Kharijitas
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Os Kharijitas ou Caridjitas (árabe: خوارج, khawarij, "os que cindiram") foram o primeiro ramo a formar-se no Islão durante o cisma de 655-661 entre Ali e Muawiyah sobre quem deveria ser o califa. Inicialmente partidários de Ali na contenda, rejeitaram as suas pretensões em 657, opondo-se igualmente às de Muawiyah.
Os Kharijitas viriam por sua vez a dividir-se em vários subramos; um deles, o dos Ibaditas, é o único sobrevivente no mundo contemporâneo, englobando a maioria dos muçulmanos do Omã, mas com pequenos núcleos presentes na Argélia (oásis de Mzab), na ilha tunisina de Jerba e em Zanzibar.
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[editar] Origens históricas
Após a morte do terceiro califa, Otman, gerou-se uma disputa em torno de quem deveria ser o novo líder da comunidade muçulmana. Dois homens reclamavam essa dignidade: Ali, primo do profeta Maomé e esposo de sua filha (Fátima), e Muawiyah, governador de Damasco e primo do último califa.
Em Julho de 657 as forças de Ali e Muawiyah enfrentam-se na Batalha de Siffin, sem que nenhum dos lados se consagre vencedor. Muawiyah propõe então uma arbitragem que Ali aceita. Esta decisão provoca a revolta de uma parte dos apoiantes de Ali que consideraram essa decisão uma concessão imperdoável, proclamando, de acordo com um verso do Alcorão, que o "julgamento apenas a Deus pertence". O grupo retirou-se para a localidade de Harura, sob a liderança de Ibn Wahb. A eles se juntam mais tarde outros dissidentes, quando a arbitragem a que Ali se submeteu se revelou desastrosa.
Na Batalha de Nahrawan, em Julho de 658, o líder kharijita Ibn Wahb e muitos dos seus seguidores foram mortos por Ali, mas alguns sobrevivem e em 661 um deles, Ibn Muljam, assassina Ali na cidade de Kufa. Rejeitando os pretendentes ao califado, assim como os restantes muçulmanos seus seguidores (que passam a ser vistos como infiéis), o grupo passou a ser conhecido como os khawarij ("os que cindiram") e dedicaram-se a partir de então a efectuar ataques.
Os Kharijitas consideravam que qualquer homem, até mesmo um escravo, poderia ser eleito califa, desde que reunisse um elevado carácter moral e religioso, e que era legítimo contestar um poder considerado injusto. Por estas razões tornaram-se apelativos para as tribos de beduínos que se sentiam excluídas das estruturas organizativas do vasto império árabe liderado pelos Omíadas e também para os mawali, os convertidos ao Islão que não sendo de origem árabe eram por causa disso discriminados e obrigados a pagar elevados impostos.
[editar] Grupos
[editar] Azraquitas
A facção mais radical dos Kharijitas nasceu da revolta de Nâfi’b Al-Azraq na cidade de Bassorá, a sul do Iraque, em 684. Consideravam como pecadores todos os outros grupos de muçulmanos e advogavam a luta contra o poder instituído, praticando actos de verdadeiro terrorismo político.
Distinguiam-se por duas práticas peculiares: a primeira era uma prova de sinceridade do recém-convertido ao movimento na qual se exigia que este decapitasse um prisioneiro adversário (imtihân) e a segunda constituía o assassinato religioso, que autorizava matar homens, mulheres e crianças fora do grupo (isti’râd). Entendiam que o território no qual viviam os outros muçulmanos era um território de infiéis (dar kufr), onde era permitido pilhar e matar.
[editar] Najadat
Os Najadat constituíam um grupo moderado dos Azraquitas que se desenvolveu na Arábia central. Rejeitavam o assassinato político. Conquistam o Bahrein em 685, uma parte do Iémen e penetram no Omã.
[editar] Sufris
Este grupo formou-se em torno de Ziyad ibn-al-Asfar. Rejeitavam também o assassinato político e admitiam a prática do taqiya, a dissimulação da fé. Fixam-se na cidade de Sijilmasa no sul de Marrocos no século VIII e em Tlemcen (Algéria).
[editar] Ibaditas
Devem o seu nome a Abd Allah Ibad que viveu em Bassorá no século VII e que rejeitou as posições extremistas dos Azraquitas, conservando no entanto a intransigência moral. Desempenharam um importante papel na queda da dinastia omíada. Em 752 protagonizam uma revolta em Omã, mas foram derrotados. Apesar disso, o kharijismo não desaparece daquele território. Em 791 elegem o seu primeiro imã, al-Jundala ibn-Mas'ud, na cidade de Nizwa. O relativo isolamento de Omã permitiu que o kharijismo ali perdurasse até aos nossos dias, apesar das perseguições que lhe foram movidas.
Durante o período da dinastia abássida o Norte de África foi o principal foco do kharijismo ibadita. Um grupo de missionários kharijitas ali tinham chegado vindos de Bassorá com o objectivo de pregar a doutrina às populações locais. Tribos berberes aliadas aos Kharijitas ibaditas instalam a sua capital em Tripoli em 757. No ano seguinte, os Kharijitas conquistam a cidade tunisina de Kairouan, da qual o ibadita de origem iraniana Abd Allah Ibn Rustum se torna governador. Forma-se então um estado kharijita num território correspondente ao que é hoje o noroeste da Líbia, Tunísia e região oriental da Algéria, mas este terá uma vida efémera, sendo destruído em 772 pelos abássidas. Apesar da destruição desta formação política, em 776 Ibn Rustum funda um emirado ibadita em Tahert, perto da actual cidade de Tiaret na Algéria, que perdura até 909, ano em que é destruído pelos Fatimidas. No século XI o poder kharijita é ainda mais abalado com a invasão do Norte de África pela tribo árabe dos Banu Hilal. Mas o verdadeiro toque de finados ocorreu a partir do século XVI com o domínio otomano.
Os Kharijitas do emirado de Tahert fugiram para o sul, acabando por se estabelecer no oásis de Mzab, onde hoje vivem os seus descendentes. A partir de 1011 edificam ali cinco cidades: El Ateuf, Beni Isguen, Melika, Ghardaia, Bou Noura, a que se juntaram no século XVII mais duas, Guerrara e Berriane.
[editar] Referências
- Anne-Marie Delcambre, Les khâridjites, les protestants de l’islam, Clio, Fevereiro de 2003.
http://www.clio.fr/BIBLIOTHEQUE/les_khAridjites_les_protestants_de_l_islam.asp
- Azzedine Guellouz - "O Islão" in As Grandes Religiões do Mundo, direcção de Jean Delumeau. Lisboa: Editorial Presença, 1997. ISBN 9722322419.