Alqueire
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Alqueire (do árabe al kayl) designava originalmente uma das bolsas ou cestas de carga que se punha, atadas, sobre o dorso e pendente para ambos os lados dos animais usados para transporte de carga.
Logo, o conteúdo daquelas cestas ou bolsas, mais ou menos padronizadas pela capacidade dos animais utilizados no transporte, foi tomada como medida de secos, notadamente grãos, e depois acabaram designando a área de terra necessária para o plantio de todas as sementes nelas contidas.
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[editar] Portugal
No tempo do Condado Portucalense, o alqueire era uma medida nova que tinha acabado de ser importada das regiões peninsulares sob domínio árabe. A primeira referência explícita data de 1111, no entanto é seguro que o sistema usado desde finais do século XI já incluia um alqueire. Muito provavelmente, nesta época, a palavra alqueire ainda devia designar uma medida única e bem conhecida. Alguns anos depois, talvez já existissem diferentes alqueires, razão pela qual as posturas municipais de Coimbra, de 1145, estipulam que o alqueire (de cereal) deveria ter o peso de 6.5 arráteis, ou seja, uma capacidade em torno de 3.4 litros.
Ao longo da maior parte da primeira dinastia, reinados de Dom Afonso Henriques a Dom Afonso IV, o alqueire legal será equivalente ao modius romano, ou seja, cerca de 8.7 litros.
Entretanto, o alqueire legal estava longe de ser usado em todo o território. Dom Pedro I (1357) introduziu um novo alqueire de 9.8 litros e tentou impô-lo a todo o reino. Esse alqueire teve de facto uma maior divulgação do que o anterior alqueire legal, no entanto não chegou a generalizar-se a todo o território.
Com Dom Manuel I (1499), o alqueire legal passou a ser o de Lisboa, que equivalia a 13.1 litros. Dom Sebastião I (1575) distribuiu padrões deste alqueire, em bronze, às principais localidade do reino. Mesmo assim, sobreviveram diversos padrões regionais do alqueire.
Mais tarde, provavelmente na sequência do terramoto de 1755, a capacidade do alqueire de Lisboa foi ajustada, aproximando-se dos 13.9 litros, o que permitiria uma mais fácil conversão para o sistema castelhano.
Os principais padrões do alqueire usados em diferentes regiões de Portugal no século XIX eram os seguintes:
- 13.1 litros no litoral entre Aveiro e Lisboa
- 13.9 litros, um pouco por todo o país
- 14.9 e 15.7 litros, sobretudo no interior e no sul
- 17.0, 17.5 e 19.3 litros, quase exclusivamente no Entre-Douro-e-Minho
A nível local, usava-se uma infinidade de variantes destes padrões principais.
A introdução do sistema métrico decimal, no século XIX, não impediu que continuassem a ser usados os alqueires tradicionais.
Desde a idade média, o alqueire foi também unidade de superfície. Normalmente, um alqueire de superfície era a área de terreno que se semeava com um alqueire de semente.
[editar] Bibliografia
- Seabra Lopes, L. (1998) «Medidas Portuguesas de Capacidade: do Alqueire de Coimbra de 1111 ao Sistema de Medidas de Dom Manuel», Revista Portuguesa de História, 32, p. 543-583.
- Seabra Lopes, L. (2000) «Medidas Portuguesas de Capacidade: duas Tradições Metrológicas em Confronto Durante a Idade Média», Revista Portuguesa de História, 34, p. 535-632.
- Seabra Lopes, L. (2003) «Medidas Portuguesas de Capacidade: Origem e Difusão dos Alqueires usados até ao Século XIX», Revista Portuguesa de História, vol. 36 (2), p. 345-360.
- Seabra Lopes, L. (2003) «Sistemas Legais de Medidas de Peso e Capacidade, do Condado Portucalense ao Século XVI», Portugalia, Nova Série, XXIV, Faculdade de Letras, Porto, p. 113-164.
[editar] Brasil
No Brasil colonial o alqueire passou a ser executado com uma trama de taquara, consistindo numa cesta bastante robusta, nas quais se transportava principalmente milho e feijão, em regiões onde muitas vezes nem estradas havia. Mas neste processo, o nome caiu em desuso pela adoção de outros termos.
Quando o alqueire foi convertido de medida de secos para medida de área, primeiro foi subdividido em quatro quartas partes ou quartas (quarta de chão) e depois em unidades menores conventendo-as em litros já com vistas à adoção do sistema métrico. Entretanto uma quarta correspondia no Brasil a 12,5 a 13,8 litros.
Para piorar a confusão, em São Paulo prevalecia o entendimento de que a medida agrária deveria representar apenas um dos alqueires originais e em Minas Gerais prevalesceu o entendimento de que deveria representar o indissociável par de alqueires, razão pela qual até hoje se conhecem como alqueire paulista a área correspondente a 24.200 metros quadrados e alqueire mineiro, que corresponde a 48.400 metros quadrados, como expressões da concepção original da área de terras, já convertida em braças quadradas, sub-dividida em palmos quadrados. Como se não bastasse, ainda existe o alqueire do norte (27.225 metros quadrados) e o alqueire baiano (96.800 metros quadrados).
Apesar da adoção e exigência legal do sistema métrico decimal, no Brasil rural ainda é comum quantificar a área de propriedades rurais e lavouras em alqueires ao invés de hectares. Essas medições são um tanto arbitrárias, mas existem e o próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário realizou uma compilação das medidas existentes.
- Tabela de Medidas Agrárias Não Decimais[1]
Designação | Braças | Metros | Hectares | Estados | |
1 | Alqueire | 50 x 50 | 110 x 110 | 1,21 | SP, MG |
2 | Alqueire | 50 x 75 | 110 x 165 | 1,82 | MG, MT |
3 | Alqueire do Norte | 75 x 75 | 165 x 165 | 2,72 | Todos |
4 | Alqueire | 75 x 80 | 165 x 175 | 2,90 | MG |
5 | Alqueire | 79 x 79 | 173,8 x 173,8 | 3,02 | MG |
6 | Alqueire | 80 x 80 | 176 x 176 | 3,19 | ES, SP, MG |
7 | Alqueire | 75 x 100 | 165 x 220 | 3,63 | RJ, MG |
8 | Alqueire | 100 x 150 | 220 x 330 | 7,26 | MG |
9 | Alqueire Baiano[2] | 100 x 200 | 220 x 440 | 9,68 | MG, MT |
10 | Alqueirão[3] | - | 440 x 440 | 19,36 | MG, BA, GO |
11 | Alqueire Paulista | 50 x 100 | 110 x 220 | 2,42 | MA, ES, RJ, SP, MG, PE, SC, RS, MT, GO e PB |
12 | Alqueire Mineiro | 100 x 100 | 220 x 220 | 4,84 | AC, RN, BA, ES, RJ, SP, SC, RS, MT, GO, TO, MG |
O último passo em direção à exatidão das medidas agrárias no Brasil está ocorrendo agora, em final de 2004, também por exigência legal, com implantação do novo Cadastro de Imóveis Rurais (CNIR), com medidas e descrição pelo sistema de georreferenciamento por coordenadas de satélites (GPS)
[editar] Notas
- ↑ Ministério do Desenvolvimento Agrário. Tabela de Medidas Agrárias Não Decimais. Acessado em 2 de junho de 2006.
- ↑ Apesar desta lista não fazer referência à utilização pela Bahia desta medida, ela possui nome relativo.
- ↑ Medida utilizada em uma região que compreende o Estado de Cabrália, que seria fruto da divisão do extremo sul da Bahia e norte-nordeste de Minas Gerais, uma idéia dos tempos do Império.