Carl Gustav Jung
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Carl Gustav Jung (Kesswil, Basiléia, 26 de julho de 1875 - Küsnacht, 6 de junho de 1961) foi um psiquiatra suíço.
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[editar] Vida
[editar] Juventude
Ao longo da sua juventude interessou-se por filosofia e por literatura, especialmente pelas obras de Pitágoras, Empédocles, Heráclito, Platão, Kant e Goethe. Uma das suas maiores revelações seria a obra de Schopenhauer. Jung concordava com o irracionalismo que este autor concedia à natureza humana, embora discordasse das soluções por ele apresentadas. [1]
[editar] Primeiros estudos
Já estudante de medicina, decide dedicar-se à, então obscura, especialidade de psiquiatria, após a leitura ocasional de um livro do psiquiatra Kraff-Ebbing. Em 1900, Jung tornou-se interno na Clínica Psiquiátrica Burgholzli, em Zurique, então dirigida pelo psiquiatra Eugen Bleuler, famoso pela sua concepção de esquizofrenia.
[editar] Primeira ocupação, encontro com Sigmund Freud e polêmicas sobre nazismo
Em 1902 deslocou-se a Paris onde estudou com Pierre Janet, regressando no ano seguinte ao hospital de Burgholzli onde assumiu um cargo de chefia e onde, em 1904, montou um laboratório experimental em que implementou o seu célebre teste de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico. Neste interim, Jung entra em contato com as obras de Sigmund Freud (1856-1939). O primeiro encontro entre eles transformou-se numa conversa que durou treze horas ininterruptas. Porém, tamanha identidade de pensamentos e amizade não conseguia esconder algumas diferenças fundamentais. Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual, e Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo em si. O rompimento entre eles foi inevitável. Seria nos anos 30 do século XX que esta divergência atingiria o auge. Se por um lado os livros de Freud eram proibidos e queimados publicamente pelos Nazistas, sendo Freud obrigado a deixar Viena pouco depois da anexação da Áustria, doente, nos seus 80 anos, para se dirigir ao exílio em Londres enquanto que quatro irmãs suas não foram autorizadas a deixar a Áustria, tendo perecido no Holocausto nos campos de concentração de Auschwitz e de Thereseinstadt, por seu lado Carl Jung tornar-se-ia neste mesmo período uma das faces mais visíveis da psiquiatria "alemã" da época. Carl Jung, que alguns pretendem ter sido um simpatizante Nazista, assumiu em 1933, ano da chegada ao poder de Adolf Hitler a presidência da "Sociedade Médica Internacional Geral para a Psicoterapia", que contou como administrador, entre outros, de um sobrinho de Göring. No início de 1934, num artigo "Sobre a situação actual da psicoterapia", Jung afirma que o Judeu, como nómada, não pode jamais criar a sua cultura própria; para desenvolver os seus instintos e talentos tem de apoiar-se em um "povo anfitrião mais ou menos civilizado". Carl Jung viria mais tarde a deixar aquela organização. Ver: Jung and the Nazis (em inglês),Carl Gustav Jung y el Nacionalsocialismo (em espanhol)
Por outro lado, tem-se alguns eventos biográficos que mostram suas relações amistosas e profissionais com muitos Judeus, relações estas que não parecem indicar alguma atitude anti-semita. Em alguns documentos, afirmou num comentário de época sobre a cultura judaica que judeus em geral são mais conscientes e diferenciados, enquanto os 'arianos' comuns permaneceram próximos à barbárie (apud Lomeli, 1999).
A polêmica teórica mantida por Jung com Freud não chegou ao ponto de Jung fazer referências à origem religiosa ou racial de Freud, com vistas a conquistar a simpatia nazista. Nem no artigo de 1929, em que comparava as duas teorias (Gallard, 1994 apud Medweth, 1996), nem no discurso de Jung sobre Freud após a morte deste eminente pensador, em 1939, num momento que poderia ser propício a angariar aquele beneplácito (Medweth, 1996).
Sabe-se também que o obscurantismo atingiu obras de Jung que não interessavam ao regime nazista, tendo sido suprimidas em 1940 várias edições publicadas na Alemanha, e quando da invasão da França a Gestapo destruiu as traduções francesas da obra de Jung. (Medweth, 1996).
As primeiras providências de Jung quando assumiu a Überstaatliche Ärztliche Gesellschaft für Psychotherapie (Sociedade Médica Internacional para Psicoterapia), acumulando com a entidade Suíça, em 1933, foram:
- A reformulação dos estatutos, para evitar o controle hegemônico por alguma das sociedades nacionais; como a Sociedade Internacional congregava as Sociedades Nacionais da Alemanha, Dinamarca, Grã-Bretanha, Holanda, Suécia e Suíça, era importante evitar o domínio isolado de uma delas (apud Lomeli, 1999; McGuire e Hull, 1982), de modo que as demais tivessem participação adequada e dividissem as responsabilidades;
- A aceitação na Sociedade Internacional dos membros judeus e antinazistas expulsos da Sociedade da Alemanha (apud Lomeli, 1999; McGuire e Hull, 1982), de modo que eles podiam exercer o seu ofício em outros países e garantir a sua subsistência como profissionais qualificados.
Sobre o editorial nazista publicado na revista editada pela Sociedade Médica Nacional da Alemanha para Psicoterapia, Jung declarou várias vezes que ele não teve ingerência no episódio. Pelas amizades que tinha com muitos representantes das vítimas do preconceito nazista, e pelo conteúdo de sua obra, é extremamente improvável que ele concordasse intelectualmente com o seu conteúdo, sob pena de perder esses relacionamentos.
[editar] Reconhecimento internacional
Em 1938, quando Freud saiu de Viena para Londres, a Dra. Iolande Iacobi também emigrou para Zurique, continuou seus estudos com Jung e posteriormente foi uma das fundadoras do Instituto C.G.Jung, tendo escrito a introdução às obras completas de Jung. (McGuire e Hull, 1982, p. 52). Ainda nesse ano, a Universidade de Oxford, na Inglaterra, concedeu-lhe o título de Doutor Honoris Causa.
Em 1939 Jung renunciou à presidência da Sociedade Médica Internacional para Psicoterapia. Alegou que já tentara por duas vezes anteriores a renúncia, tendo permanecido apenas devido a pedidos dos representantes inglês e holandês, somente se retirando quando foram interrompidas as comunicações internacionais e a sua permanência não era mais necessária (apud Loneli).
Em 1946, em cerimônia realizada em Zurique, Winston Churchill pediu que o Dr, Jung compusesse a mesa e se sentasse a seu lado (Lomeli, 1999). Em abril desse ano Ernest Harms publicou um artigo cujo título é “Carl Gustav Jung – Defender of Freud and the Jews” na Psychiatric Quarterly (McGuire e Hull, 1982, p. 70).
Alguns dos seus mais devotados pupilos – Erich Neumann, Gerhard Adler, James Kirsch e Aniela Jaffe – eram Judeus (Medweth, 1996). - Citações: Lomeli, 1999; Medweth, 1996; McGuire, William e Hull, R.F.C. (1982). C.C.Jung: entrevistas e encontros. São Paulo: Cultrix.
[editar] Teorias
Anterior mesmo ao período em que estavam juntos, Jung começou a desenvolver uma sistema teórico que chamou, originalmente, de "Psicologia dos Complexos", mais tarde chamando-a de "Psicologia Analítica", como resultado direto de seu contato prático com seus pacientes. O conceito de inconsciente já está bem sedimentado na sólida base psiquiátrica de Jung antes de seu contato pessoal com Freud, mas foi com Freud, real formulador do conceito em termos clínicos, que Jung pôde se basear para aprofundar seus próprios estudos. O contato entre os dois homens foi extremamente rico para ambos, durante o período de parceria entre eles. Aliás, foi Jung quem cunhou o termo e a noção básica de "complexo", que foi adotado por Freud.
Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. Em sua teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos.
[editar] Últimos dias
Carl Gustav Jung morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa, nas margens do lago de Zurique, em Küsnacht após uma longa vida produtiva, que marcou - e tudo leva a crer que ainda marcará mais - a antropologia, a sociologia e a psicologia.
[editar] O funcionamento da psique
Para Jung, a psique humana é composta de vários estratos, ou instâncias, que interagem de forma variada no decorrer da vida. O ego, a sombra, a dupla animus-anima e o Si-mesmo são estratos que se expressam, interna ou externamente, para cada pessoa. Ao processo de integração desses estratos Jung chamou individuação.
Ao estudar a tipologia humana na literautura e na história, Jung chegou à definição de quatro tipos clássicos: o pensativo e o sentimental, em que uma destas duas funções racionais predomina, e o perceptivo e o intuitivo, em que predomina uma destas duas funções irracionais (no sentido em que são funções de apreensão do dado, sem mediação da razão). Estes quatro tipos básicos são modificados pela disposição primária da psique para a introversão ou a extroversão da energia psíquica.
Cada pessoa desenvolve uma função dominante de relacionamento com o mundo interno e externo, e outra função secundária. Algumas pessoas desenvolvem uma terceira função, mas a individuação requer que se integre também a quarta. Por isto, surge a necessidade da função simbólica: a quarta função sendo antagônica às dominantes, sua integração exige um função psíquica que integre razão e irracionalidade. Daí a necessidade dos mitos e da arte.
[editar] Sincronicidade
Um outro conceito proposto por Jung foi o da Sincronicidade, como uma tentativa de encontrar formas de explicação racional para fenômenos que a ciência de então não alcançava. Eventos como premonições, por exemplo. Para uma abordagem sobre a construção do conceito veja-se Capriotti, Letícia. Jung e sincronicidade: a construção do conceito), e uma explanação sintética e didática de sincronicidade, veja-se Capriotti, Letícia. Jung e sincronicidade: o conceito e suas armadilhas.)
A construção do conceito de sincronicidade surgiu da leitura que Jung fez de um grande número de obras sobre alquimia e o pensamento renascentista. Jung chegou a possuir grande quantidade de textos alquímicos originais, que o levaram também a usar a expressão Unus Mundus em sua autobiografia, e a idéia de Anima Mundi.
Uma interessante análise da contribuição da psicologia profunda de Freud – Jung para a formação do pensamento ocidental, mostrando como Jung tinha preocupações epistemológicas rigorosas pode ser vista em Tarnas. Em função disso, tais fenômenos puderam ser examinados, mas apenas como algo psicológico, e não propriamente da natureza, resultando em algumas distorções interpretativas, em inúmeros sentidos.
A partir da contribuição de Jung, vários desenvolvimentos em diferentes áreas do conhecimento têm ampliado a compreensão da relação entre os processo psíquicos e o mundo exterios. O conceito de inconsciente coletivo encontra ecos na nova física de Bohm e Capra, nos campos morfogenéticos de Sheldrake, nas psicologia profunda e na ecopsicologia norte-americanas.
[editar] Imagens do inconsciente
No Brasil, Jung teve uma conhecida aluna, a Dra. Nise da Silveira, fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente. Ela escreveu, dentre outros, o livro “Jung: vida e obra”, publicado em primeira edição em 1968.
[editar] Obras
Devido à metodologia usada por Jung, seus escritos costumam ser de leitura difícil e penosa. É recomendável iniciar por algum de seus comentadores, como Nise da Silveira (Jung: vida e obra) e Aniela Jaffe (Memórias, sonhos e reflexões de C. C. Jung). Sobre este, um comentário.
Eis abaixo, a lista das obras de Jung, publicadas em português no Brasil:
- A Energia Psíquica.
- A Prática da Psicoterapia.
- A Vida Simbólica: Escritos Diversos.
- Ab-reação, análise dos sonhos, transferência.
- Aion: Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo.
- Cartas de Carl Gustav Jung.
- Escritos Diversos.
- Estudos Alquímicos.
- Estudos Experimentais Vol. II.
- Estudos Experimentais.
- Estudos Psiquiátricos.
- Eu e o Inconsciente.
- Freud e a Psicanálise.
- Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade.
- Memórias, Sonhos e Reflexões. Autobiografia escrita em conjunto com Aniela Jaffé.
- Misterium Coniunctionis 1.
- Misterium Coniunctionis 2.
- Misterium Coniunctionis 3.
- O Desenvolvimento da Personalidade.
- O Homem e seus Símbolos. Obra para leigos, organizada por Jung e escrita por ele e seus colaboradores, com artigos de Aniella Jaffé, Marie-Louise fon Franz e outros.
- O Segredo da Flor de Ouro: Um Livro de Vida Chinesa.
- Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo.
- Presente e Futuro.
- Psicologia da Religião Ocidental e Oriental.
- Psicologia do Inconsciente.
- Psicologia e Alquimia.
- Psicologia e Religião Oriental.
- Psicologia e Religião.
- Símbolo da Transformação na Missa.
- Símbolos da Transformação: Análise dos Prelúdios de uma Esquizofrenia.
- Sincronicidade.
- Tipos Psicológicos.
[editar] Ver também
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