos f -_>s critérios que valem para as línguas de tradição escritas. Sob outro aspecto, percebeu-se que a descrição de certos tipos linguisticos, sobretudo das línguas ameríndias, apresentava problemas que os métodos tradicionais não podem resolver. O resultado foi uma renovação dos processos de descrição que, em consequência, se estendeu às línguas que se acreditavam descritas de uma vez por todas e aue adquiriram uma feição nova. Outra consequência, ainda, é l|ue se começa a ver que o repertório das categorias morfológicas, variado como parece, não è ilimitado. Pode-se então imaginar uma espécie de classificação lógica dessas categorias que mostraria a sua organização e as leis da sua trans-

liirmação. Kinalmente, e aqui tocamos as questões cujo alcance ultrapassa a linguistica, percebe-se que as "categorias mentais" c as "leis do pensamento" não fazem, em grande parte, senão refletir a organização e a distribuição das categorias linguísticas. 1'ensamos um universo que a nossa língua, em primeiro lugar, modelou. As modalidades da experiência filosófica ou espiritual estão sob a dependência inconsciente de uma classificação que a língua opera pelo simples fato de ser língua e de simbolizar. liis aí alguns dos temas revelados por uma reflexão familiarizada com a diversidade dos tipos linguísticos; na verdade, porém, nenhum deles foi ainda explorado.a fundo. Dizer que a linguística tende a tornar-se científica não é iipenas insistir sobre uma necessidade de rigor, comum a todas as disciplinas. Trata-se, em primeiro lugar, de uma mudança de atitude em relação ao objeto, que se definirá por um esforço para formalizá-lo. Na origem dessa tendência pode reconhecer-se uma influência dupla: a de Saussure na Europa e a de Bloom-ficld na América. As vias da sua respectiva influência são, aliás, Ião diferentes quanto as obras de que procedem. É difícil imaginar contraste mais acentuado que o destes dois trabalhos: Cours de liiiyuistique general? de Saussure (1916), livro póstumo redigido ,' partir de apontamentos de alunos, conjunto de exposições geniais, cada uma das quais pede uma exegese e algumas das quais alimentam ainda a controvérsia, projetando a língua sobre o plano de uma semiologia universal, abrindo visões para as quais o pensamento filosófico de hoje apenas desperta; Languaye de líloomfield (1933), que se tornou no uade-mecum dos linguistas americanos, textbook ("manual") completamente acabado e amadurecido, notável tanto pela sua posição de despojamento filosófico quanto pelo seu rigor técnico. Bloomfield, entretanto, embora não se refira a Saussure, teria certamente concordado com o princípio saussuriano de que "a linguística tem como único e verdadeiro objelo a língua considerada em si mesma e por ela mesma". Esse princípio explica a tendência mostrada pela linguistica em toda parte, se não explica, ainda, as razões pelas quais ela se quer autónoma e os fins que, assim, procura. Através das diferenças de escola, aparecem, nos linguistas que procuram sistematizar os seus processos, as mesmas preo-cupações; estas podem formular-se em três questões fundamentais: l.a Qual é a tarefa do linguista, a que ponto quer ele chegar, e o que descreverá sob o nome de lingua? E o próprio objeto da linguística o que é posto em pauta. 2.a Como se descreverá esse objeto? E preciso forjar instrumentos que permitam apreender o conjunto dos traços de uma lingua dentro do conjunto das línguas manifestadas e descrevê-ios em termos idênticos. Qual será então o principio desses processos e dessas definições? Isso mostra a importância que assume a técnica linguística. 3." Tanto para o sentimento ingénuo do falante como para o linguista, a linguagem tem como função "dizer alguma coisa". O que é exatamente essa "coisa" em vista da qual se articula a lingua, e como é possível delimitá-la em relação à própria linguagem? Está proposto o problema da significação. O simples enunciado dessas questões mostra que o linguista quer desprender-se dos apoios ou das amarras que encontrava em quadros pré-fabricados ou em disciplinas vizinhas. Afasta toda visão a priori da língua para construir as suas noções dire-tamente sobre o objeto. Essa atitude deve pôr um termo à dependência, consciente ou não, em que se encontrava a linguistica face à história, de um lado, e a uma certa psicologia, do outro. Se a ciência da linguagem deve escolher os seus modelos, será nas disciplinas matemáticas ou dedutivas que racionalizam com-pletamente o seu objeto, reconduzindo-o a um conjunto de propriedades objetivas munidas de definições constantes. Isso quer dizer que se tornará cada vez mais "formal", pelo menos no sentido de que a linguagem consistirá na totalidade das suas "formas" observáveis. Partindo-se da expressão linguística nativa, procede-se, por meio de análise, a uma decomposição estrita de cada enunciado nos seus elementos, e depois, por análises sucessivas, a uma decomposição de cada elemento em unidades cada vez mais simples. Essa operação terá por fim separar as unidades distintivas da língua; já se encontra aqui uma mudança radical do método. Enquanto dantes a objetividade consistia na aceitação integráMos dados, o que acarretava ao mesmo tempo a admissão da norma gráfica para as línguas escritas e o registro minucioso de todos os pormenores articulatórios para os textos orais, hoje nos prendemos mais à identificação dos elementos

na medida em que são distintivos em todos os níveis da análise. Para reconhecê-los, o que não é absolutamente uma fácil tarefa, trabalha-se à luz deste princípio: não há senão diferenças numa língua; a lingua põe em jogo um conjunto de processos discriminatórios. Destacam-se apenas os traços dotados de valor significativo, afastando-se, após os haver especificado, os que representam apenas variantes. Uma grande simplificação opera-se desde então, e se torna possível, assim, reconhecer a organização interna e as leis de organização desses traços formais. Cada fonema ou morfema é relativo a cada um dos outros, por ser ao mesmo tempo diferente e solidário; cada um delimita os outros, que por sua vez o delimitam, sendo a distintividade e a solidariedade condições conexas. Esses elementos ordenam-se em séries e mostram em cada língua arranjos particulares. Trata-se de uma estrutura, em que cada peça recebe a sua razão de ser do conjunto que serve para compor. Estrutura é um dos termos essenciais da linguística moderna, um dos que ainda têm valor programático. Para os que o empregam com conhecimento de causa, e não simplesmente para se porem na moda, pode significar duas coisas bem diferentes. Entende-se por estrutura, particularmente na Europa, o arranjo de um todo em partes e a solidariedade demonstrada entre as partes do todo, que se condicionam mutuamente; para a maioria dos linguistas americanos, será a distribuição dos elementos, tal como se verifica, e a sua capacidade de associação ou de substituição. A expressão linguística estrutural recebe por isso diferentes interpretações; bastante diferentes, em todo caso, para que as operações decorrentes não tenham o mesmo sentido. Sob o nome de estrutura, um "bloomfieldiano1' descreverá uma organização de fato, que segmentará em elementos constitutivos, e definirá cada um destes segundo o lugar que ocupar no conjunto e segundo as variações e as substituições possíveis nesse mesmo lugar. Rejeitará como tachada pela teleologia a noção de equilíbrio e de tendência que Trubetzkoy soma à de estrutura e que, entretanto, se revelou fecunda. É mesmo o único princípio que faria compreender a evolução dos sistemas linguísticos. Um estado de língua é antes de tudo o resultado de um certo equilíbrio entre as partes de uma estrutura, equilíbrio que, porém, não chega jamais a uma simetria completa, provavelmente porque a dissimetria está inscrita no próprio princípio da língua em decorrência da assimetria dos órgãos fonadores. A solidariedade de todos os elementos faz com que cada incidência sobre um ponto atinja todo o conjunto das relações e produza, mais cedo ou mais tarde, um novo arranjo. Daí, consistir a análise diacrô-nica em estabelecer duas estruturas sucessivas e em destacar-lhes as relações, mostrando-se que partes do sistema anterior eram atingidas ou ameaçadas e como se preparava a solução realizada no sistema ulterior. Dessa forma, soluciona-se o conflito tão vivamente afirmado por Saussure entre diacronia e sincronia. Essa concepção da estrutura organizada na sua totalidade completa-se com a noção de hierarquia entre os elementos da estrutura. Encontra-se notável ilustração desse fato na análise, dada por R. Jakobson, da aquisição e da perda dos sons da linguagem na criança e no afásico, respectivamente: os sons adquiridos por último pela criança são os primeiros a desaparecer no afásico, e os que o afásico perde por último são os que a criança articula primeiro, sendo a ordem do desaparecimento inversa à da aquisição. Em todo caso, uma análise assim concebida só é possível se o linguista está em condições de observar integralmente, de controlar ou de fazer variar à sua vontade o jogo da língua descrita. Somente as línguas vivas, escritas ou não, oferecem um campo suficientemente vasto e fatos suficientemente seguros para que a investigação se conduza com um rigor exaustivo. Dá-se a preponderância às línguas faladas. Essa condição impôs-se a certos linguistas por razões empíricas. Para outros, na América, foi em primeiro lugar a necessidade de observar e de analisar línguas indígenas, difíceis e várias, que se constituiu justamente no ponto de partida de uma revisão nos métodos descritivos e depois na doutrina geral. Mas, pouco a pouco, a renovação estende-se às línguas antigas. Torna-se mesmo possível reinter-pretar, à luz de novas teorias, os dados fornecidos pelo método Ifcomparativo. Trabalhos como os de J. Kurylowicz sobre a reconstrução das fases indo-européias mostram tudo o que se pode esperar de uma análise assim orientada. Um mestre da linguística histórica, J. Vendryes, defende também uma linguís- tica "estática", que seria um inventário comparativo dos recursos que as diversas línguas oferecem às mesmas necessidades de expressão. Compreende-se que o tipo de estudo que predomina nestes últimos anos seja a descrição sistemática, parcial ou total, de uma língua particular, com uma preocupação técnica que jamais havia sido tão minuciosa. De fato, o linguista sente-se obrigado a justificar os seus processos de ponta a ponta. Alega um aparato de definições que deve legitimar a conotação que confere a cada um dos elementos definidos, e as operações são apresentadas explicitamente, de maneira a permanecerem suscetíveis de verificação em todas as etapas do procedimento. Daí resulta uma refundição da terminologia. Os termos empregados são tão específicos que o linguista informado pode reconhecer desde as primeiras linhas a inspiração de um estudo, e que certas discussões não são inteligíveis para os adeptos de um método a não ser transpostas para a sua própria nomenclatura. Exige-se de uma descrj£|fij£iue,,seia explícita e coerente e que a análise se conduza sem levar em conta a signifiçaçãQ, mas somente em virtude de critérios fpimais. É sobretudo na América que se afirmam esses princípios, e eles aí deram origem a longas discussões. Em um livro recente, Methods in structural linguistics (1951), Z. S. Harris criou uma espécie de codificação. O seu trabalho pormenoriza passo a passo os processos que destacam os fpnemas e os mor-, femas a partir das condições formais de distribuição, ambiente, substituição, complementaridade, segmentação, correlação, etc.., ilustrando cada uma das operações com problemas particulares, tratados com um aparato quase matemático de símbolos gráficos. Parece difícil avançar mais nesse caminho. Consegue~se, ao menos, estabelecer um método único e constante? O autor é o primeiro a convir que são possíveis outros processos, e que alguns seriam mesmo mais económicos, particularmente quando se faz intervir a significação, de modo que acabamos por perguntar-nos se não há certa gratuidade nesse desdobramento de exigências metodológicas. Observar-se-á sobretudo, porém, que todo o trabalho do linguista se apoia realmente sobre o discurso, implicitamente assimilado à língua. Esse ponto, fundamental, deveria ser discutido a par com a concepção particular da estrutura admitida pelos partidários desse método. Esquemas de distribuição, por mais rigorosamente que se estabeleçam, não constituem uma estrutura, assim como inventários de fonemas e de morfemas, definidos por segmentação em cadeias de discurso, não representam a descrição de uma língua. O que nos apresentam efetivamente é um método de transcrição e de decomposição material aplicado a uma língua que seria representada por um conjunto de textos orais e cuja significação o linguista ignoraria. Acentuemos bem esta característica que, ainda mais que o tecnicismo particular das operações, é própria do método: admite-se, por princípio, que a análise linguística, para ser científica, deve abster-se da significação e prender-se unicamente à definição e à distribuição dos elementos. As condições de rigor impostas ao processo exigem que se elimine esse elemento inapreensível, subjetivo, impossível de classificar, que é a significação ou o sentido. O máximo que se poderá fazer é ter a certeza de que determinado enunciado convém a determinada situação objetiva e, se a recorrência da situação provocar o mesmo enunciado, serão postos em correlação. A relação entre a forma e o sentido é pois reduzida à relação entre a expressão linguística e a situação, nos termos da doutrina behaviorista, e a expressão poderá ser ao mesmo tempo resposta e estímulo. A significação reduz-se praticamente a um certo condicionamento linguístico. Quanto à relação entre a expressão e o mundo, é um problema que se deixa para os especialistas do universo físico. "O sentido (meaning) de uma forma linguística", diz Bloomfield, "se define como a situação na qual o falante a enuncia e a resposta que ela provoca no ouvinte" (Language, p. 139). E Harris insiste na dificuldade de analisar as situações: "Não há atualmente nenhum método para medir as situações sociais e para identificar unicamente as situações sociais como compostas de partes constituintes, de tal modo que possamos divisar o enunciado linguístico que sobrevêm nessa situação social, ou que a ela corresponde, em segmentos que corresponderão às partes constituintes da situação. De maneira geral, não podemos atualmente fiar-nos em nenhuma subdivisão natural ou cientificamente controlável do campo semântico da cultura local, porque não existe no momento nenhuma técnica para esse tipo de análise completa da cultura em elementos

discretos; ao contrário, a linguagem é que é uma das nossas principais fontes de conhecimento da cultura (ou do mundo da significação) de um povo e das distinções ou divisões que aí se praticam" (op. cit., p. 188). É de temer-se que, se esse método deve generalizar-se, a linguística não possa jamais reunir-se a nenhuma das outras ciências do homem nem da cultura. A segmentação do enunciado em elementos discretos não leva a uma análise da língua, da mesma forma que uma segmentação do universo físico não leva a uma teoria do mundo físico. Essa maneira de formalizar as partes do enunciado arrisca-se a acabar numa nova atomizacão da língua, pois a língua empírica é o resultado de um processo de simbolização em muitos níveis, cuja análise nem foi ainda tentada; o "dado" linguístico não é, sob esse aspecto, um dado primeiro, do qual bastaria dissociar as partes constitutivas: é, já, um complexo, cujos valores resultam uns das propriedades particulares de cada elemento, outros das condições da sua organização, outros ainda da situação objetiva. Podem-se, pois, conceber muitos tipos de descrição e muitos tipos de formalização, mas todos devem necessariamente supor que o seu objeto, a língua, é dotado de significação, que em vista disso é que é estruturado, e que essa condição é,messe_rjcial. íio funr. cionamento da língua entre os outros sistemas de signos. E difícil imaginar o que resultaria de uma segmentação da cultura em elementos discretos. Numa cultura, como numa língua, feá um conjunto de símbolos cujas relações é necessário definir. Até aqui, a ciência das culturas permanece forte e deliberadamente "substancial". Será possível destacar, no aparato da cultura, estruturas formais do tipo das que Lévi-Strauss introduziu nos sistemas de parentesco? É o problema do futuro. Vê-se em todo caso como será necessária, para o conjunto das ciências que operam com formas simbólicas, uma investigação das propriedades do símbolo. As pesquisas iniciadas por Peirce não foram retomadas e é uma pena. E do progresso na análise dos símbolos que se poderia esperar principalmente uma compreensão melhor dos complexos processos da significação na língua e provavelmente também fora da língua. E uma vez que esse funcionamento é inconsciente, como é inconsciente a estrutura dos compor- tamentos, psicólogos, sociólogos e linguistas associariam com vantagem os seus esforços nessa pesquisa. A orientação que acabamos de caracterizar não é a única que se possa registrar. Outras concepções, igualmente sistemáticas, afirmaram-se. Na psicolinguística de G. Guillaume, a estrutura linguística estabelece-se como imanente à língua realizada, a estrutura sistemática se descobre a partir dos fatos de emprego que a explicitam. A teoria que L. Hjelmslev, na Dinamarca, quer promover sob o nome de glossemática é uma construção de um "modelo" lógico de língua e um corpo de definições mais que um instrumento de exploração do universo linguístico. A ideia central aqui é, grosso modo, a do "signo" saussuriano, em que a expressão e o conteúdo (equivalendo ao "significante" e ao "significado" saussurianos) são estabelecidos como dois planos correlativos, cada um dos quais comporta uma "forma" e uma "substância". Parte-se aqui da linguística em direção à lógica. Nesse ponto, percebe-se o que poderia ser uma convergência entre disciplinas que se ignoram ainda em grande parte. No momento em que linguistas ciosos de rigor procuram lançar mão das vias e mesmo do aparato da lógica simbólica para as suas operações formais, acontece que os lógicos se tornam atentos à "significação" linguística e, seguindo Russell e Wittgenstein, se interessam cada vez mais pelo problema da língua. Os seus caminhos cruzam-se mais do que se encontram, e os lógicos preocupados com a linguagem nem sempre encontram com quem falar. Para dizer a verdade, os linguistas que gostariam de garantir para o estudo da linguagem uma conotação científica se voltam de preferência para a matemática, procuram processos de transcrição mais que um método axiomático, cedem um tanto facilmente à atração de certas técnicas modernas, como a teoria cibernética ou a da informação. Uma tarefa mais produtiva consistiria em refletir nos meios de aplicar em linguística certas operações da lógica simbólica. O lógico perscruta as condições de verdade às quais devem satisfazer os enunciados nos quais a ciência se fundamenta. Recusa a linguagem "ordinária" como equívoca, incerta e flutuante, e quer forjar para si uma língua inteiramente simbólica. Mas o objeto do linguista é precisamente esta "linguagem ordinária" que ele toma como dado e cuja

estrutura inteira explora. Ele teria interesse em utilizar experimentalmente, na análise das classes linguísticas de todas as ordens que ele determina, os instrumentos elaborados pela lógica dos conjuntos, para ver se entre essas classes se podem estabelecer relações tais que respondam perante a simbolização lógica. Ter-se-ia então, ao menos, alguma ideia do tipo de lógica que subentende a organização de uma língua; ver-se-ia se há uma diferença de natureza entre os tipos de relações próprias da linguagem ordinária e os que caracterizam a linguagem da descrição científica; ou, em outras palavras, como a linguagem da ação e a da inteligência se comportam em relação uma com a outra. Não basta comprovar que uma se deixa transcrever numa notação simbólica e a outra não, ou não imediatamente; permanece o fato de que uma e outra procedem da mesma fonte e comportam exatamente os mesmos elementos de base. É a própria língua que propõe esse problema. Essas considerações aparentemente nos afastam muito dos temas de pesquisa em que a linguística se empenhava há algumas décadas. Esses problemas abordados somente hoje são, porém, problemas de todos os tempos. Em compensação, nas ligações que os linguistas procuravam então com outros domínios, encontramos hoje dificuldades de que não suspeitavam. Meillet escrevia em 1906: "Cumprirá determinar a que estrutura social corresponde uma certa estrutura linguística e como, de maneira geral, as mudanças de estrutura social se traduzem por mudanças de estrutura linguística". A despeito de algumas tentativas (Sommer-felt), esse programa não foi cumprido pois, à própria medida que se tentava comparar sistematicamente a língua e a sociedade, apareciam as discordâncias. Descobriu-se que a correspondência de uma e de outra era constantemente perturbada sobretudo pela difusão, tanto na língua como na estrutura social, de modo que sociedades de cultura semelhante podem ter línguas heterogéneas, assim como línguas muito vizinhas podem servir para a expressão de culturas inteiramente dessemelhantes. Levando mais longe a reflexão, encontram-se os problemas inerentes à análise da língua, de um lado, da cultura de outro, e os da "significação", que lhes são comuns; em suma, exatamente os mesmos que acima lembramos. Não quer isso dizer que o plano de estudos indicado por Meillet seja irrealizável. O problema consistirá antes em descobrir a base comum à língua e à sociedade, os princípios que regem essas duas estruturas, deflnindo-se primeiro as unidades que, numa e noutra, se prestariam à comparação, ressaltando-se-lhes a interdependência. Há naturalmente maneiras mais fáceis de abordar a questão, mas que na realidade a transformam; por exemplo, o estudo da impressão cultural na língua. Na prática, limitamo-nos ao léxico. Já, então, não é da língua que se trata, mas da composição do seu vocabulário. Há aí, aliás, matéria muito rica e, apesar das aparências, muito pouco explorada. Dispõe-se agora de amplas compilações que alimentarão numerosos trabalhos, principalmente do dicionário comparativo de J. Pokorny ou do das noções, de C. D. Buck, sobre o domínio indo-europeu. O estudo das variações nas significações históricas é outro domínio lambem prometedor. Importantes trabalhos foram dedicados à "semântica" do vocabulário nos seus aspectos teóricos tanto quanto sociais ou históricos (Stern, Ullmann). A dificuldade consiste em destacar de uma crescente massa de fatos empíricos as constantes que permitiriam construir uma teoria da significação léxica. Esses fatos parecem conter um desafio constante a toda possibilidade de previsão. Sob outro aspecto, a açào das "crenças" sobre a expressão levanta numerosas questões das quais algumas foram estudadas: a importância do labu linguístico (Meillet, Havers), as modificações das formas linguísticas para indicar a atitude do falante em relação às coisas de que fala (Sapir), a hierarquia cerimonial das expressões focalizam a ação complexa dos comportamentos sociais c dos condicionamentos psicológicos no uso da língua. Chega-se, assim. ;u>s problemas do "estilo" em todas as suas acepções. Durante estes úllimos anos, estudos de tendências muito diferentes, mas igualmente dignos de nota (Bally, Cressot, Marou-zeau, Spitzer, Vossler), apoiaram-se nos processos do estilo. Na medida em que uma pesquisa dessa ordem põe em jogo, cons-cientemente ou não, critérios ao mesmo tempo estéticos, linguísticos e psicológicos, ela empenha ao mesmo tempo a estrutura da língua, o seu poder de estimulação e as reações que provoca. Se os critérios são ainda frequentemente "impressivos" há, pelo menos, um esforço no sentido de precisar o método aplicável a esses conteúdos afetivos, à intenção que os suscita tanto quanto à língua que lhes fornece o instrumento. Encaminhamo-nos para isso por meio de estudos sobre a ordem das palavras, sobre a qualidade dos sons, sobre os ritmos e a prosódia assim como sobre os recursos léxicos e gramaticais da língua. Também aqui se procura amplamente a contribuição da psicologia, não só por causa dos valores de sentimento constantemente implicados na análise, mas também pelas técnicas destinadas a objetivá-los, testes de evocação, pesquisas sobre a audição colorida, sobre os timbres vocais, etc. Trata-se de todo um simbolismo que lentamente se aprende a decifrar. Comprova-se assim em toda parte um esforço para submeter a linguística a métodos rigorosos, para afastar, ou quase, as construções subjetivas, o apriorismo filosófico. Os estudos linguísticos tornam-se hoje cada vez mais difíceis, exatamente por causa dessas exigências e porque os linguistas descobrem que a língua é um complexo de propriedades específicas que devem ser descritas por métodos que é preciso forjar. São tão particulares as condições próprias da linguagem que se pode estabelecer como um fato que há não apenas uma, porém várias estruturas da língua, cada uma das quais possibilitaria uma linguistica completa. Tomar consciência disso ajudará, talvez, a ver claro dentro dos conflitos atuais. A linguagem tem, antes de tudo, algo de eminentemente distintivo: estabelece-se sempre em dois planos, significante e significado. O simples estudo dessa propriedade constitutiva da linguagem e das relações de regularidade ou de desarmonia que acarreta, das tensões e das transformações que daí resultam em toda língua particular poderia servir de fundamento a uma linguística. Entretanto, a linguagem é também um fato humano; é, no homem, o ponto de interação da vida mental e da vida cultural e ao mesmo tempo o instrumento dessa interação. Uma outra linguística poderia estabelecer-se sobre os termos deste trinômio: língua, cultura, personalidade. A linguagem pode também considerar-se como inteiramente contida dentro de um corpo de emissões sonoras articuladas que constituirão a matéria de um estudo estritamente objetivo. A língua será, pois, o objeto de uma descrição exaustiva que procederá por segmentação dos dados observáveis. Pode-se, ao contrário, ter essa linguagem realizada em enunciados registráveis como a manifestação contingente de uma infra-estrutura escondida. Nesse caso, a pesquisa e a elucidação desse mecanismo latente constituirão o objeto da linguística. A linguagem admite também a sua constituição em estrutura de "jogo", como um conjunto de "figuras" produzidas pelas relações intrínsecas de elementos constantes. A linguística tornar-se-á então a teoria das combinações possíveis entre esses elementos e das leis universais que as governam. Vê-se ainda como possível um estudo da linguagem enquanto ramo de uma semiótica geral que cobriria ao mesmo tempo a vida mental e a vida social. O linguista terá então que definir a natureza própria dos símbolos linguísticos com a ajuda de uma formalização rigorosa e de uma metalíngua diferente. Essa enumeração não é exaustiva e não pode sê-lo. Surgirão, talvez, outras concepções. Queremos apenas mostrar que, por trás das discussões e das afirmações de princípio que acabamos de expor, existe com frequência, sem que todos os linguistas a vejam claramente, uma opção preliminar que determina a posição do objeto e a natureza do método. É provável que essas diversas teorias venham a coexistir, embora num ou noutro ponto do seu desenvolvimento devam necessariamente encontrar-se, até o momento em que se imponha o status da linguística como ciência, não ciência dos fatos empíricos mas ciência das relações e das deduções, reencontrando a unidade do plano dentro da infinita diversidade dos fenómenos linguísticos.

CAPÍTULO 2 vista d'olhos sobre o desenvolvimento da linguística(2} .Durante estes últimos anos, sobrevieram, nos estudos que se fazem sobre a linguagem e as línguas, mudanças consideráveis cujo alcance ultrapassa mesmo o horizonte, no entanto vasto, da linguística. Essas mudanças não se compreendem à primeira vista; esquivam-se na sua própria manifestação; com o tempo tornaram muito mais penoso o acesso aos trabalhos originais, que se encrespam de uma terminologia cada vez mais técnica. É inegável: encontra-se grande dificuldade para ler os estudos dos linguistas, mas ainda mais para compreender as suas preocupações. A que visam e que fazem com esse algo que é o património de todos os homens e não cessa de atrair a sua curiosidade: a língua? Tem-se a impressão de que, para os linguistas de hoje, os fatos da linguagem se transmudam em abstrações, se tornam nos materiais inumanos de construções algébricas ou servem de argumentos a discussões áridas sobre método, e de que a linguística se afasta das realidades da linguagem e se isola das outras ciências humanas. Ora, é exatamente o contrário. Comprova-se, ao mesmo tempo, que esses métodos novos da linguística assumem o valor de exemplo e mesmo de modelo para outras disciplinas, que os problemas da linguagem interessam agora a especialidades

2. C. R. Académie dês inscriptions et belles-lettres, Paris, Librairie C. JClinck-sieck, 1963.

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