José Travassos Valdez
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José Lúcio Travassos Valdez (Elvas, 23 de Fevereiro de 1787 — Lisboa, 10 de Julho de 1862), primeiro barão (1835) e desde 1838 primeiro Conde de Bonfim, foi um estadista e político português no tempo da monarquia.
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[editar] Vida
Em sua juventude, o futuro Conde de Bonfim estudou Direito na Universidade de Coimbra e participou a partir de 1808 da revolta portuguesa contra a ocupação napoliônica de sua terra. Ele serviu como voluntário sob o comando de Gomes Freire de Andrade e participou das batalhas da Roliça (17 de Agosto de 1808) e de Vimeiro (21 de Agosto de 1808) contra os franceses. Até ao fim da Guerra Peninsular entrou em muitas batalhas, dando sempre provas de grande energia e coragem. Mesmo depois da expulsão dos franceses, Bonfim permaneceu no Exército português. Em Junho de 1821 foi promovido a coronel e em 1823, quando em Trás-os-Montes se deu o levante absolutista, promovida pelo conde de Amarante, foi nomeado comandante da divisão ligeira, perseguiu os revoltosos, e entrou na Espanha chegando até Astorga, León e Gradefes. Voltando para Portugal foi dirigir uma coluna de operações na Beira, sendo escolhido para marchar à frente das forças destinadas a opor-se à insurreição de Vilafrancada liderada pelo infante D. Miguel nos últimos dias de Maio de 1823. Tendo D. João VI aderido ao movimento iniciado por seu filho, foi dissolvida a coluna do coronel Valdez, e este intimado a residir em Mora, de onde conseguiu, com o auxílio de alguns dos seus amigos e antigos companheiros de armas, ser transferido para Setúbal. Só depois de promulgada a Carta constitucional de 1826, sendo ministro da guerra o general Saldanha, é que ao coronel Valdez se deu novamente o comando de um regimento. Mandado com o seu regimento e outras forças combater o movimento absolutista que aparecera em Bragança, e tendo sido obrigado pelos revoltosos, depois de duro combate, a recolher-se ao castelo da vila, viu-se forçado a capitular no dia 26 de Novembro de 1826, e foi conduzido para Miranda e depois para Moncorvo. Sabendo que existia ali um deposito de armas, tratou com os seus companheiros de se apoderar delas e tentar cruzar o rio Douro a fim de juntar-se às tropas fieis à Carta, sendo porém acossado pelas numerosas guerrilhas que então infestavam a província de Trás-os-Montes, teve de atravessar a fronteira, e as autoridades espanholas o mandaram para Salamanca e depois para Valladolid. Passado alguns dias retornou ele a Portugal, chegando a Lisboa pediu um conselho de guerra para se justificar da capitulação de Bragança, e sendo-lhe a sentença não só favorável mas até honrosa, Valdez foi pouco depois nomeado, em 7 de Abril de 1827, governador e capitão-general da Madeira e Porto Santo.
Dedicou-se então aos melhoramentos materiais e agrícolas daquelas ilhas, e nestes trabalhos ficou sabendo dos motins ocorridos em Lisboa e dos projetos do infante D. Miguel, de se apoderar da regência do reino, declarando-se rei absoluto. Valdez havia fundado um jornal, "A flôr do Oceano", e no dia 22 de Junho publicou um manifesto protestando contra aqueles projetos, cuidando imediatamente de se prevenir para a defesa da ilha, se acaso D. Miguel a mandasse atacar pela sua esquadra, e comunicou o ocorrido ao duque de Bragança, aos ministros de Portugal e Brasil, em Londres, bem como ao embaixador desta última potência em Viena na Áustria. Pouco depois destes acontecimentos chegou à Madeira o novo capitão-general nomeado por D. Miguel, mas não tendo podido desembarcar regressou a Lisboa. Ao mesmo tempo saíram deste porto uma corveta e dois navios de guerra para bloquearem a ilha, e por fim o capitão-general Valdez recebeu no dia 16 de Agosto de 1828 uma intimação para se render ao comandante de uma esquadra, composta de uma nau, duas fragatas, duas corvetas, dois brigues e duas charruas. Valdez não desanimou, apesar de ver a grande força dos inimigos, tendo estes, porém, conseguido apoderar-se do porto de Machico, reconheceu a impossibilidade da resistência, e entrou em acordo com o vice-almirante por intermédio do cônsul inglês residente na ilha. Partiu então para Inglaterra com sua mulher e filhos, e ali esteve lutando com inúmeras dificuldades, chegando a passar privações, até 1832, em que partiu para a ilha Terceira, no arquipélago dos Açores, e apenas desembarcou em Angra do Heroísmo, foi-lhe dado o comando da 1.ª companhia do batalhão sagrado, batalhão só composto de oficiais, e com ele fez a guarda avançada do exército libertador quando marchou do Mindelo para o Porto (Desembarque do Mindelo); mas depois, foi mandado pelo imperador para o quartel general do duque da Terceira, para que este o informasse dos movimentos do inimigo, sendo em 21 de Julho de 1832 escolhido para ajudante general. Em 6 de Agosto seguinte foi promovido a brigadeiro, continuando como ajudante do duque da Terceira, até que D. Pedro IV assumiu o comando-em-chefe, passando nessa ocasião Travassos Valdez a servir de chefe do estado-maior. Quando o imperador saiu do Porto ficou ali o brigadeiro Valdez como chefe do estado-maior de Saldanha, e no combate de 18 de Agosto de 1833 comandou a ala esquerda, e a 20 de Agosto seguiu para a capital com o regimento de infantaria a bordo da fragata "D. Maria II". Tomou parte na defesa das linhas de Lisboa, ficando gravemente ferido no ataque de 5 de Setembro, o que o obrigou a afastar-se do serviço por muito tempo; acompanhando porém já D. Pedro para Santarém nos princípios de 1834, e regressando depois com ele a Lisboa, quando em seguida a batalha da Asseiceira se formaram dois exércitos de operações sob o comando dos generais duque da Terceira e Saldanha.
Quando da morte de D. Pedro IV ficou dissolvido o estado-maior imperial, e o brigadeiro Valdez ficou desempregado até que eclodiu a revolução de 9 de Setembro de 1836, em que se proclamou uma nova constituição. No dia 16 do referido mês foi nomeado membro do Supremo Conselho de Justiça Militar. Em outubro teve o comando do exército do sul, que se formou para evitar a invasão dos cartistas e em 14 de Dezembro seguinte foi nomeado comandante da 7.ª divisão militar, continuando naquela comissão. Eleito deputado no congresso constituinte de 1837 pelo distrito de Leiria, quando surgiu a tentativa cartista da Ponte da Barca, foi Travassos Valdez, já, então agraciado com o título de Barão de Bonfim, encarregado do comando em chefe das forças do sul do reino, recebendo plenos poderes sobre todas as autoridades civis e militares. Apaziguado o Alentejo, o Barão de Bonfim juntou-se a Sá da Bandeira, e em 28 de Agosto de 1837 deu aos marechais a ação do Chão da Feira, seguindo depois para Almeida e para o Douro para conversar com o conde das Antas, que voltava da Espanha e logo a seguir terminava a revolta cartista ganhando a ação de Ruivães. Regressando à capital, foi nomeado ministro da marinha e interino da guerra em 9 de Novembro de 1837, conservando-se no ministério até 9 de Março de 1838, voltando a encarregar-se da pasta da guerra desde 20 de Abril até 18 de Abril de 1839. Foi deputado nas legislaturas de 1839 e de 1840, sendo eleito por vários círculos do continente do reino, e em 1839 pelo de Goa. Em 26 de Novembro de 1840 entrou novamente no ministério, com o encargo da presidência do gabinete e as pastas da guerra, e interino da marinha e estrangeiros. Apresentou então às câmaras importantes e notáveis relatórios, tomou medidas enérgicas quando em fins de 1840 estiveram para se romper as boas relações de Portugal com a Espanha, dirigiu as negociações para o reconhecimento do governo português pela Santa Sé e pelos Países Baixos, fundou o presídio que depois se transformou na vila de Moçamedes, e finalmente em 9 de Julho de 1841, querendo sustentar a instituição dos batalhões nacionais e encontrando resistência, pediu a exoneração em 9 de Junho de 1841, sendo substituído pelo ministério presidido por Joaquim António de Aguiar.
Em 1842 combateu sempre na câmara alta o governo de Costa Cabral, depois marquês de Tomar, até que decidida a revolta pela oposição, partiu para o Alentejo. O conde de Bonfim, título com que fora agraciado em 1838, pôs-se à frente do movimento iniciado pelo regimento de cavalaria em Torres Novas no dia 4 de Fevereiro de 1844, e com esse corpo, infantaria e caçadores marchou sobre a Guarda. Malogradas ainda outras combinações, seguiu para Almeida e ali sustentou o cerco, emigrando depois para Espanha, França e Inglaterra. Voltou a Lisboa em 9 de Junho de 1846, vindo da Inglaterra a bordo do vapor "Mindelo", sendo em 29 de Junho nomeado comandante da guarda nacional, e em 22 de Agosto comandante da 1.ª divisão militar, lugar de que foi exonerado em consequência do golpe de estado de 6 de Outubro. Partindo para Évora foi pela junta, formada nessa cidade, nomeado comandante em chefe das forças do sul e logo depois presidente da mesma junta. Na batalha de Torres Vedras em 22 de Dezembro de 1846 foi prisioneiro, sendo conduzido a Lisboa, de onde passou a bordo de diferentes navios do Estado, e por último para o brigue "Audaz", que saiu da barra em 2 de Fevereiro de 1847 com destino a Angola. Chegando a Luanda em 25 de Março, os presos políticos foram levados para diversas prisões, mas o conde de Bonfim e dois filhos que o acompanhavam, Luís e José, ficaram a bordo da corveta "Relâmpago". Receando-se alguma revolta, a corveta levantou âncora e seguiu para Moçamedes, onde chegou em 6 de Maio. No dia 20 deste mês começou em Moçamedes uma revolução a favor da Junta do Porto, o conde saiu no dia seguinte, com os dois filhos, para Santa Helena, a bordo de uma velha escuna, que foi abordada por um brigue de guerra inglês que nessa ocasião entrava no porto de Moçamedes, levando-a para Luanda, apresentando ao governador o conde de Bonfim e seus filhos. Desse modo, o conde foi novamente encarcerado na corveta "Relâmpago", seu filho Luís em outro navio, e José mandado para Benguela, ficando nesta situação até 23 de Agosto data em que chegou a Luanda a fragata "Terrible", que em consequência da convenção que pusera termo à guerra civil, trouxe os deportados para Portugal, onde chegaram em 9 de Outubro. Depois de ter estado em comissão até Dezembro de 1852, foi nomeado membro do conselho de justiça militar, cargo que desempenhou até falecer.
Precedido por: Barão da Ribeira de Sabrosa |
Primeiros-ministros de Portugal 1839 - 1841 |
Sucedido por: Joaquim António de Aguiar |
[editar] Bibliografia
- GLOVER; Peninsular War - 1807-1814; Coleção Penguin Classic Military History; Penguin UK; 2001; ISBN 0141390417.
- LOPES, Marcos Antonio; O Absolutismo, Política e Sociedade na Europa; Coleção Tudo e História, 150; Brasiliense; 1996; ISBN 851100159x.
- MATTOSO, José, et al; O Liberalismo (1807-1890); Coleção História de Portugal; Estampa; 1997.
- MATTOSO, José; História de Portugal 5, O Liberalismo; Coleção História de Portugal - Edição Acadêmica; Estampa; 1998; ISBN 9723313103.
[editar] Ver também
- Guerra Peninsular
- Guerras liberais
- Lista de Primeiros-ministros de Portugal
- D. João VI
- Pedro IV de Portugal
- Miguel I de Portugal