Jacinta Garcia Leal
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Jacinta Garcia Leal (Santana de Paranaíba, na década de 1850 - Santana de Paranaíba, em data desconhecida) foi um membro da família Garcia Leal e musa inspiradora do Visconde de Taunay para a escrita de seu livro Inocência.
Foi neta de um certo João Garcia Leal, este, por sua vez, provavelmente sobrinho-neto de Januário Garcia Leal Sobrinho.
Havia o Visconde de Taunay sido dado a tarefa de levar o relatório sobre a Retirada da Laguna à Côrte, no Rio de Janeiro. Partiu, em 17 de junho de 1867, das proximidades de Aquidauana, onde as tropas brasileiras estavam estacionadas após a fuga. Durante quarenta e seis dias, Taunay atravessou o sul de Mato Grosso e o interior do Brasil até a capital do Império. Foi, no entanto, no início de sua viagem, nos primeiros dias de julho de 1867, que alcançou Paranaíba e conheceu Jacinta Garcia Leal.
Ele conta em seu livro Reminiscências como conheceu a moça durante uma parada para descanso na residência do avô dela, João Garcia Leal:
"Dali a pouco, penetrava na saleta uma moça, na primeira flor dos anos, e tão formosa, tão resplandecente de beleza, que fiquei pasmado, enleado positivamente de boca aberta. Afigurava-se-me que um ente sobrenatural havia feito sua aparição e lembrei-me da frase tão exata e expressiva do grande Goethe, quando descreve a impressão que causara a entrada de Dorotéia numa sala: “Parecia que aquele ambiente acanhado se tornava imenso, e transformava-se num espaço enorme!" Tão clara a minha admiração que o velho pôs-se a rir: "- Então, acha bonita a minha neta?" "Com efeito" – foi só que pude responder a esta pergunta, tão singular, tão rara e digna de reparo naquelas distantes paragens. E com os olhos embelezados, segui todos os gestos daquela excepcional sertaneja, que não se mostrava lá muito acanhada. Os seus encantos revestiam aquele quartinho de chão batido de paredes nuas de indizível e estupendo prestigio. - "Daqui a três semanas – declarou-me o avô, casa-se com um primo. Mas o senhor quer ver que desgraça? A pobrezinha da inocente já está com o mal!..." E, levantando-lhe um maço de esplêndidos cabelos, mostrou-me o lóbulo da orelha direita tumefato e roxeado! Toda essa radiosa e extraordinária formosura estava condenada a ser pasto da repugnante lepra! A esta hora, passados tantos anos, que será feito da infeliz Jacinta,cujo desabrochar na vida se rodeara de tanta magia?! Ó poder da beleza! No momento em que escrevo este nome, reproduzo em imaginação aquela fisionomia doce, suave, sedutora, aquela cútis acetinada e alva, os olhos aveludados, grandes, cintilantes, o nariz de inexcedível correção quer de frente, quer de perfil, os lábios purpurinos a deixarem entrever dentes deslumbrantes!... Que admirável conjunto, minutos apenas contemplado e entretanto para sempre fixado na memória! Jacinta Garcia deu, pois, nascimento moral a Inocência. Não levei, porém, a exatidão e maldade a ponto de, também, desta fazer desgraçada morfética. Não! fora demais!"
Como explica o próprio Visconde de Taunay, ele não soube do destino de Jacinta Garcia Leal. De qualquer maneira, escreveria no ano de 1872 o livro inspirado por ela e pelas paisagens do sul de Mato Grosso.
[editar] Referências
Na Revita da Academia Sul-Matogrossense de Letras de número 9, de março de 2006, é feita uma homenagem a Jacinta Garcia Leal, ao Visconde de Taunay e ao livro Inocência, em que os acadêmicos Francisco Leal de Queirós e Hildebrando Campestrini contribuem com os artigos "O Nosso Romance" e "Taunay e Inocência", respectivamente. Ainda, a acadêmica Raquel Naveira contribui com o poema "Inocência", inspirado no célebre romance de Taunay.