São Lourenço (Niterói)
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SÃO LOURENÇO
São Lourenço é um marco na história de Niterói e andar por suas ruas é retornar ao passado. A reação aos franceses que invadiram a Baía de Guanabara, em 1555, originou o povoamento na área. Na luta sobressaíram-se Estácio de Sá, Mem de Sá e o Cacique Araribóia, chefe dos índios da tribo Temiminós. Expulsos os franceses e por sua lealdade aos portugueses, Araribóia ganhou uma sesmaria nas terras onde seria erguida a cidade de Niterói. Ao instalar-se nelas, escolheu o morro de São Lourenço para construir o seu aldeamento principal devido a visão estratégica da Baía, possibilitando vigilância constante.
No bairro está a mais antiga igreja da cidade, a Igreja de São Lourenço dos Índios, localizada no outeiro do mesmo nome. O seu altar — com a estrutura quase toda em pau-brasil — e o seu piso, são ainda originais da época da construção. Segundo consta, a igreja foi erigida em 1627. A princípio existia uma capela cuja construção foi iniciada no século XVI pelo jesuíta Braz Lourenço. Sendo um dos mais belos templos em estilo colonial do país, foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Dois túneis subterrâneos que existiam sob a Igreja foram destruídos na década de 60.
Já se tornou tradição todos os anos, no dia 22 de novembro, comemorar com missa nesta igreja o aniversário de fundação de Niterói. Nesta data, em 1573, o Cacique Araribóia, já então batizado com o nome de Martim Afonso de Souza, tomou posse oficialmente da Sesmaria que lhe foi doada (*1).
No alto do morro de São Lourenço, no largo em frente a igreja, os índios enterravam os seus mortos. Por isso o local foi batizado pelo povo de Cemitério dos Caboclos. A Freguesia de São Lourenço progrediu e estendeu-se aos poucos, sendo ocupadas por fazendas de cana-de-açúcar, mandioca, fumo e outras culturas, porém o progresso que vinha do outro lado da Baía de Guanabara iria ocorrer, preferencialmente, na parte mais plana, em locais facilmente alcançáveis por mar.
No séc. XIX, com a política de expulsão dos jesuítas da metrópole e colônias adotadas pelo Marques de Pombal, a Aldeia de São Lourenço era o único local, próximo ao Rio de Janeiro, onde ainda se encontravam remanescentes das tribos indígenas. Estes viviam da pesca, da caça e da coleta de frutos abundantes e também teciam e produziam cerâmicas. Esses índios, com o processo de aculturação, aos poucos foram absorvendo a cultura e as profissões dos colonizadores europeus. A população da aldeia foi progressivamente diminuindo até que, em 1866, o Governo Provincial decide extinguir o povoado.
A enseada de São Lourenço, com o passar dos anos, foi se tornando cada vez mais rasa não só pelo acúmulo de lodo, como também pelo papel de vazadouro de lixo da cidade que cumpria.
Com o projeto de construção de um cais, a área foi finalmente aterrada, inaugurando-se o Porto de Niterói (*2) na década de vinte, cuja área atual pertence parte ao bairro de Santana, parte à Ponta D’Areia.
Da enseada de São Lourenço até Maruí havia, outrora, empresas industriais e comerciais variadas. Na rua São Lourenço (*3), importantes estabelecimentos comerciais (atacadistas) e industriais instalaram-se graças a proximidade do porto e da ferrovia.
(*1) Mem de Sá, Governador Geral do Brasil, preocupado com a defesa do Rio de Janeiro, tomou uma série de medidas após a expulsão dos franceses, entre elas a ocupação da Banda D'Além (como chamavam Niterói na época), daí a doação de uma Sesmaria a Martim Afonso de Souza.
(*2) "O movimento do porto consistia, principalmente, na exportação de café para o exterior e do açúcar de Campos para portos nacionais. Era utilizado, igualmente, na importação de madeiras e trigo, mas seu movimento sempre foi pequeno". WEHRS, p. 134. Atualmente a área do porto e da estação ferroviária é hoje ocupada por um estaleiro de reparos navais.
(*3) Sua ligação com o Centro se fazia diretamente pela rua do Imperador.
A população de São Lourenço é de 9.441 habitantes, representando 2,16% da população total de Niterói. O bairro apresentou um dos menores índices de crescimento, inclusive com taxas negativas nos dois períodos apresentados na tabela, ocupando o 42º lugar num universo de 48 bairros entre 1980/91.
A população de São Lourenço está distribuída de forma homogênea até a faixa etária de 39 anos, somando 71,84% dos residentes. A partir daí ocorre uma queda progressiva nas faixas etárias seguintes.
Quanto à distribuição por sexo, 47,56% do total são homens e 52,44% são mulheres, significando 4,88% a mais para a presença feminina.
São Lourenço apresenta uma taxa de alfabetização de 87,68%, inferior a média do município, ficando em 31º no conjunto dos bairros. Nas faixas a partir de 60 anos estão concentradas as menores taxas.
Quanto ao gerenciamento familiar, 71,85% dos chefes de domicílio são do sexo masculino e 28,15% são mulheres, índice este considerado elevado em relação aos demais bairros do município, sendo o maior da Região Norte.
Em relação ao rendimento médio mensal dos chefes de domicílio, este apresenta uma maior concentração até a faixa de 10 salários mínimos, correspondendo a 90,56% do total.
Se considerarmos os rendimentos até 3 salários mínimos, a concentração é da ordem de 61,34%, o que caracteriza uma população de baixa renda. Constata-se ainda que, a partir dos 15 salários mínimos, a concentração é pequena: apenas 2,67% dos chefes de domicílio.
É possível observar que 67,18% dos domicílios são próprios e apenas 26,70% são alugados.
O padrão construtivo de São Lourenço é considerado médio-degradado (PMN /Sumac), apresentando um número considerável de habitações em aglomerado subnormal — 11,15%, caracterizando com isso a presença de favelas neste bairro.
Num universo de 2.584 domicílios, 88,04% possuem canalização interna, predominando a ligação direta com a rede geral. Entre os domicílios sem canalização, 109 possuem abastecimento de água realizado sob outras formas.
Quanto a instalação sanitária, a maioria está diretamente ligada à rede geral — 84,52%. Apenas 2,83% possuem fossa séptica e 12,65% outras formas, que correspondem a 327 domicílios. Destes, 176 utilizam a vala como escoadouro e 84 não têm nenhum tipo de instalação sanitária.
O serviço de coleta de lixo abrange grande parte da população local, 78,25%, enquanto 6,85% queimam o lixo e 14,90% dão ao mesmo outro destino.
CARACTERÍSTICAS ATUAIS E TENDÊNCIAS:
Na parte baixa do bairro encontra-se a rua São Lourenço para onde convergem as ladeiras do outeiro. Nesta rua ainda coexistem o tradicional e o moderno. Marcada pela existência de velhas construções, que eram utilizadas para fins comerciais e industriais, alguns destes prédios foram reformados e são utilizados em novas atividades econômicas. Outros, em estado muito precário, são usados como moradia. Alguns foram derrubados e deram lugar a estabelecimentos comerciais sofisticados. Observa-se ainda a existência de pequenas indústrias como serrarias, marmorarias, etc.
Em meio a estas "modernidade", ainda se encontram a antiga barbearia, de muitas gerações, e os botequins que servem média de café e leite com pão. Na Farmácia São Lourenço, médico e farmacêutico sempre trabalharam juntos. Hoje ela é uma das duas remanescentes, dentre as cinco que existiram desde os anos 30. São Lourenço já foi o bairro de Niterói a possuir o maior número de farmácias. A Farmácia São Lourenço foi fundada em 1928 e preserva até hoje a decoração original, com o seu mobiliário em madeira, estilo da época.
O Posto de Saúde Carlos Antonio da Silva, conhecido historicamente pelos usuários e população em geral como Posto de Saúde São Lourenço encontra-se localizado, na realidade, no bairro do Centro e atende não só aos moradores do local, como também aos dos bairros vizinhos.
Em relação à questão de infra-estrutura, o bairro é servido por várias linhas de ônibus que se dirigem a outros bairros, fazendo por ali seus itinerários. Na parte alta existe uma linha específica que atende aos moradores do outeiro.
Consoante à prestação de serviço educacional, o bairro possui o Colégio Estadual Brigadeiro Castrioto, situado na parte baixa. No outeiro não existem escolas.
Existem poucos espaços para expansão imobiliária; as ruas são estreitas, com exceção da rua São Lourenço. Alguns dos espaços vazios encontrados são devido a residências abandonadas e depósitos desativados, usados pela antiga zona portuária e pela empresa ferroviária que funcionou até a segunda metade do séc. XX.
A paisagem remanescente caracteriza o bairro como sendo antigo, cuja população é predominantemente constituída de pessoas nascidas no próprio local, além de imigrantes nordestinos que chegaram ao bairro na década de 70.
São igualmente localidades do bairro: parte do Morro Boa Vista, cujo acesso faz-se também pelo Fonseca — e o Aterrado de São Lourenço, em parte ocupado por moradores oriundos da favela do Sabão.
Na área do aterrado também funcionam ou já funcionaram diversos órgãos públicos: O Detran, o Tribunal de Contas do Estado, uma Policlínica, a garagem da EMOP e o antigo Mercado Municipal de Niterói. Mais recentemente um conjunto residencial foi construído por uma carteira habitacional.
Um dos problemas apontados pelos moradores diz respeito ao transbordamento de um canal existente no bairro, que mesmo após retificações ainda acarreta transtornos.