Tenório Cavalcanti
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Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque, ou Tenório Cavalcanti, foi um político de notável destaque no cenário fluminense da década de 60. Era conhecido como "O Homem da Capa Preta", apelido que ganhou graças a uma capa escura que sempre trazia consigo, sob a qual escondia uma metralhadora apelidada "Lurdinha", presente do general Gois Monteiro.
Tenório possuía um estilo político agressivo, muitas vezes violento. Isso rendeu a ele uma áurea de mito. Foi eleito deputado estadual e deputado federal do Rio de Janeiro, tendo quase vencido também para governador do estado. Sua vida inspirou o filme "O Homem da Capa Preta", filmado em 1986 por Sérgio Rezende e estreado por José Wilker no papel de Tenório Cavalcanti.
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[editar] Origem e política
Tenório Cavalcanti nasceu em Palmeira dos Índios - AL, em 27 de setembro de 1906, tendo se mudado ainda criança para Duque de Caxias no final dos anos 20. Sua infância fora humilde, na maior parte passada no sertão nordestino. Na época de sua chegada no Rio, Duque de Caxias era apenas um gueto cruzado por ruas de terra batida. Habitado na maior parte por migrantes nordestinos, a região era desprovida de qualquer infra-estrutura ou saneamento básico, sendo apenas uma enorme favela horizontal de loteamentos pantanosos, infestados de mosquitos.
Seria naquele gueto, a Baixada Fluminense, que Cavalcanti garantiria seu poder político. Como deputado estadual, o homem da capa preta providenciou diversas melhorias para a população local, buscando também instalar os milhares de migrantes nordestinos que vinham para o Rio de Janeiro em busca de condições melhores de vida. Suas obras políticas renderam-lhe muitos aliados e eleitores pelas favelas de Caxias, apoio este que o levaria a ser eleito deputado federal.
[editar] O Caso Imparato - "O Deputado Pistoleiro"
Pelos cabos eleitorais, Cavalcanti fora conhecido como "O Rei da Baixada"; pelos rivais, era tachado de "O Deputado Pistoleiro". Devido aos constantes riscos de morte, Tenório e sua família habitavam uma fortaleza na Baixada Fluminense. No entanto, jamais se recusava em caminhar pelas ruas do gueto, andando sempre armado e acompanhado de capangas.
As aspirações e os planos políticos de Cavalcanti chocavam-se violentamente com o das elites de Duque de Caxias. Isso lhe rendeu diversos desafetos, muitos dos quais culminaram em atentados à vida dele e à de seus familiares e aliados. Em casos como estes, Cavalcanti mandava matar quem o desafiasse. Um destes fora o delegado paulista Albino Imparato, convocado às pressas pela elite de Caxias para que freasse o populismo e a agressividade do homem da capa preta. Com a chegada de Albino, Cavalcanti e seus aliados foram perseguidos de forma implacável. Sua casa fora metralhada, seus familiares ameaçados e alguns de seus comparsas assassinados.
Até que, no dia 28 de agosto de 1953, o delegado Imparato fora encontrado metralhado dentro de seu carro, no Centro da cidade. O crime despertou a atenção nacional. As investigações comprovaram a participação direta de Cavalcanti no crime. As duas residências do homem da capa preta – a fortaleza de Caxias e o apartamento de Copacabana – foram cercadas por policiais fortemente armados. Com a intervenção de alguns nomes políticos de peso da época, o cerco fora desfeito. Intervieram Nereu Ramos, presidente da Câmara, Osvaldo Aranha, ex-ministro da Fazenda, e Afonso Arinos, então deputado e futuro senador, que foram a Caxias especialmente para defender o aliado.
[editar] Crepúsculo e morte
Tenório Cavalcanti candidatou-se para o cargo de governador da Guanabara em 1960 pelo PST, mas perdeu as eleições para Carlos Lacerda. Candidatou-se a governador do Estado do Rio de Janeiro em 1962, perdendo para Badger da Silveira. Estes fatos, somado às pressões cada vez mais fortes das elites de Caxias, solaparam o poder de Cavalcanti, que lentamente cairia no esquecimento. Antes disso, protagonizaria um dos episódios mais tensos da história política brasileira.
Na ocasião, Cavalcanti, ainda no mandato de deputado federal, discursava na Câmara dos Deputados. No discurso, acusava o então presidente do Banco do Brasil, Clemente Mariani, de desvio de verbas. Antônio Carlos Magalhães, então deputado e baiano como Mariani, defendera o conterrâneo respondendo que "vossa excelência pode dizer isso e mais coisas, mas na verdade o que vossa excelência é mesmo, é um protetor do jogo e do lenocínio, porque é um ladrão."
Enfurecido, Tenório Cavalcanti sacou de seu revolver e o apontou para Magalhães, berrando "vai morrer agora mesmo!". Todos ali presentes mobilizaram-se para impedir que o deputado baiano fosse baleado. Impassível, de microfone na mão, Antônio Carlos Magalhães respondera aos gritos "atira, seu filho da puta!" (sic).
Tenório não atirou. Suas armas foram apreendidas e seus direitos políticos cassados pelo governo militar em 1964. Tenório jamais recuperaria seu poder, tendo morrido de pneumonia aos 82 anos, em 5 de maio de 1987.
[editar] Filme - "O Homem da Capa Preta"
A vida de Tenório Cavalcanti rendeu um filme chamado "O Homem da Capa Preta", clássico do cinema brasileiro da década de 80. Dirigido em 1986 por Sérgio Rezende, o filme vencera os Kikitos de Melhor Filme, Melhor Música, Melhor Ator (José Wilker) e Melhor Atriz (Marieta Severo)no Festival de Gramado de 1986.
Os críticos condenaram a visão romântica apresentada pelo cineasta. Rezende argumentara da seguinte forma: “O que me fascinava na vida do Tenório Cavalcanti era a sua característica de aventureiro (talvez até porque eu seja uma pessoa tímida). Esses personagens que fizeram coisas que eu jamais seria capaz de fazer me geram uma tremenda admiração ou uma inveja, talvez. Tenório Cavalcanti, por exemplo, é um cara poderoso, que sai de Alagoas menino, pobre, miserável e chega ao Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense e, em vinte anos, transforma-se em um homem muito poderoso que consegue mover uma parte do mundo. E, como cineasta, eu estou procurando as coisas que dêem um grande filme”.