Jean Rouch
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Jean Rouch (31 de Maio de 1917, Nigéria - 18 de Fevereiro de 2004), realizador e etnólogo francês, era filho do director do Museu Oceanográfico de Mónaco, Jules Rouch, que acompanhou Jean-Batiste Charcot numa das suas célebres expedições polares (Antártida,1908-1910). Foi aluno de Marcel Mauss (pai da moderna antropologia francesa) e de Marcel Griaulle (pioneiro do cinema etnográfico), que doucumentava suas pesquisas com imagens filmadas. Seguindo a vocação familiar e a inspiração dos mestres, Rouch apaixonou-se cedo pela África e cedo nela se embrenhou. Foi, em 1953, um dos fundadores do Comité do Filme Etnográfico, sediado no Museu do Homem, em Paris, e seria depois seu Secretário Geral. Era investigador do CNRS (Centre National de la Recherche Scientiphique) e, durante vários anos, foi presidente da Cinemateca Francesa. Foi laureado com o «Prémio Internacional da Paz» em 1993. Era pessoa de uma grande agilidade intelectual e reputado pelo dom da palavra.
Nas palavras de Jean-Luc Godard, Rouch foi um importante inspirador da Nova Vaga (Nouvelle Vague). É tido ainda como um dos "pais" do filme etnográfico pelo trabalho feito em África, especialmente na Nigéria e no Mali, a partir da anos 40 do século XX. Exercendo um olhar analítico sobre os costumes, tradições e rituais dos povos locais e, de um modo inovador, usando câmaras leves de 16mm, Jean Rouch, com uma grande liberdade de estilo perante os cânones tradicionais da prática etnográfica, alternando entre documentário e ficção, obteve o reconhecimento internacional de cineastas e de especialistas da sua área. É um dos fundadores e um dos primeiros teóricos da antropologia visual.
Certo dia do ano de 1954, de que Rouch por vezes falava, perante jovens africanos e intelectuais amantes do cinema e da etnografia, Marcel Griaulle pediu-lhe que destruísse - por o considerar cientificamente incorrecto - o documentário Les Maîtres Fous (Os Mestres Loucos), filme sobre um ritual de possessão de uma seita religiosa, pretensão que provocou acesa polémica e levou Rouch a afirmar que não se limitava a filmar documentos anónimos, feitos para arquivo e destinados a especialistas, mas sim e sobretudo que pretendia com os seus filmes dar a ver ao mundo costumes e práticas desconhecidas do Homem e ainda o modo como as sociedades e as culturas tradicionais africanas se transformam devido a agentes externos, neste caso o colonialismo inglês.
Jean Rouch realizou cerca de cento e vinte filmes. Faleceu, na sua derradeira visita a Áfica, num acidente de automóvel em Fevereiro de 2004, a 16 km da cidade de Birnin N'Konni na Nigéria e foi sepultado, como seria de seu gosto, em terras africanas.
Índice |
[editar] Principais longas metragens
)
- 1952 : Bataille sur le grand fleuve (Batalha no Rio Grande)
- 1955 : Les Fils de l'eau (Os Filhos da Água)
- 1957 : Jaguar
- 1958 : Moi un noir, (Eu, um Negro) - prémio Louis-Delluc, 1958
- 1959 : La pyramide humaine (A Pirâmide Humana)
- 1961 : Chronique d'un été (Crónica de um Verão), co-realizado com Edgar Morin. Prémio da Crítica do do Festival de Cannes.
- 1965 : Chasse au léon à l'arc - Leão de Ouro do Festival de Veneza, 1965) - (Caça ao Leão com Arco)
- 1967 - 1974 : Les fêtes du Sigui (As Festas do Sigui)
- 1970 : Petit à Petit (Pouco a Pouco)
- 1974 : Cocorico Monsieur Poulet (Cócórócó, o Senhor Frango)
- 1979 : Bougo, les funérailles du vieil Anaï (Bougo, o Funeral do Velho Anaï)
- 2003 : Le Rêve Plus Fort que la Mort (O Sonho, mais forte do que a Morte)
[editar] Curtas e médias metragens (lista parcial)
alguns FILMES REPRESENTATIVOS
- 1948 Les Magiciens de Wanzerbe (Os Mágicos de Wanzerbe). Ritos dos mágicos Songhay, na Nigéria
- 1948 Initiation à la danse des possédés (1949) uma mulher Songhai do arquipélago de Tillaberi é iniciada. Primeiro prémio no Festival do Filme Maldito em Biarritz, organizado por Henry Langlois e Jean Cocteau.
- 1951 : Bataille sur le grand fleuve (Batalha no Rio Grande).
- 1954 : Les Maîtres fous (Os Mestres Loucos) (1955). 36' e outras versões. Grande Prémio do Festival de Veneza (Filme Etnográfico - 1957). Ritual “selvagem” de um grupo de negros de uma seita religiosa da África Ocidental, operários em Acra, no Gana, que são possuidos pelo espírito dos Haukas, «os mestres loucos», numa representação de personagens associados ao poder colonial.
- 1962 : Abidjan, port de pêche (Adidjan, Porto de Pesca) (24’). Em Abidjan, pescadores e armadores expõem seus problemas, dificuldades e esperanças.
- 1962 : Les veuves de quinze ans (As Viuvas de Quinze Anos) - curta metragem para a série «Les adolescentes»). As yéyés françêsas. Jean Rouch observa o comportamento de duas jovens na sociedade yéyé parisiense, cujas aventuras seguimos. Uma é séria, a outra nem por isso.
- 1964 : La Gare du nord (A Gare do Norte). Ficção, em plano-sequência de cerca de 16 minutos, em Paris vu (Paris visto por Jean Rouch, Jean-Daniel Pollet, Jean Douchet, Eric Rohmer, Claude Chabrol e Jean-Luc Godard).
- 1965 : La Chasse au lion à l’arc (Caça ao Leão com Arco e Flecha).
- 1987 : Brise-glace (Quebra-Gelos).
Filmes sobre rituais Dogons (Mali).
- 1967 : L'enclume du Yougo (A Bigorna de Yougo) (38') Início das festas do Sigui. Homens rapados, vestindo indumentárias rituais do Sigui, entram na praça pública e dançam a dança da serpente, em honra dos “terraços dos mortos” importantes dos últimos sessenta anos.
- 1968 : Les danseurs de Tyogou (Os Dançarinos de Tyogou) (27'). Segundo ano do Sigui. Os homens preparam os paramentos do Sigui antes da procissão para as antigas aldeias, para depois virem dançar na praça pública. No dia seguinte, a caverna é preparada para a recepção da Grande Máscara, no final das cerimónias.
- 1969 : La caverne de Bongo (A Caverna de Bongo) (40'). Terceiro ano do Sigui. Os dignitários retiram-se por fim para a caverna de Bongo. Em torno do velho Anaï, no seu terceiro Sigui (passados mais de 120 anos), os homens preparam-se, antes de darem a volta ao campo de linhagem e de beberem cerveja, em comunhão.
- 1970 : Les clameurs d'Amani (Os Clamores de Amani') (35') Quarto ano do Sigui. Interrogado pelo chefe de Bongo, le « renard pâle » ( a raposa pálida) abre caminho ao Sigui de Amani. Precedido pelos anciãos, os homens do Sigui iniciam um itinerário sinuoso antes de entrarem na praça ritual.
- 1974 : L'auvent de la circoncision (O Alpendre da Circuncisão) (18') Sétimo e último ano das cerimónias do do Sigui, realizadas de sessenta em sessenta anos. Os três dignitários de Yamé vão ao Songo, às falésias, visitar os alpendres das cavernas cujas paredes se encontram cobertas de pinturas rupestres consagradas ao Sigui.
VER: imagens sobre o país Dogon de Huib Blom
Co-produção com Portugal :
- En Une Poignée de Mains Amies ( Com um Aperto de Mãos Amigas) - documentário de curta metragem sobre o Douro e o Porto, realizado em parceria com o cineasta português Manoel de Oliveira.
[editar] Mais informações
Em português :
- A Outra Face do Espelho artigo analítico “”online” sobre Jean Rouch de Ricardo Costa.
Em francês :
- Filmografia de Jean Rouch em France Culture .
- Biografia, filmografia e “links de Jean Rouch, na revista electrónica Kinok.
- Biografia e filmografia de Jean Rouch, no “site” do Comité du film éthnographique
- L'Homme Revue Française d'Anthropologie..
- Em 2005, Les Editions Montparnasse editaram um pacote de 4 DVDs com 10 filmes de Jean Rouch, iniciando com isso um trabalho de preservação e difusão da sua obra.
- uma análise dos filmes de Jean Rouch publicada por Les Editions Montparnasse.
- Jean Rouch, artigo biográfico “online” de Alfred Adler e Michel Cartry.
- Entrevista “online” de Gilles Mouellic
- Ver Cinéma Direct
- Ver ciné-transe - journal L'Humannité
- Ver La Mise-en-scène de la réalité - France Culture.
- Jean Rouch, maître du désordre (Jean Rouch, Mestre da Desordem) - Jornal "L’Humanité".
- Un cinéma en travail*, article par * Marc H. Piaulte..
- Paroles - entrevistas com Jean Rouch filmadas no Museu do Homem (1998), Paris, por Ricardo Costa.
Em inglês:
- TESE: Jean Rouch and the Genesis of Ethnofiction de Brian Quist.
[editar] Citações
- «Há dois modos diferentes de concebermos o cinema do real. O primeiro consiste em pretendermos dar a ver o real. O segundo em nos questionarmos sobre o problema do raeal. Havia, do mesmo modo, duas maneiras de conceber o cinema-verdade. A primeira consistia em fazermos surgir a verdade. A segunda em nos colocarmos o problema da verdade» -- Edgar Morin.