Diário de um Sedutor
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O Diário de um Sedutor é um livro escrito pelo filósofo dinamarquês Soren Aabye Kierkegaard. Corresponde ao estádio estético da existência que o próprio Kierkegaard viveu, enquanto se entregava a uma vida boémia pelos salões e teatros de Copenhaga. O sedutor kierkegaardiano desempenha o seu papel na época da juventude, pautada pelos padrões da vivência estética, em que a ópera se revela mais real do que as próprias contingências do quotidiano com suas responsabilidades e deveres. De facto, o esteta rejeita o compromisso, move-se de uma forma subtil por entre os prazeres delicados da música e da arte e, nessa linha de acção, a mulher é simplesmente um dos pólos no conjunto de uma multiplicidade de prazeres. Johannes, o diarista desta obra, conta o modo como seduziu a inocente e pura Cordélia, os ardis de que se serviu para se insinuar na sua esfera social, o modo como lhe foi captando a atenção, principalmente quando se anulava enquanto espectador interessado, a astúcia que o fez cativar a tia para chamar a atenção da sobrinha e como, finalmente se tornou seu noivo. No entanto, esta assumpção do noivado não interessava ao nosso esteta, pois uma vez seduzida, qualquer jovem perde o interesse para o sedutor, pois o noivado e o casamento não podem inscrever-se nos contextos da fruição artística. Ele não quer possuir, muito menos conquistar ou conduzir até ao altar o objecto de sedução:o seu prazer reside no deleite de absorver o rubor da face da jovem enlanguescida,o tremor do lábio, o agitar dos cílios... e, embora Cordélia seja a protagonista por excelência desta obra, o certo é que Joahnnnes lança as suas redes sobre outras jovens,deleita-se, no mero fruir da contemplação, nessa "concupiscência espiritual" tão cara ao espírito superior do joven Sören. O noivado, porém, como antecâmara do casamento revela-se destruidor do espírito de pura estética que anima o sedutor Johannes e é por isso necessário que os liames se desatem, já que a hora de assumir compromissos ainda não chegou. Quando esse momento se anunciar, cessa de todo o espírito estético como cessa a fruição inefável dos actos de sedução:o esteta deve romper com a vida boémia, instalar-se no geral e renegar o donjuanismo que antes o animara.Sabemos que o jovem Sören tentou, em vão, aderir ao comprometimento ético com a bela Regina Olsen e, se não veio a consegui-lo não foi porque o motivasse o regresso à vivência própria do período estético - os saltos existenciais não se dão para trás - mas porque a sua vocação de pensador metafísico o atirou para a solidão da missão religiosa.