Línguas crioulas
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- Nota: Se procura pessoa crioula, consulte Crioulo (pessoa).
Uma língua crioula é uma língua que deriva de um pidgin, que não é uma língua natural; é apenas um sistema de comunicação rudimentar, alinhavado por pessoas que falam línguas diferentes e que precisam de comunicar.
Quando um pidgin se estabelece numa sociedade multilíngüe, pode chegar um momento em que aparece uma geração de crianças que dispõem apenas do pidgin para falar entre si. Nesse caso, quase inevitavelmente, as crianças transformam o pidgin numa verdadeira língua, completada por um vocabulário amplo e um rico sistema gramatical. Essa nova língua natural é um crioulo e as crianças que o criaram são os primeiros falantes nativos desse crioulo. O processo pelo qual se transforma um pidgin em um crioulo é a crioulização.
Línguas crioulas são, por uma definição mais ampla, linguagens originárias da necessidade de comunicação forçada entre povos falantes de duas ou mais línguas diferentes. Desse contacto, originalmente, surge o chamado "pidgin", língua formada normalmente a partir de uma base (entenda-se por isso a língua de maior prestígio social) e geralmente composta de uma estrutura simples, adaptada apenas às necessidades de comunicação entre esses povos. Nesse estágio os falantes usam-na apenas como meio de comunicação entre os dois ou mais povos, não sendo o pidgin, portanto, uma língua de casa ou de família. A tendência desses falares, com o estabelecimento das comunidades na região, leva a duas possibilidades:
A - Substituição do substrato misto, resultante do contacto lingüístico, por uma língua com força sócio-econômica para impor-se. É o caso, por exemplo, das línguas européias na maior parte dos países das Américas.
B - Atuação reduzida da língua de maior prestígio, e conseqüente cristalização do pidgin, tornando-se língua materna de um determinado grupo social. A partir daí, converte-se na chamada língua crioula.
Levando-se em conta a possibilidade B, a língua daí resultante geralmente tem um vocabulário de base com alto percentual de palavras de uma só língua (normalmente mais de 90%) e uma gramática com elementos de mais de uma das línguas envolvidas no processo. Normalmente é mais simplificada que a língua que lhe serviu de base. Embora não seja a regra única, é o que se observa na maior parte das línguas do gênero.
Uma curiosidade sobre a história dessas línguas é que a fala usada durante as Cruzadas, a denominada lingua franca, era uma espécie de pidgin com base no italiano, que posteriormente foi desaparecendo, embora linguagens usadas por mouros residentes em Portugal ainda no século XVI dêem indícios de que não houve, ao menos, um desaparecimento repentino após o fim desse período.
A grande maioria das línguas crioulas existentes tem por base o inglês (não por acaso, já que se trata do idioma mais usado no mundo). A seguir vêm os de base francesa. Os crioulos de base portuguesa vêm depois, em número bem mais reduzido na atualidade. Embora tenham sido usados em grande escala, com as reconquistas e as invasões neerlandesas e inglesas, além da decadência do império português, tais falares foram gradativamente sendo substituídos, ou relexificados, pelas línguas dos novos colonizadores. Um exemplo disso são os crioulos ingleses do Suriname e o crioulo espanhol das Filipinas, todos advindos claramente de uma relexificação de um substrato português crioulizado.
A maior curiosidade é a quase inexistência de crioulos espanhóis. Embora a Espanha tenha ocupado um vasto território durante a sua expansão marítima, o processo comum às outras colônias (inglesas, francesas, neerlandesas, etc.) não se repetiu com tal força nos territórios conquistados. As línguas crioulas de base hispânica tiveram origem ou foram influenciadas por um crioulo português pré-existente. Mesmo em lugares onde a colonização portuguesa não se fez presente com grande alcance de dominação cultural, como em Palenque, Colômbia, onde ainda hoje se fala um crioulo espanhol no qual se vêem claras influências portuguesas. E, mais adiante, temos o papiamento, das Antilhas Holandesas (grande percentual de palavras portuguesas, às vezes fundidas com as espanholas de tal modo que não é clara a origem), entre outros poucos.
Pelo menor prestígio social, e pela ausência de vocábulos técnicos, poucas línguas crioulas foram até hoje adotadas como oficiais. Há exceções, como o crioulo do Haiti, que se tornou oficial há alguns anos, mas o preconceito existente, por vezes dentro das próprias comunidades falantes, faz com que tais línguas sejam pouco a pouco substituídas pelas línguas de prestígio de cada país. Ou relexificadas, de modo a virarem apenas variantes da forma considerada "padrão", sobretudo quando o vocabulário básico de ambos os idiomas tem a mesma origem. A inexistência de ensino da maior parte dessas línguas (tradicionalmente orais) e a crescente globalização abrem cada vez menos horizontes a essas línguas híbridas e a maior parte delas, se não desapareceu, está seriamente ameaçada de extinção.
Vemos, assim, que a maioria das línguas crioulas são baseadas no português, inglês, francês e algumas outras línguas (a sua língua de superestrato), com línguas imigrantes ou locais como subestrato. Estudos nas línguas crioulas à volta do mundo sugerem que estas têm grandes semelhanças a nível gramatical, suportando assim a teoria da Gramática Universal. Contudo, os críticos argumentam que o suporte a esta teoria é largamente baseado em crioulos derivados de línguas europeias, principalmente inglês e português, e que os crioulos de base extra-europeia como a língua nubi ou a língua sango mostram menos semelhanças.
Em certos casos, o grupo de pessoas que falam estas línguas são chamados de crioulos, como acontece no caso dos Cabo-Verdianos.