O Grito (Edvard Munch)
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O Grito (no original Skrik) é uma pintura do norueguês Edvard Munch, datada de 1893. A obra representa uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero existencial. O pano de fundo é a doca de Oslofjord (em Oslo) ao pôr-do-Sol. O Grito é considerado como uma das obras mais importantes do movimento expressionista e adquiriu um estatuto de ícone cultural, a par da Mona Lisa de Leonardo da Vinci.
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[editar] O Grito de Munch
A fonte de inspiração d’O Grito pode ser encontrada na vida pessoal do próprio Munch, um homem educado por um pai controlador, que assistiu em criança à morte da mãe e de uma irmã. Decidido a lutar pelo sonho de se dedicar à pintura, Munch cortou relações com o pai e integrou a cena artística de Oslo. A escolha não lhe trouxe a paz desejada, bem pelo contrário. Munch acabou por se envolver com uma mulher casada que só lhe trouxe mágoa e desespero e no início da década de 1890, Laura a sua irmã favorita, foi diagnosticada com doença bipolar e internada num asilo psiquiátrico. O seu estado de espírito está bem patente nas linhas que escreveu no seu diário:
- Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza.
Munch imortalizou esta impressão no quadro O Desespero, que representa um homem de cartola e meio de costas, inclinado sobre uma vedação num cenário em tudo semelhante à da sua experiência pessoal. Não contente com o resultado, Munch tentou uma nova composição, desta vez com uma figura mais andrógina, de frente para o observador e numa atitude menos contemplativa e mais desesperada. Tal como o seu percursor, esta primeira versão d’O Grito recebeu o nome de O Desespero. Segundo um trabalho de Robert Rosenblum (um especialista da obra do pintor), a fonte de inspiração para esta figura humana estilizada terá sido uma múmia peruana que Munch viu na exposição universal de Paris em 1889.
O quadro foi exposto pela primeira vez em 1893, como parte de um conjunto de seis peças, intitulado Amor. A ideia de Munch era representar as várias fases de um caso amoroso, desde o encantamento inicial a uma rotura traumática. O Grito representava a última etapa, envolta em sensações de angústia.
A recepção crítica foi duvidosa e o conjunto Amor foi classificado como arte demente (mais tarde, o regime nazi classificou Munch como artista degenerado e retirou toda a sua obra em exposição na Alemanha). Um crítico considerou o conjunto, e em particular O Grito, tão perturbador que aconselhou mulheres grávidas a evitar a exposição. A reacção do público, no entanto, foi a oposta e o quadro tornou-se em motivo de sensação. O nome O Grito surge pela primeira vez nas críticas e reportagens da época.
Munch acabou por pintar quatro versões d’O Grito, para substituir as cópias que ia vendendo. O original de 1893 (91x73.5 cm), numa técnica de óleo e pastel sobre cartão, encontra-se exposto na Galeria Nacional de Oslo. A segunda (83,5x66 cm), em tempera sobre cartão, foi exibida no Munch Museum de Oslo até ao seu roubo em 2004. A terceira pertence ao mesmo museu e a quarta é propriedade de um particular. Para responder ao interesse do público, Munch realizou também uma litografia (1895) que permitiu a impressão do quadro em revistas e jornais.
[editar] Interpretação do quadro
Vemos o fundo um céu de cores quentes, em oposição ao rio em azul (cor fria) que sobe a cima do horizonte, caracteristica do expressionismo (onde o que interessa para o artista é a expressao de suas ideias e nao um retrato da realidade). Vemos que a figura humana tambem está em cores frias, azul, como a cor da angústia e da dor, sem cabelo para demonstrar um estado de saúde precário. Os elementos descritos estão tortos, como se reproduzindo o grito dado pela figura, como se entortando com o berro, algo que reproduza as ondas ociloscópicas que representam o som. Quase tudo está torto, menos a ponte e as duas figuras que estão no canto esquerdo. Tudo que se abalou com o grito e com a cena presenciada está torto, quem não se abalou (supostamente seus amigos, como descrito acima) e a ponte, que é de concreto e não é "natural" como os outros elementos, continua reto. A dor do grito está presente não só na personagem, mas também no fundo, o que destaca que a vida para quem sofre não é como as outras pessoas a enxergam, é dolorosa também, a paisagem fica dolorosa e talvez por essa característica do quadro é que nos identificamos tanto com ele e podemos sentir a dor e o grito dado pelo personagem. Nos entrojetamos no quadro e passamos a ver o mundo torto, desforme e isso nos afeta diretamente e participamos quase interativamente da obra.
[editar] Os roubos
A 12 de Fevereiro de 1994, O Grito da Galeria Nacional de Oslo foi roubado em pleno dia, por um conjunto de ladrões que se deu ao trabalho de deixar uma mensagem que dizia: Obrigado pela falta de segurança. Três meses depois, os assaltantes enviaram um pedido de resgate ao governo norueguês, exigindo um resgate no valor de um milhão de dólares americanos. As entidades norueguesas recusaram a exigência e pouco depois, a 7 de Maio, o quadro foi recuperado numa ação conjunta da polícia local com a Scotland Yard.
A 22 de Agosto de 2004, a versão exposta no Munch Museum foi roubada num assalto à mão armada que levou também a Madonna do mesmo autor. O Museu ficou à espera de um pedido de resgate, que nunca chegou. Em Abril de 2005 foi preso um homem em ligação a este crime e surgiram rumores que os assaltantes tivessem queimado o quadro como forma de eliminar provas.
A polícia norueguesa anunciou ter reencontrado os quadros a 31 de Agosto de 2006.
[editar] O Grito na cultura popular
A carreira desta obra enquanto ícone cultural começou no período pós-segunda grande guerra. Em 1961, a revista Time colocou O Grito em destaque, como capa da sua edição dedicada aos complexos de culpa e ansiedade. Mais tarde, nos anos 80, Andy Warhol realizou uma série de trabalhos dedicados à obra de Munch que incluiu uma reinterpretação d’O Grito.
Com a popularização da obra, O Grito tornou-se num dos quadros mais reproduzidos de sempre, não só em posters como também em canecas, canetas e porta-chaves. Em 1991, o muralista Robert Fishbone criou uma versão boneco insuflável que vendeu milhares de cópias em todo o mundo. Ghostface, o assassino psicopata da série de filmes Scream, esconde a sua identidade sob uma máscara inspirada n’O Grito. O roubo das duas versões da pintura foi ainda satirizado num episódio da série Os Simpsons.