Rede Tupi de Televisão
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A Rede Tupi de Televisão foi a primeira emissora de televisão da América Latina e do Brasil, fundada em 18 de setembro de 1950 por Assis Chateaubriand. Fazia parte do Grupo Diários Associados. Em 18 de julho de 1980, devido aos vários problemas financeiros, sua concessão foi cassada pelo governo brasileiro, e além dela, mais 6 emissoras pertencentes aos Associados também saíam do ar.
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[editar] Primeiros passos
Depois de poucos meses de treinamento, alguns radialistas escolhidos por Assis Chateaubriand, o Chatô, lançaram-se à aventura de fazer TV. Os estúdios earm pequenos, o equipamento precário, mas o nascimento da TV Tupi foi solene. Assis Chateaubriand presidiu a cerimômia que contou com a participação de um frade cantor mexicano, Frei José Mojica, que entoou "A canção da TV", hino composto especialmente para a ocasião. Um balé de Lia Marques e declamação da poetisa Rosalina Coelho Lisboa, nomeada madrinha do "moderno equipamento" fizeram parte do show. A jovem atriz Yara Lins foi convocada especialmente para dizer o prefixo da emissora — PRF-3 — e o de uma série de rádios que transmitiam em cadeia o acontecimento. A seguir entrou a programação na tela dos cinco aparelhos instalados no saguão do prédio dos Diários Associados.
Há muitas histórias a respeito desse dia. Uma delas é que, empolgado, Chateaubriand teria quebrado uma garrafa de champanhe numa das duas câmeras RCA, fazendo com que a TV no Brasil entrasse em cena com apenas metade de sua capacidade, isto é: com apenas uma câmera. Outra é que, acabada a inauguração, a equipe se deu conta de que não havia o que colocar no ar no dia seguinte, pois ninguém havia pensado nisso.
O então radialista Cassiano Gabus Mendes que, aos 23 anos, assumiu a direção artística da Tupi, não podia ouvir essas histórias, desmentia quantas vezes fosse preciso. "É tudo invenção do Lima Duarte. Como ele é muito engraçado, as pessoas acabam se convencendo." dizia ele pouco antes de morrer, em 1993. "Chateaubriand era um homem esclarecido, não ia danificar equipamento e tínhamos programação para as três semanas seguintes".
[editar] Programação
Acostumados à improvisação e rapidez do rádio, os pioneiros não tiveram problemas em se adaptar ao moderno veículo e aprenderam muito: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena. A TV Tupi dos primeiros anos era uma verdadeira escola. Dois dias depois da primeira emissão, em 20 de setembro de 1950, estreou o primeiro programa humorístico, chamado Rancho Alegre com Mazzaropi. Aos poucos, outros programas ganharam forma: o primeiro telejornal, a primeira telenovela.
O programa TV de Vanguarda revelou a primeira geração de atores, atrizes e diretores. Foram apresentadas peças como Hamlet, de Shakespeare, e Crime e Castigo, de Dostoiévski. Alguns programas dos primeiros tempos da TV Tupi tornaram-se campeões de audiência e permanência no ar: Alô Doçura, Sítio do Picapau Amarelo, O céu é o limite, Clube dos Artistas (que existiu de 1952 a 1980) e o famoso telejornal Repórter Esso (que ficou dezoito anos no ar).
A telenovela foi uma invenção da TV Tupi, que as exibia em capítulos semanais e era capaz de ousadias como mostrar beijo na boca. Foi em 1951, na novela "Sua vida me pertence", que Vida Alves deixou-se beijar pelo galã Walter Forster.
No jornalismo a emissora repetiu na tela o sucesso do Repórter Esso, que marcou época no rádio brasileiro a partir de 1941. Os locutores Heron Domingues e Gontijo Teodoro entravam no ar com as últimas noticias nacionais e internacionais ao som de um dos mais famosos prefixos musicais da história do rádio e televisão brasileiros.
Se durante a primeira década de sua existência a Tupi foi líder absoluta, nos anos 60 as emissoras concorrentes aprimoraram sua programação para lutar pela audiência. Em 1968, a novela "Beto Rockfeller", de Bráulio Pedroso, revoluciona a linguagem da televisão. A partir da figura de um anti-herói, surge um novo estilo de interpretação, mais natural. A TV Tupi revela mais uma geração de talentos.
Também na programação infantil a Tv Tupi se destacou com o Clube do Capitão Aza, criado em 1966, onde clássicos do desenho animado como Speed Racer e séries como Ultraman e Ultraseven foram apresentadas.
[editar] Programas
[editar] Formação da rede e crise na emissora
A longa crise dos Diários Associados já havia começado bem antes da morte de Assis Chateaubriand, em 4 de abril de 1968. Abalada por problemas financeiros, mal administrada, sem investimentos, a TV Tupi perde qualidade e audiência.
Em 1972, a Rede Tupi de Televisão começa a ser formada. Houve várias divergências sobre qual canal seria a "cabeça da rede": o canal 4 paulista ou o canal 6 carioca. Houve duas tentativas para que ambas comandassem a Rede Associada. Na primeira, a estação carioca comandaria as emissoras do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto que a emissora de São Paulo controlaria os canais do Sul e Sudeste. Na segunda, a Tupi paulista ficaria responsável pela produção de telenovelas, e a Tupi do Rio se encarregaria pelos shows e programas de auditório. Mas as duas idéias não vingaram, e a rixa entre as diretorias das duas estações agravaram a situação da Tupi. O único ponto positivo nisso foi que a Tupi foi a primeira rede de TV da América Latina a possuir duas cabeças geradoras de programação.
As emissoras concorrentes vão ocupando os espaços vazios deixados pela pioneira. Ano após ano, a crise se aprofunda. E com a Rede Globo impondo seu domínio avassalador, a Tupi se enfraquece. Ainda assim, a emissora pioneira consegue emplacar sucessos na década como "Mulheres de areia" (1973), "Meu rico português" (1975) e "A Viagem" (1975). No fim dos anos 70 a situação piora. Os salários atrasam cada vez mais. Há dívidas astronômicas junto à Previdência Social. Proliferam muitos escândalos financeiros. Em agosto de 1977, "Éramos seis", "Cinderela 77" e "Um sol maior" registravam os mais baixos índices de audiência da história do canal. Além da audiência, a publicidade também escapolia para as concorrentes, o caixa se esvaziava, os salários deixavam de ser pagos e a greve era questão de tempo. Em outubro de 1977, com três meses de salários atrasados, os funcionários iniciaram a primeira greve, interrompida com o pagamento parcelado dos débitos.
[editar] O fim da "Pioneira"
Os constantes atrasos dos salários mantinham o clima tenso na emissora pioneira. As perspectivas de pagamento dos atrasados eram cada vez mais remotas e as explicações dadas aos funcionários, cada vez mais inconsistentes. Para piorar ainda mais a situação, em outubro de 1978 um incêndio no prédio da emissora, em São Paulo, tirou a Tupi do ar por alguns minutos e destruiu os novos equipamentos adquiridos pela emissora no mesmo ano, e que nem chegaram a entrar em funcionamento. Ainda em 1978, iniciou a construção de sua nova antena transmissora, que seria a maior torre de TV da América do Sul. No ano seguinte, o elenco de "O Espantalho", de Ivani Ribeiro (uma produção dos Estúdios Silvio Santos feita em 1977), processou a Tupi por não pagar os direitos conexos aos atores que trabalharam na trama. Entre 1979 e 1980, nova greve. A crise chegou a Brasília. O então presidente da República, João Figueiredo. se dispôs a receber uma comissão de dirigentes dos sindicatos envolvidos. Muito se discutia, pouco se fazia.
A greve persistiu até o início de fevereiro, quando a emissora fechou seu departamento de dramaturgia e dispensou os 250 funcionários que trabalhavam nesse setor. Foram interrompidas as novelas "Drácula - Uma história de amor", que só teve 4 capítulos exibidos, e "Como salvar meu casamento", a 20 episódios de seu desfecho. Além disso, outra trama, "Maria Nazaré" estava em fase de pré-produção e 32 cenas já estavam gravadas na época, mas não chegou a entrar no ar. Para substituir a novela "Drácula - uma história de amor", foi colocada a reprise da novela "A Viagem" que teve essa sua reprise inacabada.
Em 16 de julho de 1980, pouco antes de completar 30 anos no ar, a Rede Tupi tem 7 de suas 9 concessões cassadas pelo Governo Federal, e a decisão foi publicada no Diário Oficial, no dia seguinte. Minutos antes do meio-dia de 18 de julho de 1980, três engenheiros do Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) subiram ao décimo andar do edifício-sede da TV Tupi de São Paulo, na avenida Alfonso Bovero, no bairro do Sumaré, e lacraram o transmissor da emissora. Saíam também do ar a TV Tupi do Rio, a TV Itacolomi, de Belo Horizonte, a TV Marajoara de Belém, a TV Piratini de Porto Alegre, a TV Ceará de Fortaleza, e a TV Rádio Clube de Recife.
Um delegado da Polícia Federal e mais quatro agentes davam proteção aos engenheiros. Era o fim da TV Tupi. A emissora saía do ar exatamente 29 anos e dez meses depois de sua inauguração.
O governo militar preferiu a cassação a entregar o canal a uma cooperativa de funcionários. Permanece, entretanto, um acervo de duzentos mil rolos de filmes, 6.100 fitas de videotape e textos de telejornais que contam 30 anos de muitas histórias do Brasil e do mundo.
Das 7 consessões cassadas, a última que saiu do ar foi a Tupi do Rio. No dia 17 de julho, os funcionários da estação iniciaram uma vigília de 18 horas, comandada pelo apresentador Jorge Perlingeiro, com o objetivo de impedir que o canal 6 carioca fosse fechado. Várias personalidades, como o cantor Agnaldo Timóteo e o humorista Costinha deram apoio aos funcionários. Mas nada adiantou. Às 12:36 de 18 de julho, o sinal da TV Tupi do Rio de Janeiro era definitivamente cortado.
Os Diários e Emissoras Associados ganharam na Justiça em 1998 a ação contra o Governo Federal e foram indenizados pela cassação da concessão das 5 Emissoras Associadas que não enfrentavam dificuldades financeiras. Somente a Tupi paulista e a Tupi do Rio estavam com salários atrasados.
[editar] Emissoras Geradoras da Rede Associada
- TV Tupi (PRF-3)/São Paulo - Canal 4
- TV Tupi (PRG-3)/Rio de Janeiro - Canal 6
[editar] Outras Emissoras Próprias
- TV Brasília/Brasília - Canal 6
- TV Itacolomi/Belo Horizonte - Canal 4
- TV Itapoan/Salvador - Canal 5
- TV Marajoara/Belém - Canal 2
- TV Piratini/Porto Alegre - Canal 5
- TV Rádio Clube de Goiânia/Goiânia - Canal 4
- TV Ceará/Fortaleza - Canal 2
- TV Rádio Clube de Recife/Recife - Canal 6
- TV Borborema/ Campina Grande (PB) - Canal 9
[editar] Emissoras Afiliadas
- TV Vitória/Vitória-ES - Canal 6 (atual Rede Record)
- TV Paraná/Curitiba - Canal 6 (atual CNT)
- TV Iguaçu/Curitiba - Canal 4(de 1978 a 1980) (atual SBT)
- TV Cultura/Florianópolis - Canal 6 (atual Rede Record)
- TV Uberaba/Uberaba-MG - Canal 7 (atual Band)
- TV Tibagi/Apucarana-PR - Canal 11 (atual SBT)
- TV Coroados/Londrina-PR - Canal 3 (atual Rede Globo)
- TV Rio Preto/São José do Rio Preto-SP - Canal 8 (atual canal 7 Rede Record)
- TV Esplanada/Ponta Grossa-PR - Canal 7 (atual Rede Globo)
- TV Coligadas/Blumenau-SC - Canal 3 (atual Rede Globo/RBS)
- TV Montes Claros/Montes Claros-MG - Canal 4 (atual Rede Globo)
- TV Borborema/Campina Grande-PB - Canal 4 (atual canal 9 SBT)
- TV Altamira/Altamira-PA - Canal 6 (atual Rede Record)
- TV Sentinela/Óbidos-PA - Canal 7 (atual Band)
- TV Atalaia/Aracaju-SE - Canal 8 (atual Rede Record)
- TV Baré/Manaus-AM - Canal 4 (atual SBT)
- Parte dessas emissoras foram distribuidas as concessoes do SBT e Rede Manchete, a partir de 1981
- as concessoes da Rede Manchete atualmente estão na Rede TV!, desde 1999
- Já as outras, foram compradas por outros grupos como CNT e Rede Record.
[editar] Referências bibliográficas
- GILDER, George. A Vida após a televisão: tudo sobre os últimos progressos em torno da televisão interativa. Trad. Ivo Korytowski. R. Janeiro: Ediouro, s.d.
- HOINEFF, Nelson. A Nova televisão, desmassificação e o impasse das grandes redes. Rio de Janeiro: Relume Dumára, s.d.
- MORAIS, Fernando. Chatô: Rei do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
- RAMOS, José Mário Otiz. Televisão, publicidade e cultura de massa. São Paulo: Vozes, 1995.