Reforma gregoriana
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A reforma gregoriana faz derivar erradamente o seu nome do Papa Gregório VII (1073-1085), visto que ele mesmo atribuia a autoria da reforma ao Papa São Gregório Magno I. Começou a ser posta em prática alguns anos antes, ainda sob o pontificado de Papa Leão IX 1049-1054, durante o qual o futuro Gregório VII (então apenas diácono Hildebrando da Toscânia) se tornou uma das mais reputadas figuras do Papado, já ensaiando a adesão à reforma.
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[editar] Moralização e regresso às origens do cristianismo
Tratou-se de um amplo conjunto de reformas destinado a fazer regressar a Igreja aos tempos primitivos de Cristo, dos Apóstolos e dos seus sucessores imediatos, por um lado, e por outro, propensa à afirmação do poder papal face ao poder feudal (que havia quase que privatizado a Igreja); pela conotação de "retorno às origens" e enfrentamento do poder temporal, a reforma gregoriana é vista hoje como a primeira grande revolução europeia. A reforma foi continuada e consolidada pelos eclesiásticos da Abadia de Cluny.
Do ponto de vista moral, a reforma gregoriana (ou "clunyana") passava pela condenação veemente das práticas de heresia, as quais são consequência da `investidura leiga´, ou da inflitração dos costumes pagãos dos bárbaros em meio aos dos cristãos romanos, depois do choque bélico dessas civilizações, que ocasionou a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, imposta pela vitória do rei germânico Odoacro. Dentre as mais condenadas estão a simonia (compra de cargos eclesiásticos, favorecida ao longo dos séculos precendentes pela privatização e feudalização da Igreja) e o nicolaísmo (concubinato dos padres católicos, que foi gradualmente desanconselhado até se tornar formalmente proibido).
Abolir estas práticas heréticas, implicava em reformar a Igreja e conferir ao papa o sumo poder na Europa; graças ao Dictatus Papae, tornnar-se-ia verdadeiramente o Chefe Supremo e absoluto da Igreja. A reforma gregoriana é considerada um marco no início da teocracia papal, considerando-se que o Papa estava acima de todos os homens e que ninguém, excepto Deus, podia julgá-lo; afirmava-se também que a Igreja não cometia erros -- quase um prenúncio da infalibilidade pontifícia declarada pelo Concílio Vaticano I. Aproveitando-se da doação de Constantino (provavelmente forjada em meados do século VIII, por alturas da coroação de Pepino, o Breve) o Papa julgou-se com direito de exercer as suas prerrogativas, não apenas espirituais, mas também temporais, em toda a Cristandade, isto é, em toda a Europa -- passava também a ter autoridade sobre o imperador, confirmando-o ou podendo depô-lo se não se comportasse como bom princípe cristão.
[editar] Imposição do poder papal sobre o temporal
A reforma visou também a levar o Patriarca de Constantinopla a aceitar o primado romano, o que foi contestado, e levou à excomunhão mútua de ambas as Igrejas em 1054, apenas cinco anos decorridos desde o início da reforma. Se no Oriente isto causou a separação definitiva entre Católicos e Ortodoxos, no Ocidente esta situação foi o estopim da célebre «questão das investiduras», que opôs o Papa ao Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, não só pela luta de ambos pelo supremo poder político da Europa (quem tinha poder sobre quem), bem como pelo direito da investidura dos bispos nas suas dioceses.
[editar] Os quatro concílios e a vitória do poder temporal
A luta entre o poder temporal e o poder espiritual prolongar-se-ia durante cerca de dois séculos, acabando eventualmente com a vitória dos reis face ao Papa, com sucessivas deposições e excomunhões: desde o imperador Henrique IV da Germânia(que pediu perdão ao Papa em Canossa, de tal forma que a expressão «ir a Canossa» se tornou proverbial) e da Concordata de Worms, a Frederico II da Alemanha, passando inclusivamente pelo rei português Sancho II; enfim, até o assassinato do arcebispo de Cantuária, Thomas Becket, na Inglaterra, são uma consequência das tentativas de impor a reforma. Desta luta, resultaria a separação, no mundo ocidental, entre o poder espiritual e o poder político, delineando-se assim claramente as atribuições de cada um.
Os quatro concílios de Latrão realizados ao longo de todo o século XII e início do XIII: (Latrão I (1123); Latrão II (1139); Latrão III (1179) e Latrão IV (1215), bem como o Primeiro Concílio de Lião (1245) foram o culminar de todo este processo reorganizativo da Igreja Católica na Idade Média.