Kublai Khan
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Kublai Khan, neto de Genghis Khan e filho de Tolui (o quarto filho de Genghis), foi o conquistador mongol responsável pela dominação total e reunificação da China, fundando a Dinastia Yuan. Criado por um tutor confucionista, Kublai mostrou-se um administrador capaz para os padrões mongóis, mas ineficiente para os padrões chineses. Tentou invadir o Japão, mas foi repelido pela frota japonesa e pelo tufão, conhecido mais tarde pelos japoneses como Kamikaze, ou "Vento Divino".
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[editar] Ascensão
Kublai nasceu durante a campanha de Genghis Khan à China, em 1215, na época dividida entre as dinastias Jin ao norte, e Song ao sul. Seu pai, Tolui, continuou a seguir Genghis em suas campanhas no Oriente Médio e na Ásia Central. Desde a juventude, fora treinado nas artes da guerra, como era usual entre os mongóis, mas também cresceu assessorado por conselheiros chineses, em especial um intelectual confucionista chamado Yao Ji. Kublai cresceu adquirindo modos e gostos tipicamente chineses. Ao contrário dos tradicionais líderes tribais mongóis, Kublai era culto, alfabetizado, e moldava-se com facilidade aos métodos estrangeiros, o que o tornou um político tão hábil quanto guerreiro.
Kublai permaneceu na China, participou da conquista do domínio Jin do norte, e comandou a campanha contra os Song. Como neto de Genghis Khan e principal conquistador do oriente, recebeu para si o título de Grande Cã em 1264, após a morte de seu irmão Mongke durante uma campanha contra os turcos mamelucos do Egito. Mas naquele tempo, o Império Mongol, dividido já desde a época de Genghis Khan em quatro canatos menores subordinados ao Grande Cã, também econtrava-se seriamente dividido por rixas políticas e religiosas. Os canatos do Il-Khan e da Horda Dourada opunham-se firmemente a Kublai (a partir de então, conhecido como Kublai Khan). O novo soberano praticamente abdicou de sua autoridade sobre o Império Mongol para concentrar-se em construir um novo e mais sofisticado império na própria China. Em 1271, Kublai Khan, com os Jin sob seu controle e os Song confinados a uma pequena área rebelde no sudeste, declarou-se Imperador da China e fundou a dinastia Yuan.
[editar] Conquistas e vida política
Kublai obteve seu poder sobre a China primeiramente graças às suas conquistas à frente do exército mongol. Seus hábitos e sua apreciação pela cultura chinesa inicialmente facilitaram o controle sobre o povo conquistado, embora os Song (que denominavam-se como os "verdadeiros chineses") considerassem o seu domínio um desastre para sua civilização.
Em 1260, com sua posição consolidada no norte, ordenou a construção de sua nova capital, Dadu, sobre as ruínas da antiga cidade de Zhengdu (destruída por Genghis), nos arredores da atual Beijing. A conquista do sul, porém, foi mais demorada, pois os cavaleiros mongóis encontravam dificuldades em operar nas plantações de arroz contra um inimigo mais numeroso e tecnologicamente mais avançado. Com apoio de novas hordas das estepes e breves alianças com reinos ao sul da China (persuadidos pela fama terrível dos mongóis), os Song foram finalmente derrotados, e a China inteira viu seu primeiro governante estrangeiro desde sua unificação no Século III a.C..
Kublai, no entanto, destacava-se de todos os outros líderes mongóis por sua predileção pela admnistração. Enquanto coordenava exércitos em campanhas ao sul, reorganizava a burocracia chinesa, importando burocratas turcos e persas para cargos públicos, extinguindo os tradicionais concursos que selecionavam jovens chineses para tais cargos. Além disso, isentava os mongóis de impostos e lhes conferia propriedades e direitos sobre rotas comerciais, o que criava uma elite numerosa e que pouco ou nada acrescentava à sociedade e aos cofres públicos.
Kublai procurou estimular a agricultura, mas seus pesados investimentos esbarraram na total inexperiência dos mongóis, tradicionalmente pastores nômades e caçadores, nesta área. Sua política econômica visava a aproveitar as vias de comunicação da China com o exterior para estimular o comércio, mas os benefícios conferidos aos comerciantes estrangeiros eram tantos que o império deixou de lucrar com essa atividade.
A ineficiência de Kublai era vista com maus olhos pelos chineses (agora relegados a posições mais baixas da esfera social, com liberdades restritas), posição agravada por suas práticas religiosas xamanistas que herdara das estepes, e que causava profunda desconfiança na população. Para atenuar a pressão interna, Kublai aplicava medidas imediatistas, como a doação de comida a vítimas de desastres naturais e rápidas campanhas militares contra Estados menores, sobretudo no Sudeste Asiático. Também tentou atenuar o abismo cultural entre chineses e mongóis empregando um monge tibetano para criar um alfabeto que combinasse as escritas chinesa e uigur usada pelos mongóis, mas essa nova combinação jamais teria aceitação popular.
Apesar da rejeição popular, Kublai via-se como um legítimo chinês. Seu palácio em Dadu era opulento, com paredes folheadas a ouro e prata, e numerosos adornos na forma de tradicionais leões e dragões. Kublai considerava-se como um "filho do céu", legítimo governante do "Reino do Meio" designado pelos deuses. A opulência de Kublai Khan e sua corte impressionou o jovem italiano Marco Polo, que foi contratado por Kublai por 17 anos como embaixador do Império e relatou tudo o que vira. As histórias de Marco Polo trouxeram à Europa os relatos mais ricos da nação mais avançada do mundo na época, e são até hoje uma das principais fontes de informação sobre Kublai Khan.
A "significação" de Kublai Khan, ainda formalmente considerado como o Grande Cã entre os mongóis, causava inquietação e revolta em vários cantos do imenso Império. Na antiga capital mongol de Karakoran (cidade que Kublai jamais sequer visitara), uma rebelião exigia a eleição de um novo Cã, e Kublai viu-se forçado a enviar seus exércitos para reprimir seu próprio povo.
[editar] Declínio no poder e legado
A pressão interna na China, provocada pelo descontentamento dos chineses conquistados, forçou Kublai a procurar em novas conquistas um artifício para desviar sua atenção dos problemas econômicos e expandir sua esfera de influência. Para tanto, empreendeu contínuas campanhas ao sul contra os reinos menores de Champa, Khmer, Java, Burma, entre outros. Entretanto, a força da cavalaria mongol, ágil em campo aberto, era quase inútil nas florestas densas das regiões tropicais, causando derrotas embaraçosas contra exércitos mal equipados e menos numerosos.
Kublai olhava para o Japão como uma possível fonte de riquezas, e os japoneses como um povo atrasado, fácil de ser conquistado. Em 1274, Kublai lançou ao mar uma numerosa esquadra de navios chineses e arqueiros mongóis, mas a missão foi um fracasso devido a um tufão que se abateu sobre o Mar do Japão, que os japoneses chamariam de Kamikaze, "Vento Divino", pois os livrara de uma invasão que poderia ter posto seu país sob controle mongol. O tufão também proporcionou ao Japão tempo para a construção de suas defesas. Em 1281, Kublai lançou mais um ataque, e desta vez a marinha japonesa encarregou-se de derrotar os invasores, escravizando e matando milhares de mongóis.
Kublai Khan morreu em 1294, aos 79 anos. Falhou em unir os mongóis sob seu reinado como Grande Cã, mas estabeleceu o padrão socio-político da China por quase um século. Seus sucessores da Dinastia Yuan, no entanto, eram governantes fracos e pouco interessados na administração do império, além da fatal falta de experiência administrativa dos mongóis, o que permitiu um crescimento na corrupção tanto da elite mongol como dos senhores de terra chineses, desvalorização do papel moeda chinês, a instituição de altos impostos para cobrir os gastos do governo com sua aristocracia e empobrecimento do campesinato. Estes fatores culminaram com um furor nacionalista chinês, resultando numa guerra civil no século seguinte, e em 1368 um exército camponês invadiu a capital Dadu, e o camponês chinês do sul, Zhu Yuanzhang, tornou-se o primeiro imperador da Dinastia Ming.
Apesar das desventuras, Kublai ficaria conhecido por feitos notáveis, como a reabertura e reforma das rotas comerciais em direção à China e das vias de comunicação internas (um eficiente sistema de correios, no modelo do antigo Império Persa, com estalagens posicionadas a um dia de cavalgada umas das outras, e milhares de cavalos descansados à disposição dos mensageiros), além da própria reunificação do Império, dividido entre os Jin e os Song havia mais de 3 séculos.
[editar] Ficção
Kublai Khan foi um personagem d'As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino, assim como Marco Polo.