Comités Comunistas Revolucionários Marxistas-Leninistas
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Os Comités Comunistas Revolucionários (Marxistas-Leninistas), ou CCR, foram criados em 1970 a partir de uma cisão do CM-LP, a primeira organização maoísta portuguesa, fundada em 1964 por Francisco Martins Rodrigues, dirigente destacado do PCP.
O principal protagonista da cisão do CM-LP que criou os CCR foi João Bernardo, então no exílio, como aliás a prática totalidade dos outros elementos do CM-LP. Essa cisão foi justificada por uns documentos que ficaram conhecidos como as "cartas de Tiago", um dos pseudónimos de clandestinidade de João Bernardo no CM-LP. No órgão clandestino dos CCR, "Viva o Comunismo!", foi publicado o longo artigo "À Esquerda de Cunhal todos os Gatos São Pardos", uma análise global da extrema-esquerda portuguesa naquela época. Este artigo, com várias partes, introduziu pela primeira vez em Portugal o conceito da "pequena-burguesia dos serviços", e negava o caracter revolucionário das outras organizações baseando-se na sua suposta base social de apoio, que seria, conforme as organizações, essa pequena-burguesia ("camada inferior") ou o lumpenproletariado.
No interior do país os CCR obtiveram a sua maior radicação, entre 1970 e 1973, sobretudo, mas não exclusivamente, a partir do Instituto Superior Técnico. Os CCR estavam também presentes em vários sectores operários, nomeadamente nas oficinas da Carris (companhia de transportes públicos de Lisboa). Caracterizavam os CCR a propensão para uma elaboração teórica complexa que era considerada de inspiração trotskista por muitos adversários, e a advogada prioridade à "implantação operária" dos estudantes que constituíam a organização.
Em 1972 a polícia política do regime fascista português começou a desmantelar a organização, com prisões que atingiram o seu auge nos finais de 1973, com a prisão de um dos seus dirigentes, praticamente liquidando vários sectores da organização. Devido a esses golpes, a divergências quanto à orientação seguida em Portugal e a divergências quanto à evolução da linha política do PC chinês, os CCR acabaram por se autodissolver nos primeiros meses de 1974. Com efeito, a maioria da organização considerava que as análises até aí elaboradas, incluindo as relativas a outras organizações de extrema-esquerda, embora elegantemente construídas nada tinham a ver com a realidade, e não aceitava a acusação de revisionismo com que João Bernardo passara a acusar a China desde antes da morte de Lin Piao, apesar de Mao Zedong ser ainda o líder da China e o "Bando dos Quatro" estar em actividade.
Depois da queda do fascismo em 25 de abril de 1974, vários elementos dos CCR que estavam na clandestinidade em Portugal e alguns dos que tinham sido obrigados ao exílio reconstituíram a organização, nomeadamente Acácio Barreiros e Vieira Lopes, fomentando pouco depois a criação da União Democrática Popular (UDP) a partir da aliança com outros dois grupos marxistas-leninistas, com uma orientação política menos sectária, mais adepta da "linha de massas" e pró-chinesa (mais tarde, pró-albanesa).
Por seu lado, João Bernardo, regressado do exílio, junto com Rita Delgado e João Crisóstomo, também provenientes dos CCR, fundaram o jornal "Combate", publicado desde 1974 até 1978. O "Combate" seguiu uma orientação adepta da autonomia operária e esteve muito ligado às Comissões de Trabalhadores e ao movimento de ocupação de empresas em 1974 e 1975.