João César Monteiro
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João César Monteiro (Figueira da Foz, 2 de Fevereiro de 1939 — Lisboa, 3 de Fevereiro de 2003) foi um cineasta português.
Pertence a uma família da burguesia rural, anti-clerical e anti-salazarista. Aos quinze anos, para prosseguir os estudos liceais, transfere-se com a família para Lisboa, a "capital do Império". «A escola é a retrete cultural do opressor», citação de Monteiro no filme Fragmentos de Um Filme Esmola (1972). Começa a trabalhar em cinema como assistente de realização de Perdigão Queiroga. Em 1963, graças a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, vai para a Grã-Bretanha estudar na London School of Film Technique. De volta a Portugal em 1965, inicia a rodagem do que viria a ser a sua primeira obra: Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço. Mas vários precalços financeiros só lhe permitiram acabar o filme cinco anos depois. Entretanto roda ainda uma curta-metragem, Sophia de Mello Breyner Andresen. Escreve críticas de filmes para a Imagem, Diário de Lisboa, O Tempo e o Modo e O Cinéfilo (suplemento de O Século).
A sua primeira longa-metragem é de 1972, Fragmentos de um Filme-Esmola. Em 1981 Silvestre, adaptado dos contos tradicionais A Mão do Finado e A Donzela que vai à Guerra, apresentado no Festival de Veneza, é um filme decisivo para a sua projecção internacional. Prossegue com esta obra a tradição iniciada por Manoel de Oliveira (Acto da Primavera) ao introduzir no cinema portugues o conceito de antropologia visual, tradição amplamente explorada por outros cineastas portugueses como António Campos, António Reis, Ricardo Costa ou Pedro Costa.
Depois de À Flor do Mar (1986), protagonizado por Laura Morante e mostrado ao Festival de Salsomaggiore (onde ganha o Prémio Especial do Júri), volta a Veneza em 1989 com Recordações da Casa Amarela (Leão de Prata), o início da trilogia do personagem João de Deus e em 1992 com O Último Mergulho - esboço de filme, protagonizado por Fabienne Babbe. A Comédia de Deus (Festival de Veneza, 1995), As Bodas de Deus (Festival de Cannes, 1999), Branca de Neve (Festival de Veneza, 2000) e Vai e Vem (Festival de Cannes, 2003) foram as suas últimas obras.
Colaborou na revista cinematográfica Trafic, até à morte do seu fundador, Serge Daney. É autor de Morituri te Salutant (1974), artigos amorosos e guerreiros sobre o cinema e as suas circunstâncias.
A sua obra, polémica e dificilmente classificável que, de um modo geral, se caracteriza pelo génio lírico (estética poética cinematográfica) e satírico do realizador, tem sido objecto de estudo para portugueses e estrangeiros, nomeadamente críticos e académicos. João César Monteiro é unanimemente reconhecido como um dos maiores realizadores portugueses de sempre.
Índice |
[editar] Filmografia
[editar] Realizador
- 1969
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN (30’)
Prémio da Casa de Imprensa.
- 1971
QUEM ESPERA POR SAPATOS DE DEFUNTO MORRE DESCALÇO (33’) Qui attend des souliers de défunt meurt pieds nus | He goes long barefoot that waits for dead men’s shoes.
Festival Internacional de Cinema de Autor de Benalmádena.
- 1972
FRAGMENTOS DE UM FILME-ESMOLA (72’) Fragments d'un film-aumône | Fragments of an alms-film.
- 1975
QUE FAREI EU COM ESTA ESPADA? (65’) Que ferai-je avec cette épée? | What shall I do with this sword?
- 1977
VEREDAS (121’) Sentiers | Paths
- 1978
CONTOS TRADICIONAIS PORTUGUESES
1. OS DOIS SOLDADOS (27’) Les deux soldats | The two soldiers
2. O AMOR DAS TRÊS ROMÃS (25’) L’amour des trois grenades | The love of the three pomegranates
3. A MÃE (27’) La mère | The mother
- 1981
SILVESTRE (118’)
Festival de Veneza – Selecção Oficial Em competição
- 1986
À FLOR DO MAR (143’) À Fleur de mer | Hovering over the water
Festival de Salsomaggiore – Prémio Especial do Júri
- 1989
RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA (120’) Souvenirs de la Maison Jaune | Recollections of the Yellow House
Festival de Veneza – Leão de Prata
Rencontres Cinematographiques de Dunkerque 1990 – Prémio de Realização e Prémio Melhor Interpretação Masculina
Nomeado para os Félix d'0r, na qualidade de Melhor Filme Europeu - Paris, 1990.
CONSERVA ACABADA (10’) Conserve achevée | End of Conservation
- 1992
O ÚLTIMO MERGULHO - esboço de filme (85’) Le Dernier plongeon - Esquisse de Film | The Last Dive - Draft of a Film
Festival de Veneza - Prémio Filmcritica
- 1995
A COMÉDIA DE DEUS (165’) La Comédie de Dieu | God’s Comedy
Festival de Veneza – Grande Prémio Especial do Júri; Prémio CinemAvvenire, outorgado pela Bienal de Veneza e pela Associazione Nazionale Ricreativa Culturale Assistenziale Dependenti Enel em colaboração com o Ministero della Pubblica Istruzione, segundo o método sophiartistica, ao «Melhor Filme em Concurso». Prémio do Sindicato dos Jornalistas Italianos; Prémio Filmcritica.
Rencontres Cinematographiques de Dunkerque – Grande Prémio da Cidade de Dunkerque e Prémio Melhor Interpretação Masculina.
Prémio L'Âge d'0r – Cinémathèque Royale de Belgique, 1996
Prémio Fiuggi de Cinema, 1996
BESTIÁRIO OU O CORTEJO DE ORFEU (6’:50’’) Bestiaire ou Le Cortège d'0rphée | Bestiary or the Parade of Orpheus
LETTERA AMOROSA (5’:20’’) «Lettera amorosa» | »Lettera amorosa»
PASSEIO COM JOHNNY GUITAR (3’ :30’’) Promenade avec Johnny Guitar | A walk with Johnny Guitar
Festival de Cannes 1996 - Selecção Oficial
- 1997
LE BASSIN DE J.W. (134’) Le Bassin de J.W. | Le Bassin de J.W.
Festival de Mar del Plata - Prémio FIPRESCI
- 1998
AS BODAS DE DEUS (150’) Les Noces de Dieu | The Spousal of God
Festival de Cannes 1999 - Selecção Oficial - Un Certain Regard
Festival de Mar del Plata – Prémio Ombu de Ouro
- 2000
BRANCA DE NEVE (75’) Blanche-Neige | Snow White
Festival de Veneza - Nuovi Territori
Festival de São Paulo
Festival de Frankfurt
- 2003
Vai e Vem (175’) Va et Vient | Come and Go
Festival de Cannes - Selecção Oficial fora de Competição Festival de Toronto - Secção "Masters"
[editar] Actor
- Vai e Vem, de João César Monteiro (2003);
- As Bodas de Deus, de João César Monteiro (1999);
- Le Bassin de J.W., de João César Monteiro (1997);
- A Comédia de Deus, de João César Monteiro (1995);
- O Bestiário ou o Cortejo de Orpheu, de João César Monteiro (1995);
- Lettera Amorosa, de João César Monteiro (1995);
- Passeio com Johnny Guitar, de João César Monteiro (1995);
- Rosa Negra, de Margarida Gil (1992);
- Paroles, de Anne Benhaïem (1992);
- Conserva Acabada, de João César Monteiro (1990);
- Recordações da Casa Amarela, de João César Monteiro (1989);
- Relação Fiel e Verdadeira, de Margarida Gil (1989);
- Doc's Kingdom, de Robert Kramer (1987);
- À Flor do Mar, de João César Monteiro (1986);
- A Estrangeira, de João Mário Grilo (1983);
- Amor de Perdição, de Manoel de Oliveira (1979);
[editar] Publicações
Teve colaboração vária em vespertinos como A República e o Diário de Lisboa e em revistas como Imagem, O Tempo e o Modo, &etc, Trafic e Les Cahiers du Cinéma. Foi redactor de um hebdomadário de espectáculos chamado O Cinéfilo, «mas o melhor foi o que, em liberdade plena, largou nas folhas do extinto &etc». Citação de João César Monteiro.
[editar] Livros
- Corpo Submerso (1959)
- Morituri te Salutant (1974)
- Le Bassin de John Wayne (1998)
- As Bodas de Deus (1998)
- Uma Semana Noutra Cidade (1999)
[editar] Retrospectivas
- Pesaro
- Dunkerque
- La Rochelle
- Paris
- Toronto
- Bolonha
- Turim
- Montpellier
- Calcutá
- Gijón
- Filmoteca de Madrid
- Centro Galego de Artes-Xunta da Galicia
[editar] Ver também
[editar] Ligações externas
- Biografia, filmografia, fichas técnicas, textos, festivais - pág web
- Autobiografia de João César Monteiro em Bibliomanias
- Eternuridade - artigo
- João César Monteiro na IMdb
- JCM e a Derradeira Imagem, texto de Augusto M. Seabra